Volkmar Denner, diretor-presidente da gigante de engenharia e manufatura Robert Bosch GmbH, está tentando unir a alardeada perícia industrial da Alemanha com o conhecimento que os americanos têm da internet.
Denner está apostando que o futuro de sua companhia — um dos maiores conglomerados familiares do mundo, que produz de eletrodomésticos e autopeças a ferramentas industriais e sistemas de monitoração — depende da chamada “internet das coisas”. Ele deseja conectar aparelhos e objetos de uso cotidiano à internet, ajudando na proliferação das casas e carros “inteligentes”. E ele quer digitalizar a manufatura da Bosch, criando fábricas “inteligentes”.
Ao contrário de muitos executivos e políticos alemães que veem o Google Inc. GOOGL -1.63% e o Vale do Silício como ameaças, Denner diz que os fabricantes alemães podem aprender com as empresas de internet dos Estados Unidos. Ele até irritou alguns na Alemanha ao se juntar a uma iniciativa de internet liderada pelos EUA.
A lição americana para as empresas tradicionais alemãs é “aumentar a velocidade” adotando, ao mesmo tempo, um “espírito inovador”, disse Denner em uma entrevista ao The Wall Street Journal.
Isso significa uma maior predisposição para errar e aprender com os erros. Se uma empresa é “muita voltada para a execução, baseada em reflexão, análise e planejamento”, disse Denner, “o fracasso geralmente não faz parte da história”. Algumas divisões da Bosch têm pouca tolerância ao fracasso. Mas, em áreas ligadas à tecnologia de internet, “esse é simplesmente o padrão”, disse.
Denner, que está na Bosch há quase 30 anos e assumiu o cargo principal em 2012, usou esse padrão para montar as operações de software da Bosch através de aquisições recentes. Seu objetivo é recriar a Bosch como uma empresa igualmente dividida entre um grupo de tecnologia da informação e outro de manufatura. A Bosch registrou vendas de 49 bilhões de euros (US$ 54,7 bilhões) no ano passado, ante 71,9 bilhões de euros que sua concorrente Siemens AG SIE.XE -0.96% faturou no ano fiscal de 2014.
Em fevereiro, a Bosch divulgou que iria comprar a ProSyst Software GmbH, uma fabricante de software para dispositivos inteligentes que é sediada em Colônia e tem 110 funcionários. A Bosch afirmou, em março, que ia contratar mais 12 mil novos empregados, “um número crescente” deles para a unidade de software. A empresa agora possui 3 mil engenheiros de software trabalhando na “internet das coisas”.
Esses engenheiros não vão só fazer programas para a Bosch. Denner pretende promover a companhia criando plataformas de software que outros poderão acessar facilmente e adaptar. A Bosch, a americana Cisco Systems Inc., CSCO 0.00% que fabrica equipamentos de rede, e a empresa de engenharia suíça ABB Ltd. ABBN.VX -1.22% criaram, no ano passado, a Mozaiq Operations GmbH, uma joint venture que está projetando uma plataforma de software aberto para aparelhos e aplicativos de casas inteligentes.
“Tudo o que fazemos nesse mundo conectado tem que ser aberto”, disse Denner.
A Bosch também desenvolveu sua própria plataforma para fábricas inteligentes, chamada IOT Suite, que permite que as empresas conectem a produção de máquinas a uma nuvem segura e se beneficiem do aplicativo de “Processamento de Big Data”, da Bosch, para analisar os grandes volumes de dados gerados.
A plataforma é um “produto realmente competitivo”, mas concorrentes como a General Electric Co. GE -0.06% e a SAP SE, SAP.XE -1.84% gigante do software corporativo, também estão “trabalhando em grandes iniciativas nessa área”, diz Martin Junghans, pesquisador sênior do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe.
Um ponto forte da Bosch, diz Junghans, é que sua abordagem cobre “todo o espectro” — potencialmente desde lava-louças inteligentes até as máquinas industriais que os fabricam. A maioria dos sistemas dos concorrentes se concentra apenas na produção, diz Junghans.
A disposição de Denner para trabalhar com potenciais concorrentes de outros países contrasta com a postura doméstica do governo alemão em relação à internet industrial.
Berlim está liderando uma iniciativa pública e privada conhecida como “Industrie 4.0”, que tem a meta de criar a “quarta revolução industrial” ao conectar a internet das coisas à produção industrial, o ponto forte da economia alemã.
O “Industrie 4.0 é um foco importante para o governo alemão já que tem uma significância enorme para nosso país como uma base manufatureira”, diz Matthias Machnig, secretário de Estado do Ministério da Economia e Energia da Alemanha.
Se o setor industrial alemão — que responde por 22% da produção econômica do país, contra 12% dos EUA — não se digitalizar, pode acabar vendo “um declínio de seu valor industrial” de cerca de 220 bilhões de euros (US$ 245 bilhões) até 2025, segundo estudo recente da Consultoria Estratégica Roland Berger. Se tiver sucesso, o setor deve agregar 425 bilhões de euros em valor até 2025, concluiu o estudo.
O Industrie 4.0, que inclui as principais empresas industriais alemãs, pretende fortalecê-las contra a renascente indústria americana e os fabricantes de menor custo dos mercados emergentes. Mas a Bosch incomodou as autoridades do governo no ano passado quando se tornou a primeira empresa alemã a se unir a uma iniciativa semelhante liderada pelos EUA, o Consórcio da Internet Industrial (ou IIC, na sigla em inglês). O IIC foi fundado por empresas americanas como Cisco e GE.
Denner disse que tanto o Industrie 4.0 como o IIC trazem benefícios para a Bosch. O Industrie 4.0 prioriza a criação de normas comuns, enquanto a organização americana é mais “pragmática” e se concentra em experiências, explicou ele.
Como parte da primeira série de testes públicos do IIC, anunciada em fevereiro, a Bosch se uniu à Cisco e à Tech Mahindra Ltd. 532755.BY -1.11% , firma indiana de serviços de informática, para desenvolver uma tecnologia de posicionamento que pode rastrear digitalmente uma ferramenta na fábrica que tem uma conexão sem fio com a internet.
O diretor executivo do IIC, Richard Mark Soley, diz que a organização não define normas e, assim, é compatível com a iniciativa do governo alemão. Mas ele acrescentou que foi preciso muito esforço para convencer as autoridades alemãs, que queriam garantias de que o ICC “não vai enfraquecer o Industrie 4.0”.
Machnig disse que o governo alemão está “em geral aberto a cooperar” com o IIC. “As duas iniciativas irão naturalmente se diferenciar”, disse. “A indústria alemã é particularmente forte quando se trata de processos industriais, mas precisa se atualizar” em algumas tecnologias, enquanto a situação americana pode ser o contrário, disse ele.
Denner disse que a questão sobre quem irá dominar a internet industrial permanece aberta. “Não é certeza que as empresas baseadas em tecnologia da informação que não possuem presença no mundo físico dominarão aquelas do mundo físico que estão migrando para o mundo conectado”, disse ele.
A Bosch está presente no Brasil desde 1954 e tem 8.900 funcionários em dez localidades no país, segundo o site da empresa. A unidade brasileira gera uma receita anual de R$ 4,4 bilhões. Por CHRISTOPHER ALESSI, de Stuttgart, Alemanha CONNECT Leia mais em The Wall Street Journal 12/05/2015
12 maio 2015
A alemã Bosch planeja reinventar-se com a ajuda da ‘internet das coisas’
terça-feira, maio 12, 2015
Compra de empresa, Plano de Negócio, Tese Investimento, TI, Transações MA, Venda de Empresa
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Ruy Moura
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