20 maio 2015

Hospital filantrópico avalia alternativas para receber capital

Os hospitais privados filantrópicos estão analisando os impactos e os mecanismos legais para serem beneficiados também pela legislação, aprovada em janeiro, que permite a entrada de capital estrangeiro no setor.

A lei não proíbe aportes nessas instituições, mas seu potencial de atrair investidores, em tese, é pequeno. Como não têm fins lucrativos, todo o superávit obtido precisa ser reinvestido em suas atividades, em vez de retornar como ganho ao acionista.

Segundo Renato Nunes, advogado especializado em saúde do escritório Nunes & Sawaya, um caminho é transformar uma das unidades do hospital filantrópico em uma sociedade com fins lucrativos para receber o aporte. "Há algumas dúvidas como, por exemplo, se essa unidade poderá compartilhar o 'back office' com o hospital filantrópico ou sobre os tributos trabalhistas dos funcionários desta unidade", diz Nunes. Ele conta que hoje grande parte das consultas feitas ao escritório estão relacionadas à legalidade desse tipo de investimento. O assunto foi um dos temas debatidos, ontem, em um seminário com representantes de bancos, consultorias, hospitais e investidores, que ocorreu durante a Feira Hospitalar, em São Paulo.

Hoje os hospitais Sírio-Libanês e Samaritano (ambos filantrópicos) não têm projetos envolvendo capital estrangeiro, mas seus superintendentes analisam caminhos viáveis para receber esse tipo de investimento. Paulo Chapchap, do Sírio-Libanês, diz que uma possibilidade é prestar consultoria ou gerenciar negócios de saúde adquiridos por fundos de 'private equity'. "A curto prazo, acredito que os filantrópicos privados não serão afetados, mas no longo prazo haverá, sim, impacto", afirma.

Para Luiz De Luca, do Samaritano, de São Paulo, investir num hospital brasileiro sem fins lucrativos pode servir para o estrangeiro conhecer o mercado nacional. "Provavelmente, não será um aporte alto, mas uma alternativa para troca de experiências e até uma oportunidade para o hospital brasileiro se internacionalizar", diz De Luca.

"Nos Estados Unidos, os hospitais filantrópicos também fazem aquisições, investem em gestão para ter melhor eficiência", lembra Rodrigo Pavan, executivo da área de saúde do BTG, um dos acionistas da Rede D'Or. Há cerca de 20 dias, o fundo americano Carlyle fez um aporte de R$ 1,75 bilhão por uma fatia de 8% da Rede D'Or.

Apesar de muito maior, o mercado americano, cujas despesas anuais com saúde giram na casa dos US$ 3 trilhões, serve de referência para o Brasil, uma vez que os dois países têm sistemas público e privado. Os gastos com saúde aqui somam mais de R$ 400 bilhões por ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com Jorge Moll, fundador da Rede D'Or, maior grupo hospitalar do país, o setor vai passar por uma profunda mudança e os hospitais pequenos e sem fins lucrativos vão enfrentar dificuldades sem um parceiro financeiro. O responsável pela área de fusões e aquisições da Rede D'Or, Carlos Costa, acredita que os ativos sejam negociados por um valor equivalente a oito ou nove vezes seu Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização).

O presidente da Anahp, associação que representa 70 hospitais, Francisco Balestrin, é um defensor do capital estrangeiro no setor. "Hoje, é muito difícil um hospital pequeno sobreviver, negociar com as operadoras de planos de saúde. Haverá uma profissionalização", disse. Segundo fontes do setor, Balestrin negocia com fundos de private equity a venda do controle do Grupo Vita, do qual é acionista.   Beth Koike   Fonte: Valor Econômico Leia mais em tudofarma 20/05/2015

20 maio 2015



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