06 fevereiro 2013

Michael Dell se une a fundo e paga US$ 24 bi pela Dell

Fundador da Dell e fundo Silver Lake fecham acordo para assumir o controle da companhia e agora vão tirá-la da Bolsa

A Dell, terceira maior fabricante de computadores do mundo, voltará a ser uma empresa de capital fechado, num negócio avaliado em US$ 24,4 bilhões, a maior compra alavancada desde o início da crise global. O fundador da empresa, Michael Dell, e a Silver Lake Management pagarão US$ 13,65 por ação para comprar os papéis no mercado, segundo comunicado de ontem.

 O valor é 25% maior do que o preço de fechamento das ações da empresa em 11 de janeiro, de US$ 10,88, último dia de negociação em Bolsa antes de a transação ser revelada. Com essa operação, Michael Dell assume o controle majoritário da empresa que criou há três décadas.

 A ação da empresa perdeu mais da metade do seu valor desde janeiro de 2007, quando Michael Dell reassumiu o posto de presidente. A época foi marcada pelo desânimo dos investidores com os fracassos da companhia em competir e vencer empresas recém-abertas na área da telefonia móvel e da computação em nuvem.

 Fechando seu capital depois de 25 anos na Bolsa de Valores, o objetivo da Dell é ter mais flexibilidade para reduzir mão de obra e fazer mudanças estratégicas necessárias para atrair grandes clientes que gastam bilhões em centros de dados.

 "Eles obviamente viram o sinal de advertência", disse Daniel Morgan, gerente de portfólio na Synovus Trust Co, em Atlanta. "Eles sabem quais são os desafios e entenderam que precisam reformular o que estavam fazendo." Com o capital fechado, a Dell não necessitará prestar contas trimestralmente aos acionistas, mas estará sujeita a novas obrigações, incluindo um aumento da dívida. Após a transação, Michael Dell será o chairman e presidente executivo da companhia, mantendo um "patrimônio importante" na empresa, segundo o comunicado.

 A Microsoft Corporation contribuiu com US$ 2 bilhões na operação, ainda de acordo com o comunicado. Já a Silver Lake estava trabalhando com suas parceiras para reunir cerca de US$ 15 bilhões para a aquisição, informaram fontes familiares à transação.

 Declínio. A Dell está hoje atrás da Hewlett-Packard (HP) e do grupo Lenovo no mercado de computadores pessoais. As ações da empresa despencaram 31% no ano passado, enquanto a companhia lutava para se adaptar às mudanças verificadas em todo o setor, na direção dos smartphones, tablets e serviços de computação em nuvem.

 Consumidores e empresas estão fugindo dos PCs e preferindo aparelhos móveis fabricados por empresas como Apple e Samsung. E a Dell perdeu espaço para a Oracle Corporation, a Cisco Systems e a IBM no campo do hardware e software de centros de dados e serviços.

 A companhia teve fases de ascensão e queda desde que realizou sua oferta pública inicial de ações, em 1988. O presidente Michael Dell, que fundou a empresa com US$ 1.000 em 1984 no seu dormitório, quando era estudante na Universidade do Texas, foi considerado o menino prodígio do setor, demonstrando que podia vender produtos de alta complexidade de maneira mais eficiente e prática do que jamais se imaginara.

 Acabando com intermediários e aperfeiçoando a área de manufatura para que empresas e consumidores tivessem exatamente a configuração do computador que desejavam, a Dell abocanhou uma fatia do mercado e contabilizou lucros mesmo com margens operacionais menores do que rivais como IBM e Compaq Computer Corporation, alimentando um boom que durou quase duas décadas. Oito anos depois da sua oferta pública inicial, a fatia de mercado da Dell superava US$ 1 bilhão.

 Dell entregou depois o cargo de CEO para Kevin Willians, diretor de operações da companhia, em 2004. E em 2007 ele retornou ao cargo original, depois de a companhia perder seu lugar de ponta no campo dos computadores pessoais para a Hewlett-Packard e as receitas não atenderem às expectativas. A empresa também se viu assediada na época por causa de um escândalo contábil que resultou mais tarde num acordo de US$ 100 milhões, firmado com a comissão de valores mobiliários dos EUA. 

Desde o seu retorno, Michael Dell tem falado publicamente em "enxugar" seus negócios com computadores pessoais e usar o dinheiro obtido com a venda para adquirir empresas nas áreas de redes, armazenagem e software de gestão empresarial. As vendas globais de computadores caíram 3,5% no ano passado, para 352,7 milhões de unidades, de acordo com a consultoria Gartner. A participação de mercado da Dell caiu de 12,3% para 10,7%. Esses declínios se refletem nos lucros. A Dell contabilizará um lucro de US$ 2,98 bilhões no último ano, em comparação com os US$ 3,49 bilhões registrados no ano anterior, segundo estimativas compiladas pela Bloomberg.

 Apesar dos esforços de Michael Dell para reverter esse quadro, não há garantias de que a Dell se sairá melhor como empresa fechada. Companhias como a fabricante de equipamentos de rede Avaya e a de software para recuperação de desastres SunGard Data Systems tiveram dificuldades depois que fecharam seu capital na década passada. Outras companhias tentaram fechar seu capital, mas as negociações fracassaram, por problemas de avaliação ou dificuldades de financiamento.

 A ênfase em produtos para centros de dados e serviços ajudou a Dell a evitar a corrosão das suas margens de lucro. A projeção da margem bruta é de 22,4% no ano fiscal de 2014, em comparação com os 22,3% em 2012.

 E também a transformação da companhia em provedora de uma série de serviços para o setor empresarial, visando reduzir a dependência da Dell do mercado de PCs, não ocorreu com a rapidez necessária para impedir que a opção de fechar seu capital se tornasse a mais atrativa.  BLOOMBERG NEWS / SAN FRANCISCO TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
Fonte: O Estado de São Paulo 06/02/2013

06 fevereiro 2013



0 comentários: