01 maio 2015

Um desafio para o Yahoo: manter o talento que adquiriu com as “startups” que comprou

A diretora-presidente do Yahoo, Marissa Mayer, gastou US$ 2,1 bilhões para adquirir 52 firmas novatas em menos de três anos. Reuters

Algumas vezes por ano, o Yahoo Inc. YHOO -0.13%  organiza jantares para empreendedores que venderam suas “startups” para a empresa de internet e ainda trabalham nela.

Os jantares são uma chance para as mais de 50 jovens estrelas — como Nick D’Aloisio, o prodígio de 19 anos que vendeu o Summly, um aplicativo que agrega notícias, para o Yahoo por US$ 30 milhões — trocarem dicas de como se orientar dentro de uma grande empresa. Às vezes, eles também manifestam suas frustrações para a diretora-presidente, Marissa Mayer, dizem pessoas que já participaram desses encontros.

Manter esse grupo feliz, apelidado de Founders (Fundadores), é vital para Mayer, que se valeu de pequenas aquisições para recompor a sua força de trabalho e salvar a companhia da irrelevância na internet. Em menos de três anos, a executiva gastou US$ 2,1 bilhões para adquirir 52 firmas novatas, um número maior de negócios do que o feito no período por qualquer outra empresa de tecnologia exceto o Google Inc., GOOGL +0.44%  de acordo com a provedora de dados CB Insights.

Mayer defende a estratégia como necessária para revitalizar uma equipe que era muito dependente do estagnado negócio original da empresa. Embora a executiva tenha cortado quase 3 mil postos de trabalho desde 2012, ela acrescentou cerca do mesmo número no mesmo período, muitos deles por meio das aquisições.

“Se você olhar os feitos de algumas das pessoas que foram integradas pelo Yahoo, você argumentaria que a empresa tem sido incrivelmente bem-sucedida em ajudar a mudar os produtos”, diz Jacqueline Reses, diretora de desenvolvimento do Yahoo e responsável por supervisionar as aquisições.

À medida que a reviravolta no Yahoo promovida por Mayer demora para acontecer, o desafio dela será reter uma gama de engenheiros, designers e gerentes de produtos provenientes das aquisições e que podem achar a vida na gigante americana de tecnologia — com seus 12 mil funcionários — pouco atrativa comparada a uma firma novata.

“O Yahoo é lento para mudar e burocrático, e isso pode facilmente frustrar pessoas de startups acostumadas a fazer as coisas rapidamente, sem ter que perguntar ao RH ou ao jurídico”, diz John Sullivan, professor de gestão na Universidade Estadual de San Francisco.

O Yahoo perdeu naturalmente parte dos talentos que adquiriu. Pelo menos 16 pessoas, ou cerca de 20%, dos mais de 70 fundadores e diretores-presidentes das novatas que se juntaram ao Yahoo por meio de aquisições durante a gestão de Mayer deixaram a empresa.

Entre os cofundadores que saíram estão Eric Vishria, que criou a Rockmelt e deixou o Yahoo para se tornar um capitalista de risco na Benchmark, e o cofundador da Lexity, Amit Kumar, que saiu para criar um aplicativo para relacionamento profissional.

“Porque o Yahoo é uma companhia tão grande, o foco para certos grupos era manter e expandir os negócios existentes”, diz Kumar, que vendeu a Lexity para o Yahoo em 2013, mas deixou a empresa um ano depois porque foi colocado no comando de uma divisão de negócios de baixo crescimento. “A situação era mais uma questão de dar uma reviravolta [na empresa] do que de criar novos produtos e serviços.”

Outros fundadores, que pediram para não ser identificados porque se comprometeram a não discutir suas saídas do Yahoo, dizem que foi difícil se sentirem motivados a ajudar na reviravolta tentada por Mayer. Eles citaram várias frustrações, inclusive projetos que foram adiados ou cancelados pela direção ou bloqueados por grupos concorrentes dentro da empresa.

O Yahoo, por sua vez, afirma que se esforçou para reter os fundadores que herdou ao dar a eles papéis na empresa adequados à sua experiência. “Queremos que eles sejam missionários, não mercenários”, diz Reses.

Reses menciona vários empreendedores que cresceram no Yahoo desde que venderam suas startups para a empresa. Entre eles estão Jeff Bonforte, que hoje supervisiona os produtos de correspondência e mensagens, e Simon Khalaf, recém-promovido à direção da homepage do Yahoo. Uma equipe liderada por Arjun Sethi, o fundador da fracassada startup de mensagem MessageMe, está agora montando um novo produto de mensagens em dispositivos móveis que a empresa espera que concorra com serviços como o WhatsApp, do Facebook Inc. FB +0.28%

De modo geral, os fundadores estão trabalhando para ajudar a reverter a perda da receita do Yahoo com anúncios digitais, iniciada há dez anos, para os rivais Google, Facebook e Twitter Inc. TWTR -2.87%

Na semana passada, o Yahoo divulgou que sua receita no primeiro trimestre caiu 4% em relação ao mesmo período de 2014, para US$ 1,04 bilhão, excluindo comissões pagas a parceiros de buscas na internet. Mayer vem tentando compensar o declínio do negócio de anúncios de imagem em computadores investindo em áreas como dispositivos móveis, vídeo, redes sociais e publicidade nativa. O grupo móvel, composto em grande parte por equipes provenientes de aquisições, gerou US$ 234 milhões em receita no primeiro trimestre, 61% acima de um ano atrás. Mas, no mesmo período, a receita total com anúncios do tipo display — incluindo dispositivos móveis — recuou pelo quarto trimestre seguido.

A tendência do Yahoo para comprar startups e fechá-las vem sendo criticada pelo fundo ativista Starboard Value LP, que tem uma participação na empresa. Ele argumenta que “muitas das firmas adquiridas estavam, e ainda estão, perdendo uma quantidade considerável de dinheiro”.

Embora a empresa tenha recebido uma soma considerável com a venda de sua participação no Alibaba Group Holding Ltd. BABA -0.15%  , Mayer vem sendo pressionada por investidores a não gastar muito com grandes aquisições. O Yahoo tinha US$ 5,29 bilhões em caixa e ativos de curto prazo no fim de março.

A maioria dos gastos com aquisições do Yahoo foram para comprar apenas três empresas — Tumblr, por US$ 990 milhões, o serviço de anúncios de vídeo Bright Roll, por US$ 583 milhões, e a rede de anúncios móveis Flurry, por US$ 270 milhões. As outras 49 aquisições totalizaram US$ 352 milhões. Por DOUGLAS MACMILLAN CONNECT Leia mais em Trewallstreetjournal 01/05/2015

01 maio 2015



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