05 setembro 2012

Diebold adquire GAS Tecnologia

 Por mais de uma década, a subsidiária brasileira da Diebold lutou para conquistar relevância na estratégia global da companhia americana, algo raro se comparado às operações de outras multinacionais de tecnologia no país. Agora, o mercado brasileiro está no centro de um passo importante da fabricante de equipamentos de automação. A empresa antecipou ao Valor a aquisição de 100% das ações da brasileira GAS Tecnologia, que desenvolve softwares para a proteção de transações bancárias realizadas por meio da internet e de dispositivos móveis.

Essa é a segunda investida significativa da Diebold no país. Em 1999, a companhia comprou a brasileira Procomp, que ajudou a posicionar a companhia no mercado local.

 Os termos financeiros do acordo não foram revelados. Criada há 20 anos e com uma receita anual de R$ 30 milhões, a GAS Tecnologia passará a atuar como uma unidade de negócios independente da Diebold. A equipe de 125 funcionários da companhia será mantida e seus executivos se reportarão a Carlos Alberto Pádua, vice-presidente de tecnologia da Diebold no Brasil.

 Financiada com o caixa da Diebold Brasil, a aquisição envolveu um processo de negociação de cerca de seis meses. Outra companhia americana do mesmo segmento foi avaliada por especialistas globais da fabricante, mas a GAS foi escolhida por ter sido considerada pela Diebold a detentora da tecnologia mais avançada no setor. O fato de a GAS responder pela proteção de cerca de 70% das transações de internet banking realizadas no Brasil [pelas contas da Diebold] também foi levado em conta.

 O acordo reforça dois movimentos globais da estratégia global da Diebold, que tem forte atuação no fornecimento de terminais de autoatendimento (ATM). O primeiro deles é o esforço da empresa para incorporar software e serviços à sua oferta e reduzir a dependência das margens apertadas na área de equipamentos.

 Em outra frente, a aquisição marca a tentativa da companhia de acompanhar a crescente migração das transações bancárias para a internet e os dispositivos móveis. "Vamos começar a atuar nesses canais atacando o aspecto mais sensível do ambiente digital: a segurança das transações", afirmou João Abud Júnior, presidente da Diebold no Brasil.

 Do total de transações bancárias no Brasil, o volume realizado via internet passou de 13,9%, em 2007, para 24%, em 2011, segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). O canal ficou atrás apenas das operações realizadas por meio dos caixas das agências e dos ATMs, que responderam por 25% de um total de 66,4 bilhões de transações no ano. Ao mesmo tempo, o país encerrou 2011 com 3,3 milhões de contas correntes em dispositivos móveis, um avanço de 50% em relação a 2010.

 Esse mesmo cenário vem se repetindo em outros paises. Por isso, a Diebold planeja estender, em curto prazo, a adoção dos sistemas desenvolvidos pela GAS para suas operações na América Latina. "A ideia é usar o Brasil como laboratório e depois estabelecer um departamento global para que a tecnologia seja exportada para o mundo todo", disse Abud Júnior.

 Para levar à frente essa estratégia, a equipe de 60 especialistas de segurança da GAS vai trabalhar em parceria com o time de desenvolvimento da Diebold em São Paulo.

 O papel da operação brasileira como ponta-de-lança de inovações estratégicas não é novo no grupo americano. Essa mesma abordagem já foi aplicada em casos como a entrada da companhia no segmento de tablets e no desenvolvimento de um sistema de gestão e monitoramento remoto de caixas eletrônicos. O software foi criado no Brasil e já é adotado nos EUA e na Índia, por exemplo.

 Como reflexo dessa relevância, o Brasil tornou-se uma divisão independente na estrutura da Diebold. O país costuma representar de 15% a 20% da receita global da empresa, dependendo da variação cambial, diz Abud Júnior. Em 2011, o grupo apurou uma receita de US$ 2,8 bilhões.

 A estratégia da Diebold no mercado brasileiro com a incorporação da GAS terá dois focos. Em uma das vertentes, a prioridade será investir na adaptação dos softwares de segurança para combater uma nova tendência: as ameaças virtuais desenvolvidas para caixas eletrônicos.

 Simultaneamente, a Diebold começa a planejar a extensão da oferta desses sistemas de proteção para outros segmentos, além do mercado financeiro. Nesse sentido, Abud Júnior vê perspectivas de adoção dos produtos em setores como as companhias áreas e órgãos do governo, como a Receita Federal. Por Moacir Drska
Fonte: Valor Econômico 05/09/2012

05 setembro 2012



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