28 fevereiro 2013

Linx passa por seu 1º grande teste após oferta inicial

Menos de duas semanas depois de fazer sua estreia na BM&FBovespa, a Linx terá hoje seu primeiro grande teste na condição de empresa com ações em bolsa. A companhia de software divulga, após o fechamento do pregão, os resultados do ano de 2012. É, de certa maneira, uma prova para todo o setor de tecnologia da informação. As companhias de TI ensaiam uma reaproximação da bolsa, depois que vários planos de abrir capital foram abandonados nos últimos anos, devido à piora das condições do mercado financeiro.

 A oferta pública inicial da Linx, especializada em programas de gestão para o varejo, foi uma surpresa positiva. Ficou no patamar mais alto da faixa indicativa, de R$ 27 o papel, e captou R$ 528 milhões. Desse montante, 80% será destinado a aquisições, disseram os gestores da companhia no prospecto da oferta.

 Com a divulgação dos resultados, o desafio da Linx é mostrar que pode cumprir as expectativas dos investidores: a de ser uma empresa com fluxo de receita previsível, operação equilibrada em termos de custos e grandes oportunidades de crescimento.

 Entre janeiro e setembro de 2012, a Linx apresentou uma receita de R$ 167,8 milhões, com alta de 31% na comparação com o mesmo período de 2011. O lucro no período caiu 11,5% no mesmo intervalo - passando de R$ 17,4 milhões para R$ 15,4 milhões -, devido ao impacto do pagamento de impostos.

 Criada em 1985, a Linx é bem vista por especialistas do setor. A empresa não participa da guerra de preços que eventualmente corrói as margens de lucro em contratos muito disputados, uma prática adotada por várias empresas de software, diz um revendedor, que prefere não se identificar.

A companhia também ostenta contratos com grandes marcas, que incluem Toyota, Hering e Burger King, o que é visto como uma vantagem. À medida em que essas empresas ampliam o número de lojas, crescem as vendas de novas licenças de software para equipá-las, sem a necessidade de um investimento maciço em marketing.

Segundo um empresário que atua há muito tempo no setor, esse perfil contribui para aumentar a receita recorrente e o lucro antes antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda). Esse indicador, afirma o empresário, foi um dos grandes responsáveis pelo sucesso da abertura de capital da Linx. 

Outro fator teria sido a presença do fundo de participações americano General Atlantic no capital da companhia, que teria ajudado a atrair investidores internacionais à oferta - os estrangeiros ficaram com 62,2% das ações oferecidas.

 No ano fiscal 2011, a Linx teve receita de R$ 197 milhões e lucro líquido de R$ 21 milhões. Do ponto de vista operacional, sem levar em conta despesas financeiras e o pagamento de impostos, a companhia teve 30% de lucro sobre tudo o que vendeu. É um desempenho alto para o setor. Para efeito de comparação, a Totvs, maior empresa brasileira de software, que tem um perfil semelhante de receitas recorrentes e vem reduzindo seus custos operacionais, teve margem Ebitda - como é conhecido esse termômetro - de 24,1% no ano fiscal 2011 e de 26,7% em 2012.

 De acordo com um consultor, que também preferiu não ter seu nome revelado, a Linx tem condições de manter essa margem por algum tempo. Com a anunciada estratégia de aquisições, afirma esse especialista, a empresa pode ganhar escala e reduzir custos, ao ampliar as vendas sem, necessariamente, elevar as despesas relacionadas ao negócio. "Eles têm tudo para crescer", diz o consultor.

 O avanço da Linx ganhou impulso a partir de 2008, quando a companhia iniciou uma intensa estratégia de aquisições. Até o fim de 2012, foram 11 operações com empresas de pequeno e médio portes, que tinham boa participação de mercado nos segmentos em que atuavam. O maior negócio foi a incorporação da Microvix, de sistemas de gestão para o varejo via internet, que custou R$ 42,8 milhões e ocorreu em 2011. As compras mudaram o perfil da Linx. Entre 2008 e 2012, o número de clientes saltou de 2,7 mil para 9,5 mil. Os programas da companhia, que estavam instalados em 22 mil pontos, aumentaram para 65 mil. O número de funcionários também cresceu de 381 para 1,5 mil profissionais. 

Parte das aquisições foi financiada com caixa próprio e parte com recursos do BNDES e do General Atlantic, que assumiram participações na empresa. Foram dois aportes do BNDES, em 2010 e 2011, de R$ 50 milhões e R$ 35 milhões. O General Atlantic entrou com R$ 129 milhões em 2011.

 O rápido crescimento não atrapalhou o relacionamento com os parceiros. Segundo o executivo da revenda que falou ao Valor, a Linx conduziu bem o processo de integração das aquisições ao manter alguns desses negócios separados, caso da Microvix. "Eles estão 'antenados' com as novas tecnologias e costumam cumprir o que prometem, mesmo que não haja um contrato específico", diz o executivo. Por Gustavo Brigatto  - Valor Econômico

Desempenho da Totvs é referência 

A Linx, que surpreendeu com alta de 18,5% em sua estreia na Bovespa, há 12 pregões, ainda precisa provar que pode equiparar sua gestão e estratégia às da Totvs, detentora da abertura de capital mais rentável entre as companhias tecnológicas no país.

 As ações da Linx acumulavam, ontem, alta de 15,56% desde o dia 8. No mesmo período, os papéis da Totvs recuaram 1,12%. Considerando a primeira vez em que foram negociadas, no entanto, as ações da Totvs apresentam uma valorização de mais de 670%. A estreia da Totvs na bolsa foi em março de 2006.

 A comparação entre Linx e Totvs precisa considerar o porte de cada uma e o tempo que estão no mercado. O segmento de softwares para o varejo, a especialidade da Linx, é apenas um dos 12 atendidos pela Totvs (entre os demais estão agroindústria, construção e projetos, distribuição e logística, educacional, serviços financeiros, jurídico, manufatura e saúde).

 Por isso, o tamanho das duas é bastante diferente. A Totvs apurou no acumulado de 2012 um faturamento de R$ 1,41 bilhão e lucro líquido de R$ 207,1 milhões. Nos mais recentes dados anuais divulgados pela Linx, de 2011, a receita foi de R$ 197,4 milhões e o lucro líquido, de R$ 21 milhões. 

O índice que relaciona preço e lucro (P/L) e mede quanto tempo o investimento demora para voltar ao acionista da Totvs é de 33,82, enquanto o da Linx é de 136,78. A diferença de mais de oito vezes pode indicar que a ação da Linx é menos atrativa, mas não deve ser a única forma de análise, porque a empresa ainda está construindo seu histórico depois de uma forte alta de preço na oferta pública inicial, o que distorce os dados.

Para os analistas Victor Martins e Gustavo Serra, da Planner Corretora, o múltiplo P/L da Totvs é alto, mas se justifica pela perspectiva de crescimento nos próximos anos. Apesar disso, ao embutir boa parte desse cenário nas ações, o mercado deixou pouco espaço para uma valorização, por isso a recomendação é de manutenção.

Para Alex Pardellas, analista da Caixa Geral de Depósitos, a Totvs subiu ao pódio de rentabilidade, pois soube mostrar que tem uma boa gestão, capaz de obter sinergias com aquisições certeiras e altos padrões de governança, além de tirar proveito de um mercado em crescimento. "O futuro da Linx está atrelado aos mesmos fatores", disse.

 A captura de sinergias com aquisições é relevante para a Linx porque o setor está em processo de consolidação. Um levantamento da consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC) mostrou 96 operações de fusões e aquisições entre empresas de tecnologia da informação (TI) em 2012, um crescimento de 21,5% sobre as 79 operações de um ano antes.

 O investidor que busca as ações de ambas é, principalmente, estrangeiro - esse perfil de acionista representou 69,4% das compras na oferta inicial da Totvs e 62% no Linx - e está em busca de resultados previsíveis, de acordo com analistas. "Desde a abertura de capital, a Totvs registrou crescimento de dois dígitos da receita líquida em todos os anos, com tendência de elevação para a margem Ebitda [medida de desempenho operacional, sem levar em conta despesas financeiras e pagamento de impostos] e a margem líquida", registra a Planner. Ao fim de 2012, 56,5% do faturamento da Totvs era composto por receitas recorrentes (serviços como manutenção e aluguel de licenças de software). Daqui em diante, o crescimento econômico abaixo do esperado pode ser o principal risco para a companhia, segundo a Planner.
 Por Tatiane Bortolozi  - Valor Econômico

BNDESPar pode ser propulsor de movimento na bolsa 

O setor de tecnologia caminha para ser mais representativo na bolsa brasileira nos próximos anos. Após a Linx quebrar um jejum de quase dez meses sem aberturas de capital na Bovespa com uma demanda muito acima do esperado, a Senior Solution prepara para o dia 8 de março a oferta pública inicial de ações no segmento Bovespa Mais.

 A BNDESPar, empresa de investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), atuou nas ofertas iniciais de três das cinco principais empresas de tecnologia da bolsa - Totvs, Bematech e Linx -, e pode ser a principal propulsora desse movimento. Em dois anos, a instituição pretende levar ao mercado cinco empresas de tecnologia nas quais investe, afirmou Luciano Coutinho, presidente do banco, na estreia da Linx na bolsa, em 8 de fevereiro.

 Um levantamento feito pela BNDESPar, a pedido do Valor, mostra que a empresa tem participação em 30 companhias de tecnologia da informação e comunicação (TIC). Entre elas estão a Linx e a Senior Solution.

