04 maio 2012

Investimento novo no Nordeste é arriscado, avalia Credit Suisse

 Estudo da equipe de análise em consumo do Credit Suisse alerta para a necessidade de cautela em relação às decisões de investimento fabril das empresas no país. Parte das considerações se referem ao retorno do capital investido, com base na região geográfica. O relatório ressalta que "as regiões Nordeste e Centro-Oeste são o foco de muitas empresas de consumo, mas abordar esses mercados vai exigir mais do que simplesmente expansão de produção."

 De acordo com o relatório, "embora a renda das famílias esteja aumentando nessas regiões, ela permanece abaixo dos níveis observados nos Estados mais ricos do Sul". E continua: "a relação preço-elasticidade da demanda [sensibilidade do mercado em relação à variação de preço de um produto] é mais alta no Nordeste e Centro-Oeste, e os investimentos precisam considerar níveis mais baixos de preço nessas regiões."

 De acordo com Gustavo Wigman, da equipe de análise do Credit Suisse, "empresas que têm ido para o Nordeste passam a explorar mercados com retorno menor sobre o capital investido", diz. Isso afeta o período de recuperação do capital investido, o "payback" calculado pelos investidores. O indicador se refere ao tempo médio necessário para que os fluxos de caixa se equiparem ao valor do investimento. Quanto menor o fluxo de caixa, maior o "payback".

 Na avaliação de Wigman, os "novos entrantes" do mercado de consumo brasileiro devem priorizar projetos iniciais de investimento no Sudeste, que apesar de apurar taxas de crescimento de certas categorias próximas de mercados maduros, como Estados Unidos, continua a registrar potencial de consumo superior ao Nordeste.

 "O Nordeste é uma escolha natural hoje quando a capacidade instalada no Sudeste opera no limite e é necessário expandir a operação", disse Paulo Barreto, presidente da Casadoce, companhia que deve construir a sua segunda fábrica na região Nordeste (ver texto ao lado). A unidade atual fica em Catanduva (SP). "Entre as principais premissas analisadas hoje dentro de um orçamento para investimento estão logística, custos de mão de obra, incentivos fiscais e projeção de demanda", afirma.

 Outra empresa, a Kimberly-Clark, deve inaugurar a sua primeira unidade no Nordeste no primeiro trimestre de 2013, apurou o Valor. Será em Camaçari (BA) e a decisão de investir na região teve relação com o fato de a unidade de São Paulo ter atingido o limite da capacidade de produção. O investimento será de R$ 100 milhões.

 Na avaliação de Alexandre Galvão, professor de Finanças do IBMEC/Minas Gerais, apesar do crescimento da região Nordeste, o menor risco de variações na demanda nos Estados do Sudeste, assim como questões ligadas aos gargalos de infra-estrutura e de mão de obra especializada influenciam no estudo de viabilidade econômica de um projeto. "Um fator que desequilibra, no entanto, em relação ao Centro-Oeste e Nordeste, são os incentivos fiscais", disse ele.

 Mais de 53% dos gastos em consumo no país neste ano, que devem chegar a R$ 1,3 trilhão, acontecerão nos Estados do Sudeste, como divulgou o Ibope há dois meses. O Nordeste deve ser responsável por 17,3% dessa fatia (15,8% em 2011). "Essa participação do Nordeste tem crescido, mas há uma questão de escala, algo crucial na decisão de um novo investimento", diz Wigman. "A base de consumidores da região metropolitana de São Paulo, por exemplo, é quatro vezes maior que a de Recife".

 O relatório do Credit Suisse ainda destaca a questão da interiorização dos investimentos. O material informa que "apesar das oportunidades promissoras nas fronteiras de crescimento, as empresas devem garantir o crescimento em cidades mais maduros, como as regiões metropolitanas de capitais do Brasil".

O relatório calcula que o PIB per capita nas capitais brasileiras, de 2010 a 2020, deve registrar crescimento acumulado de 28%.
Para cidades com raio de distância a partir de 100 quilômetros da capital, a taxa cresce para 30%.
No entanto, a expansão de 28% acontece em cima de uma base maior do que a alta de 30%. Por Adriana Mattos
Fonte: Valor Econômico 04/05/2012

04 maio 2012



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