08 maio 2012

Um risco no horizonte das companhias locais

O mercado de trabalho aquecido tem impulsionado o salário real, afetando as despesas operacionais das empresas e reduzindo suas margens operacionais. Quais companhias listadas em bolsa são mais influenciadas pelo incremento dos custos com mão de obra?

Um risco que as companhias brasileiras devem enfrentar nos próximos anos é relacionado ao aumento das despesas com pessoal. Com a redução do nível do desemprego, o poder de barganha do trabalhador é maior, o que pode impulsionar o salário real. Com isso as empresas mais intensivas em mão de obra podem ter suas margens operacionais comprimidas em função das despesas com pessoal crescerem em um ritmo superior ao das receitas.

Essa preocupação não é só brasileira. Martin Wolf, colunista do "Financial Times", mostra a mesma preocupação com a China. Ele utiliza os argumentos do prêmio Nobel Arthur Lewis. O excedente de mão de obra na agricultura definiu um baixo teto na remuneração da indústria chinesa, permitindo um forte crescimento não inflacionário da economia. Contudo, esse excedente está próximo de um limite. Assim, o investimento daqui para frente terá que se sustentar no aumento da produtividade, pois, do contrário, o incremento dos salários reais reduzirá os lucros e, por consequência, o retorno dos investimentos.

 Dessa forma, é interessante sabermos quais companhias brasileiras possuem maior despesa com pessoal em comparação com suas receitas. Contudo, muitas companhias não informam em seus demonstrativos financeiros a efetiva despesa com pessoal. Como as despesas de vendas, gerais e administrativas (DVGA) apresentam forte correlação com as despesas com mão de obra, comparei a DVGA com a receita em 2011 das empresas que integram o índice IBrX. Excluí as pré-operacionais como LLX, OGX e HRT e as instituições financeiras.

 Além da pressão salarial explicada acima, empresas com maior DVGA relativo sofrem maior risco, porque essas despesas, em regra, são fixas no curto prazo. Dessa forma a administração possui menor margem de manobra para adequá-la ao nível de receita corrente. Por exemplo, em momentos de recessão, a rigidez da DVGA tende a impactar negativamente a margem operacional no curto prazo.

 As despesas com pessoal também são alocadas no custo dos produtos vendidos. Mas, nesse caso, o custo com pessoal está atrelado à atividade da companhia, sendo classificada como despesa variável, ou seja, ajustando-se de forma mais célere ao nível da atividade e da receita.

 Entre as companhias com maior relação DVGA sobre receita se destacam aquelas do setor de serviços - a imobiliária Brasil Brokers (BBRK3); a BMF&FBovespa (BVMF3); as de telefonia Telefônica Brasil (VIVT4), TIM (TIMP3) e Oi (OIBR4 / ex-Brasil Telecom); a de varejo Renner (LREN3); a de informática TOTVS (TOTS3); a de educação Anhanguera (AEDU3) e a de planos odontológicos Odontoprev (ODPV3).

 Contudo, aparecem empresas menos óbvias como a elétrica Eletrobras (ELET6) e a mineradora MMX (MMXM3), que demonstram um nível de ineficiência elevado. Enquanto ELET6 apresenta índice de 31,5%, a empresa comparável Cemig (CMIG4) possui índice de 7,1%. Por sua vez, a mineradora Vale (VALE5) apresenta indicador de 4,1% enquanto a MMX aparece com 42%, apontando que MMX tem de aumentar sua receita de forma a diluir o DVGA.

 A empresa de cosméticos Natura (NATU3), a multimarcas Hypermarcas (HYPE3) e a de bebidas Ambev (AMBV4) aparecem com índices elevados. Nesses casos, as despesas com marketing podem explicar parte do alto indicador. Em relação à Hypermarcas, a aquisição de várias empresas em um curto espaço de tempo também contribuiu para a elevação do índice.

 Assim as despesas com vendas, gerais e administrativas das empresas de serviços, bem como suas margens, devem ser acompanhadas de perto nos próximos trimestres, pois o mercado de trabalho aquecido pode prejudicar a tese de investimento de algumas dessas companhias no médio prazo.

 Por outro lado, alguns economistas contra-argumentam que o Brasil não vive um momento de exaurimento do excesso de mão de obra. Suas razões serão discutidas em outro artigo. Por André Rocha é analista certificado pela Apimec e atua há 20 anos como especialista na avaliação de companhias listadas na bolsa Fonte: Valor Econômico 08/05/2012

08 maio 2012



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