02 maio 2012

Empresa familiar remunera melhor executivos

Empresas familiares de capital aberto listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) ostentam remuneração média mais elevada que as demais companhias, entre capital pulverizado e até estrangeiras. No segmento que paga melhor, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), as situadas no Rio Grande do Sul chegam a liderar na remuneração de conselheiros de administração. O levantamento, que está na segunda edição e tentou dimensionar quanto as companhias divulgam a composição dos ganhos entre conselheiros e executivos, revelou que empresas locais pagam R$ 396,8 mil por ano para ocupantes de vagas na instância de decisão e que orienta a operação dia a dia do negócio.

 Logo depois, vem grupos de São Paulo, com R$ 374,5 mil, e do Rio de Janeiro, com R$ 353,5 mil. Já nos postos de executivos, as companhias fluminenses pagam mais, média de R$ 2,8 milhões por ano, seguidas pelas de São Paulo, com R$ 1,8 milhão. As situadas no Estado adotam média de R$ 1,05 milhão, quinto lugar no levantamento. A superintendente-geral do IBGC, Heloisa Bediscks, atribui a característica gaúcha, que teve 11 representantes entre as 174 pesquisadas, à constituição local, com forte peso de grupos familiares. O estudo avaliou pouco mais da metade das listdas, mas que respondem por 93% do capital negociado na bolsa. “Uma razão pode ser o fato de não ter maior grau de profissionalização e ter de praticar valores mais elevados para contratar os conselheiros”, avaliou Heloísa.

 A Pesquisa de Remuneração de Administradores, que se baseou em dados repassados pelas companhias e que passaram a ser obrigatórios desde 2010 com a edição da Instrução Normativa 480, pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), também identificou redução das empresas pagando seus executivos apenas com parcela fixa, de 15% na composição de ganhos na investigação de 2011, e para 10%, no dado recente. Cerca de 55% do vencimento é de salário e o restante dividido entre ações e outros incentivos. Já nos membros de conselhos de administração, a parcela fixa domina em 75% das companhias. “Há uma tendência de elevar a remuneração quanto mais cresce o faturamento”, constata o estudo.

 A superintendente-geral do instituto salienta que este ano houve um número menor de listadas que recorreu a uma liminar judicial para não informar valores mínimos, médios e máximos dos cargos, que também incluem conselheiros fiscais. A taxa caiu de 24% em 2011 para 18,65%. “Ainda há empresas que não querem divulgar os valores”, lamentou a executiva, mesmo com aumento da quantidade que repassou informações. Na apuração, companhias de capital pulverizado (não há concentração de ações em um único dono) pagam melhor os seus administradores, com média de R$ 3,4 milhões anuais, seguidas das estrangeiras, com média de R$ 2,2 milhões, das compartilhadas, com R$ 2 milhões, familiares, com R$ 1,7 milhão, e estatais, com R$ 567 mil. Neste último caso, Heloísa atribui a menor remuneração a restrições legais da natureza jurídica da operação.

 O professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo Wesley Mendes da Silva considera importante ponderar que a pesquisa se deteve nas empresas com certo nível de governança. Para Silva, a ampliação da avaliação poderá demonstrar com mais exatidão se houve ou não avanços na transparência de dados. “O estudo se concentrou no grupo que era esperado mais avanços”, justificou o professor. Um detalhe que deve ser corrigido nas familiares é o predomínio de conselheiros não independentes. Silva cita que a criação de comitês para definir remuneração e regras de recompensa.

 “Quando não há este tipo de instrumento, verifica-se maior percentual da remuneração variável de executivos. É preciso também ter planos de resultados de curto, médio e longo prazo”, opina o especialista da FGV. Este quesito remete ao que ocorreu em 2008, no auge da crise financeira. Nos Estados Unidos, mesmo com a falência ou resultados ruins de empresas, os ganhos de diretores se mantinham elevados. “Os valores podem variar conforme o envolvimento com a empresa”, sinaliza Silva.

Organizações buscam candidatos com experiência 

 Não basta ter apenas domínio sobre técnicas de governança, conhecimento que se pulverizou no Brasil em anos recentes e que criou mercado de formação para executivos e conselheiros. O sócio da consultoria alemã no Brasil Kienbaum, especializada em recursos humanos para grandes empresas, José Freitas, aponta que as organizações familiares preferem convocar conselheiros para a instância de administração pelo seu currículo de atuação em outras operações.

 Eles acabam transferência know-how e desempenhando o papel de coaching da companhia. “As empresas combinam qualidades, já que o conselheiro ideal pode ser impossível de encontrar”, observa Freitas. Experiência sólida em negócios, que possa inclusive agregar valor ao grupo onde vai atuar também pode contar na definição da remuneração. O consultor da Kienbaum não se surpreende com o patamar mais elevado da média neste segmento, que ele associa à forma como ainda são tomadas as decisões em grupos familiares. “Como é o acionista quem paga, ele pode levar em conta este retorno que um candidato com este perfil pode dar”, justifica o especialista.

 Neste mercado, a escolha ainda é muito dirigida pela indicação. As mais profissionais recorrem a empresas especializadas, com headhunter, para selecionar e identificar os perfis e opções de gestão do negócio, pois é preciso fazer a conta de ganhos e eventuais perdas de não ter critérios mais objetivos. “É hora de sair da empatia para quesitos mais profissionais”, orienta, lembrando que a eficiência da adoção de planos de ganhos fixos e variáveis dependerá de quanto as decisões sobre os ocupantes de cargos forem mais objetivas e em cima de metas de performance.

Por Patrícia Comunello
Fonte: Jornal do Comércio 02/05/2012

02 maio 2012



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