28 maio 2012

Os cuidados para captar investimento internacional

O empresário Daniel Wjunski conta que percebeu uma oportunidade de negócio quando descobriu que era portador de uma doença crônica. “Procurei mais informações na internet e não achei nada em português.” Para preencher essa lacuna, criou o portal Minha Vida, com informações sobre saúde, alimentação e bem-estar.

Hoje, oito anos depois, o portal tem 14 milhões de usuários cadastrados e seu programa de dietas cresceu 220% nos últimos dois anos. Atualmente, o site oferece mais de 10 mil textos e vídeos criados por equipe interna e conta com a contribuição de 200 profissionais de saúde. Para dar continuidade a “sua missão” de democratizar informações de saúde por meio da internet, Wjunski recebeu em março aporte da Intel Capital e da Endeavor Catalyst.

Com o investimento, o empresário está desenvolvendo uma plataforma de agendamento de consulta médica online, por meio da qual será possível filtrar o médico por região, plano de saúde e especialidade. “Parte do dinheiro é usada para adquirir e traduzir o conteúdo da área médica de bibliotecas internacionais e de universidades renomadas. O de Harvard já está no ar.”

Obter investimento internacional, porém, requer certos cuidados. “A primeira coisa que os investidores querem entender é como o dinheiro será usado e quando o negócio vai atingir escala, ou seja, quando a empresa vai dar aquele salto em número de usuários e no faturamento”, diz o gestor de tecnologia da informação do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), Franco Margonari Lazzuri. “Uma coisa que os brasileiros não estão acostumados é focar em uma só ação”, ressalta Lazzuri. Segundo ele, planejar várias ações é o que mais afasta o investidor.

A gerente de serviços a empreendedores da Endeavor, Pamela Gonçalves, recomenda que, antes de procurar investidores, o empreendedor organize as finanças da empresa. “É muito importante ter números confiáveis nos quais o investidor vai se embasar para avaliar o negócio.” Pamela endossa a colocação de Lazzuri, e acrescenta: “O investidor também gosta de saber a diferença que esse valor trará para o negócio”.

Experiente, Daniel Wjunski afirma que primeiro é preciso executar bons projetos e ter números para mostrar.” Ele considera importante produzir material de apresentação da empresa, mostrar o tamanho do mercado e seu posicionamento, detalhar o que já foi conquistado e os planos para o futuro. Wjunski recomenda, ainda, que o empresário identifique os principais fundos que investem em seu segmento e o que eles trariam de benefício, além do dinheiro.

A etapa seguinte, segundo ele, é conversar com cada um deles e criar um processo competitivo antes de definir qual é o mais interessante.

O fundador da APPI Tecnologia S/A, Alexandre Pi, está em pleno processo de busca de investidores. A empresa foi criada em 1993 e oferece soluções de conectividade a diversos segmentos, “Nós iniciamos um projeto na área de saúde que está indo muito bem, mas para expandir precisamos de uma injeção de capital.” Pi contratou um especialista em captação de recursos para negociar e avaliar qual proposta é mais interessante. “Eu converso e convenço os investidores, mas quem negocia é ele.”

Segundo Lazzuri, do Cietec, os fundos estão vindo com muita frequência para o Brasil e a competição aumentou muito. “Mas ainda temos um déficit grande de pequenos investidores, ou investidor anjo, que é aquele que vai ajudar com o primeiro investimento de R$ 200 mil a R$ 400 mil, para que a empresa consiga ter o primeiro acesso ao mercado e possa testar o produto de forma eficiente.”

Lazzuri conta que esteve na Califórnia (EUA) para conversar com alguns fundos e entender como eles enxergam as start up brasileiras.

“Estive com investidores que atuam no Vale do Silício, em São Francisco e em Palo Alto. Vi muitos exemplos que comprovam que ter acesso a dinheiro lá fora é muito mais fácil. Conheci, inclusive, o dono de uma oficina mecânica que já investiu em três start up, lá isso é natural.”

Na opinião de Pamela, a alta do dólar e a situação atual da economia não devem afetar os investimentos em empresas brasileiras, porque o mercado internacional está muito afetado pela crise. Para Lazzuri, o aumento do dólar vai ajudar a trazer investimento em serviços online. “O grande entrave para não acelerar tanto é que os investidores acham complicado o modelo tributário e jurídico do Brasil.” Por Cris olivette
Fonte: O Estado de São Paulo 27/05/2012

28 maio 2012



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