04 fevereiro 2013

GP e Bradesco investem juntos em torre de celular

Gestora e banco viram sócios na BR Towers, criada há quatro meses para explorar  aluguel de torres de telefonia móvel, que estão sendo postas à venda pelas operadoras

A gestora de recursos GP Investimentos anuncia hoje um aliado de peso para seu negócio de compra e locação de torres para telefonia móvel. O fundo de private equity do Bradesco adquiriu uma fatia da BR Towers, criada pela GP em setembro do ano passado, e fez um aporte de cerca de R$ 100 milhões na empresa.

A entrada do fundo do Bradesco ocorre ao mesmo tempo em que a BR Towers fecha sua primeira aquisição no Brasil. A empresa incorporou a Sitesharing, que administra 100 torres de telefonia alugadas para as operadoras. O fundador da empresa, Luigi Gosenza, passa a ter uma participação minoritária na BR Towers.  AGP continua controladora, mas a fatia de cada sócio na empresa não foi divulgada.

Com quatro meses de vida, a BR Towers soma uma carteira de 2 mil torres, cerca de 20% do total administrado por empresas independentes, ou seja, que não estão nas mãos das teles. A companhia entrou neste ramo com a compra de 1.912 unidades da Vivo por cerca de R$ 500 milhões. "Estamos analisando toda as oportunidades de crescimento, como aquisições de torres de operadoras, de "tower companies" (empresas gestoras dessas estruturas) ou a construção de novas antenas no formato built to suit (por encomenda)", disse o presidente da BR Towers, Mauricio Giusti.

Corrida.

O fundo do Bradesco é o terceiro a investir em gestoras de torres no Brasil nos últimos seis meses.  A GP criou a BR Towers em setembro passado e, menos de três meses depois, o fundo de infraestrutura P2 Brasil, administrado pelo Pátria Investimentos, anunciou aporte de R$ 300 milhões na criação da Highline, do mesmo segmento.

Por trás da corrida dos fundos de investimento está uma mudança na estratégia das empresas de telefonia brasileiras que criará uma oportunidade bilionária para gestoras de ativos de infraestrutura para telecomunicação. "A gestão de torres é um negócio rentável e que terá uma taxa de crescimento importante à medida que as teles passarem a se concentrar no serviço de telecomunicação", diz o diretor responsável pela área de private equity dtí Bradesco, Fernando . Bllso. "A tendência é que elas passem a contratar de companhias terceirizadas o fornecimento de parte do processo."

Hoje o Brasil tem cerca de 50 mil torres de infraestrutura, mas apenas 15% delas estão nas mãos de empresas especializadas em administrar essas estruturas, segundo estimativas do mercado. A maioria é gerenciada pelas próprias operadoras de telefonia, principalmente pelas quatro líderes -TIM, Oi, Vivo e Claro. Nos Estados Unidos, por exemplo, as chamadas "tower companies" são donas de metade das estruturas existentes.

O investimento em antenas próprias pelas operadoras brasileiras de telefonia móvel tem razões históricas. Elas criaram essas estruturas na década passada em um momento em que a cobertura era o grande diferencial para ganhar o incipiente -e crescente- mercado de celulares. "Quem entrava primeiro em uma localidade não tinha interesse em compartilhar sua torre com outra operadora, já que queria ficar sozinha no mercado enquanto a concorrente construía sua própria estrutura", diz o presidente da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp), João Moura.

Esse cenário criou ineficiências, como a construção de torres lado a lado. "E como ter três prédios com apenas um andar alugado em cada um. Tecnologi-camente, é perfeitamente possível usar apenas uma torre e colocar três antenas no topo", explica o presidente da BR Towers.

As próprias operadoras devem começar a reavaliar essas questões. "Agora que todas as empresas têm cobertura nos principais mercados, as torres não são mais estratégicas. Todas estão avaliando se é interessante vendê-las e liberar o capital para outros investimentos", diz Moura, da TelComp.

A Vivo já teria captado R$ 1,1 bilhão com venda de torres em um período de sete trimestres (sem considerar a negociação com a BR Towers) e a Oi teria um potencial para levantar R$ 1,8 bilhão com a venda de suas torres, segundo informações de relatório de outubro do BTG Pactuai. Vivo, Oi, TIM e Claro foram questionadas pela reportagem sobre eventual interesse na venda de torres, mas não quiserem se manifestar sobre o tema.

A BR Towers já tem contratos com aVivo para locação das torres que comprou da própria operadora e mantém conversas com as demais empresas para fechar novos negócios.

Qualidade.

Os fundos de investimentos chegam ao mercado de infraestrutura de telecom em um momento em que as operadoras estão pressionadas para melhorar a qualidade do serviço e se preparar para o lançamento do serviço de banda larga de quarta geração (4G). A expansão do uso de telefonia móvel em ritmo mais rápido que a adição de infraestrutura nos últimos anos sobrecarregou as redes.

Hoje cada antena brasileira atende 4,5 mil linhas, em média, contra 1,5 mil da média americana. Depois de proibir as vendas de novas linhas das operadoras que registraram maior número de reclamações no ano passado, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) cobra das empresas mais investimentos.

A BR Towers estima que o número de antenas no Brasil crescerá até duas vezes e meia em três anos. "Faltam torres no Brasil", diz Giusti. "Com uma área muito menor que a nossa, a Itália tem a mesma quantidade de torres." Segundo ele, a construção de cada torre custa entre R$ 200 mil e R$ 1 milhão. Ou seja, o investimento para dobrar a estrutura do País é de R$ 10 bilhões a R$ 50 bilhões. "É um negócio para grandes players. Ter sócios como o Bradesco e GP nos dá uma estrutura de capital suficiente para aproveitar oportunidades que surgirem", afirma Giusti.

As administradoras prometem fazer parte desse investimento para aumentar a velocidade de expansão da rede de telecom no País e viabilizar o compartilhamento de antenas entre as operadoras - um dos pleitos antigos do governo e que deverá se tornar obrigatoriedade nos próximos anos. A chegada repentina de empresas com apetite - e dinheiro - para comprar antenas pode valorizar os ativos das teles. Mas, para fechar negócio com as operadoras, não basta pagar mais, diz Giusti. A parceria é estratégica por envolver contratos de longo prazo para uso de rede. "A qualidade no serviço será um diferencial." Qualquer falha no sistema, pode deixar milhões de consumidores enfurecidos e piorar os índices de qualidade da empresa na Anatel. Tudo que elas não querem neste momento. COLABOROU RODRIGO PETRY
Fonte; O Estado de S. Paulo - 04/02/2013

04 fevereiro 2013



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