 Para Ricardo Correa, diretor da Ativa Corretora, o mercado carece de companhias com um crescimento forte e estável, característica do segmento de TI. "Há espaço para outros nomes além da Totvs", diz o executivo. A Linx compete com a Totvs no segmento de softwares para o varejo, embora seja bem menor que a rival.

 Pela pouca representatividade do setor na bolsa até agora, o cenário mais provável é que não haja uma disputa acirrada pelo dinheiro dos investidores, embora persista uma grande a expectativa pela entrada de novas companhias de TI, diz Alex Pardellas, analista da Caixa Geral de Depósitos. O país ainda não tem um índice para o setor, enquanto, nos Estados Unidos, a bolsa que reúne empresas de tecnologia como Apple e Facebook, a Nasdaq, é referência no comportamento do mercado acionário.

 A Linx acumula alta de 15,56% desde sua estreia na bolsa, com base no preço de fechamento de ontem. Apesar de disputar o segmento com a Totvs e a Bematech, as ações das concorrentes mostram um desempenho descolado. Os papéis da Totvs recuaram 1,12% no período e os da Bematech subiram 7,53% desde o dia 8.

 O volume financeiro, no entanto, caiu com a chegada da Linx. Em 11 pregões, até terça-feira, a média financeira registrada pela Totvs foi de R$ 17,2 milhões, frente aos R$ 21,4 milhões dos 11 pregões anteriores. Na mesma base de comparação, o volume da Bematech caiu de R$ 2,3 milhões para R$ 1,4 milhão. O volume médio da Linx é de R$ 30,3 milhões em 11 pregões, contado o giro atípico de R$ 251,9 milhões no primeiro dia de negociação.

O segmento de softwares para o varejo, no qual a Linx se concentra, representou 28% da receita da Bematech no terceiro trimestre. A divisão de equipamentos é a principal fonte de receita da Bematech e foi responsável por 62% do faturamento no terceiro trimestre de 2012.

As empresas de software traçam um caminho mais bem-sucedido que as fabricantes de equipamentos desde a estreia na bolsa. A ação da Totvs, que estreou em março de 2006, desponta com uma valorização de 676,8% até o fechamento do dia 22, e os papéis da Linx acumulam alta de 14,4% em 11 pregões. Já a Bematech e a Positivo têm baixas de 30,9% e 77,7%, respectivamente.

 A disputa por clientes é menos acirrada entre as fabricantes de softwares, pois o custo para a troca de sistemas é muito alto, diz Correa, da Ativa. Além disso, o setor empresarial do país está em um processo crescente de profissionalização e os contratos geralmente estão atrelados à inflação.

 O Brasil é o segundo maior mercado de tecnologia da informação (TI) entre os países emergentes, por isso há uma grande aposta em inovação e crescimento. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes), o mercado interno de softwares e serviços (excluída a exportação) vai superar US$ 60 bilhões até 2020, o que representa uma taxa média de crescimento de 13,3% ao ano no período. 

Entre as fabricantes de equipamentos, a Positivo Informática é dependente do governo e sofre competição intensa dos fabricantes internacionais, segundo analistas. Por sua vez, a Bematech está em meio a um processo de recuperação para reverter prejuízos, diminuir a dependência das impressoras fiscais e capturar as sinergias de uma parceria feita com a Elavon, gigante credenciadora de cartões nos Estados Unidos.

 A Senior Solution arquivou o pedido de oferta em 19 de dezembro. A expectativa é levantar R$ 70 milhões com a operação, na qual o BNDES pretende vender 915,8 mil papéis e captar cerca de R$ 13,3 milhões, com base no preço estimado de R$ 14,50 por ação. A participação do braço de investimentos será reduzida de 21,5% para 7,3%.

 Na abertura de capital da Linx, a BNDESPar reduziu a fatia de 21,7% para 10,8% e captou R$ 67,5 milhões. Há quase sete anos, o banco se desfez de 948 mil ações na Totvs e embolsou R$ 30,3 milhões. Na época, permaneceu com 7,6% de participação, que hoje é de 3,9%.

 No fim de janeiro, a BNDESPar aprovou um aporte de R$ 110 milhões na Padtec, fornecedora de sistemas de comunicações ópticas controlada pela holding Ideiasnet. A Padtec faz parte de um portfólio de investimentos do BNDESPar que inclui nomes como BRQ, CI&T, OpenCommerce, Quality Software e Six Semicondutores.

 Apesar do potencial do país, a falta de mão de obra qualificada é um dos principais desafios. "É um setor que precisa de mão de obra intensiva e especializada, mas, dada a escassez, os custos são pressionados", diz Pardellas. As condições de mercado, acrescenta o especialista, também serão determinantes para a concretização das ofertas programadas para 2013 e 2014. (TB)
Fonte: cvmclippling 28/02/2013

28 fevereiro 2013



0 comentários: