24 maio 2012

Os centavos que valem alguns milhões

Com seis meses de negociação na bolsa, as ações da RJCP Equity, uma empresa de participações pré-operacional, movimentam, em média, perto de R$ 500 mil por pregão, volume financeiro superior ao de companhias como Trisul, Cremer, Providência, Log-in e Rodobens.

 Neste ano, os papéis da gestora, que investe em companhias iniciantes, foram negociados em todos os pregões, algo que só aconteceu com cerca de 200 ações, das mais de 600 acompanhadas pela consultoria Economática.

 A empresa foi para a bolsa discretamente, sem fazer uma oferta pública de ações. Também não entrou em nenhum dos chamados níveis de governança da BM&FBovespa. Ficou mesmo no mercado "tradicional".

 As ações valem centavos - R$ 0,09 - ontem, o que atrai investidores pessoa física, que talvez nem conheçam o que faz a Rio de Janeiro Capital Partners, muito menos que ela é controlada por Marcelo Bastos, empresário que foi sócio de Luiz Cezar Fernandes, ex-Pactual, no grupo Marambaia.

 Desde 2007, eles tentaram investir em energia, açúcar e álcool, mas sem êxito por problemas atribuídos à piora do cenário global de negócios para o setor. Um projeto inicial envolvia biocombustíveis. Há cerca de dois anos a Marambaia desistiu de adquirir cinco usinas do grupo J. Pessoa por falta de capital.

 A proposta da RJCP também é energia, em particular em projetos de inovação e ligados à sustentabilidade. Esse setor é a área de expertise dos sócios, embora outros segmentos não estejam descartados. Estão no foco companhias em estágio inicial, que ainda não entraram no radar dos fundos de investimento em participações, os chamados "private equities".

 "Os projetos de açúcar e álcool são de maior envergadura e exigem investimentos maiores. A RJCP busca projetos menores, em que podemos investir com capital próprio", conta Bastos, que antes de entrar na Marambaia dava consultoria, em Nova York, a empresas em busca de parcerias internacionais para distribuição, tecnologia e capital.

 "Por conta de nossa limitação de recursos, atuamos nesse nicho", diz Fernando Moreira Ribeiro, sócio-diretor da RJCP, que veio da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). "No momento, buscamos [empresas iniciantes], com foco em projetos inovadores e de alta tecnologia."

 Investir em inovação embute riscos elevados, já que é difícil determinar qual será o retorno do investimento e também se mais em recursos serão necessários.

 Na metade do ano passado, a empresa recebeu um aporte de um grupo de investidores - valores e nomes não são revelados.

 Os novos sócios ficaram com cerca de 30% da companhia e, em outubro, eles mesmos colocaram suas ações na bolsa, passando a negociá-las com terceiros. A forte movimentação diária dos papéis atraiu até o Bradesco, que se ofereceu - e foi contratado - para ser formador de mercado das ações.

 "A negociação com nossas ações tem superado todas as expectativas", diz Ricardo Bueno Saab, diretor de relações com investidores da RJCP. "São cerca de 1,3 mil CPFs. É mais que o dobro das nossas expectativas mais otimistas."

 Atualmente, cerca de 15% do capital da empresa está circulando na bolsa. Os sócios que fizeram a colocação privada de capital ainda concentram outros 15% e possuem restrições à venda desses papéis. "Mas nenhum deles está preocupado com a liquidez futura das ações", diz Ribeiro.

 Ele acrescenta que o interesse dos pequenos investidores faz a RJCP ser ainda mais cuidadosa e seletiva na escolha dos projetos. No último mês, por conta dos dias difíceis na bolsa, o número de investidores da RJCP parou de crescer - ontem o papel caiu 10% e, em maio, perde 18%. O valor de mercado era de R$ 57 milhões.

 Saab diz que a empresa praticamente nasceu como uma companhia aberta para ter facilitada sua aprovação no mercado.

 "Desde o princípio, estamos buscando a transparência cumprindo uma rotina de divulgação de informações e de relacionamento com o mercado. Queremos nos diferenciar, até mesmo porque nossos concorrentes são muito maiores", diz.

 A RJCP não revela qual a soma de recursos que tem sob gestão, hoje composto por dinheiro dos sócios. E o executivo afirma que a empresa não se listou no Bovespa Mais por conta da baixa quantidade de empresas que aderiu ao segmento para pequenas e médias. Na avaliação da RJCP, antes de buscar recursos publicamente, é importante que a empresa tenha um histórico de investimentos para mostrar ao mercado.

 "Para fazer uma oferta, precisa estar com a mochila mais cheia. Hoje temos uma estrutura e estamos começando a colocar coisas embaixo", diz Ribeiro.

 O investimento da RJCP nas empresas é sempre minoritário. "Teremos função gerencial e assento no conselho, mas sem função executiva. Acreditamos que os empresários sabem mais no negócio em si do que nós", diz Ferreira.

 Bastos resume a ideia da RJCP como "a formação de um portfólio de investimentos com potencial e uma presença em mercado que nos torne conhecidos".

 "A bolsa é uma excelente forma de atingir agentes de mercado com dados e informações constantes sobre os nossos negócios". A expectativa é encerrar o ano investindo em sete empresas.

 A RJCP divulgou ontem dois novos investimentos. Um deles na Inovar Oil, que faz o re-refino de óleo previamente utilizado em máquinas industriais e veículos automotores. A empresa tem 28 anos e quer recursos para expandir seus negócios.

O segundo é na Papaya Ventures, definida como uma aceleradora, que busca ideias ou empresas ainda em formação e auxilia na estruturação dos negócios.

 O primeiro investimento da RJCP foi fechado há dois meses, com a Building Energy, que desenvolve uma espécie de plataforma na internet capaz de gerir o consumo de energia em prédios e complexos comerciais.

Inicialmente, a plataforma será colocada à disposição de empresas em Londres, mas a intenção é chegar ao Brasil ainda neste ano.

 Em outubro de 2011, a RJCP fechou um contrato de investimento com a Novaenergia e aguarda a conclusão, pela empresa, de algumas pré-condições dos contratos.

 A empresa também informou ontem que não vingaram os entendimentos para investimentos na S.G.A Bioprodutos e na Subsea Integrity Engenharia e Projetos.
Por Ana Paula Ragazzi
Fonte: Valor Econômico 24/05/2012

24 maio 2012



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