25 maio 2012

Busca por mais escala pode acirrar disputa entre teles

Encerrada a temporada de divulgação de resultados das principais operadoras de telefonia do país, o cenário que emerge, pelo menos a princípio, é de calmaria. Com exceção da Oi, que passou por um processo de reestruturação societária, a receita líquida das demais companhias - Telefônica/Vivo, TIM, Claro e GVT - aumentou, com variações que vão de pouco menos de 4%, no caso da Telefônica, até mais de 33%, na GVT.

 Um dos indicadores mais usados para medir o desempenho das empresas, as margens Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) também se mantiveram estáveis, com variações discretas em relação ao primeiro trimestre do ano passado. Com a competição acirrada que caracteriza o setor, os analistas consideram positiva uma faixa entre 25% e 30%. No trimestre, o desempenho das teles foi além, situando-se entre 25,6% (América Móvil Brasil) e 41% (GVT).

 Nada disso, porém, significa que as operadoras terão vida fácil pela frente. Segundo Alex Pardellas, analista da corretora Banif, com a busca por escala, sobretudo na telefonia móvel, as companhias terão de rever suas políticas comerciais em meio a um ambiente caracterizado por ações cada vez mais agressivas. "As empresas terão de entregar mais ao cliente pelo mesmo preço", disse o analista.

 O que varia são as estratégias para crescer, sem comprometer a saúde financeira do negócio. Na TIM, a "menina dos olhos" é a TIM Fiber, que vai oferecer um serviço de banda larga fixa de alta velocidade. Com a promessa de estrear até o fim do mês, o serviço é considerado um trunfo pela empresa.

 A ideia é oferecer acesso à internet a velocidades mais altas que a média do mercado, para conquistar um público de poder aquisitivo maior. "Esperamos que os primeiros pacotes entreguem de 25 a 30 megabits por segundo (Mbps)", disse Rogério Tostes, diretor de relações com investidores da TIM.

 O plano da companhia, afirmou Tostes, é ocupar fatias de mercado da Oi e da Telefônica/Vivo. As duas empresas atuam desde a privatização do Sistema Telebras, em 1998, e, por isso, precisam atualizar constantemente as redes legadas. No ano passado, a TIM adquiriu a AES Atimus da Companhia Brasiliana de Energia (controladora da AES Eletropaulo), que já detinha uma rede de fibra óptica de 5,5 mil Km, o que garante uma vantagem em infraestrutura, de acordo com o executivo. "Não temos de nos preocupar com o legado da telefonia fixa. Adquirimos infraestrutura recente e vamos começar do zero, pressionando a competição no meio fixo", disse.

 A inspiração da TIM vem da GVT, vista no setor como um exemplo de atuação no segmento de banda larga fixa via fibra óptica. E assim como a TIM, a GVT não está sujeita a metas fixadas pelo governo na privatização, como ocorre com a Telefônica/Vivo e a Oi.

 Para a Oi, entretanto, é justamente a rede fixa herdada da Telebras que lhe confere um diferencial de mercado. Segundo Bernardo Winik, diretor de vendas e varejo, a Oi já está dentro da casa do cliente, o que abre espaço para vender outros serviços. "É uma ótima oportunidade para a convergência de portfólio", disse.

 Margens estáveis não indicam horizonte calmo, porque setor está mais concorrido, dizem consultores

 No último trimestre do ano passado, ao mesmo tempo em que finalizava seu processo de reestruturação societária, a Oi iniciou um plano de investimentos de R$ 6 bilhões ao ano, cuja conclusão está prevista para 2015. "Abrimos lojas próprias, investimos em [escritórios] regionais e fizemos ataques mais diretos com televendas", disse Winik. Já foram inauguradas 78 lojas no país, sendo 51 delas no Estado de São Paulo, mercado dominado pela Telefônica/Vivo.

 Para consultores e executivos do setor, há o risco de que a concorrência acirrada possa levar a uma guerra de preços, com consequências imprevisíveis no desempenho das operadoras.

 Para Amos Genish, presidente da GVT, as empresas que não conseguirem se diferenciar em outros aspectos, além preço vão perder margens ao longo do tempo. "Vemos quase uma guerra de preços entre as operadoras, mas o foco tem de ser inovação e qualidade", disse o executivo.

 A GVT, que desde 2009 é controlada pelo grupo francês Vivendi, sempre esteve bastante concentrada no mercado de serviços empresariais, cuja escala é muito superior ao do segmento residencial. Esse é considerado um dos motivos pelos quais a GVT costuma apresentar margem Ebitda acima da média do mercado. Os resultados geralmente ficam na casa dos 40%. Neste ano, foi 41%.

 Um dos principais desafios para a GVT, a despeito dos resultados positivos, é que até agora a companhia não conseguiu ingressar totalmente na capital de São Paulo, o maior mercado do país. A expectativa era de a entrada nos demais setores em São Paulo ocorresse neste ano, mas até agora a empresa não obteve licença da prefeitura para instalar sua rede na capital.

 Em abril, a GVT chegou ao litoral paulista, nas cidades de São Vicente e Santos. No total, a operadora cobre 124 cidades no país e pretende investir R$ 2,3 bilhões neste ano.

 A Telefônica/Vivo, que desde 2008 vem investindo em fibra óptica, arma-se para não perder mercado. A atual cobertura da rede de fibra da operadora abrange 1 milhão de domicílios no Estado de São Paulo. "São clientes muito especiais. Só de janeiro a março foram 30 mil novos contratos", disse Paulo Cesar Teixeira, diretor-geral da Telefônica/Vivo. Segundo o executivo, a companhia não vai entrar em nenhuma guerra de preços.

 Controlada pela América Móvil, a Claro planeja concentrar-se em serviços nos quais já têm experiência. "A empresa vem ampliando a capacidade da sua rede, privilegiando o [padrão] 3G, que acreditamos ser o caminho dos próximos anos", disse Erik Fernandes, diretor de marketing da Claro.

 Os números da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) indicam que há muito espaço para a tecnologia 3G, apesar da chegada da geração seguinte, a 4G, em mercados no exterior. Dos 253 milhões de celulares em funcionamento no país, em abril, 54 milhões tinham acesso à terceira geração. "Há um horizonte considerável a ser explorado", disse Jacqueline Lison, da Fator Corretora. Para a analista, muitas teles tiraram o pé do acelerador no investimento em 3G, o que pode significar desperdício diante do espaço existente.Por Juliana Colombo
Fonte:Valor Econômico 25/05/2012

25 maio 2012



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