24 setembro 2012

Lições para bons negócios em Fusões e Aquisições

Setor de Saúde está na mira dos endinheirados e atentos fundos de private equity. Diretor da PwC explica o que buscam os “consolidadores”

No primeiro semestre deste ano, o Brasil registrou 397 operações de fusão e aquisição (M&A, sigla em inglês para merger and acquisition) nos mais distintos setores de atividade, conforme identificou levantamento realizado pela PwC. Foi um recorde de transações, representando um acréscimo de 8% em relação a igual período do ano passado. Entender tal fenômeno pode contribuir para que os gestores de diversas áreas, inclusive os do setor de Saúde, compreendam o atual ambiente brasileiro de negócios e identifiquem oportunidades tanto para expandir suas atividades quanto para promover uma adequada transferência da organização para outros controladores.

 O recorde de transações de M&A foi motivado, entre outros fatores, pelas mudanças introduzidas no regime de aprovação destes acertos corporativos pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Como a nova regra vigoraria a partir de 29 de maio de 2012, muitos empresários apressaram-se em finalizar tratativas que, geralmente, se estenderiam por um período maior, de modo a preservar a análise dos acordos com base no antigo regime.

 Mas a mudança na regulação justifica somente parte da tendência. Tão ou mais importante é a explicação de que grupos empresariais do país têm vivido uma dinâmica ímpar de crescimento no mercado doméstico, que potencializa a disposição dos empreendedores de aproveitar este ciclo para se associar ou adquirir concorrentes. Com esses acordos, eles geram complementaridade operacional, potenciais ganhos de escala e mitigação de riscos, além de elevar a rentabilidade dos negócios. 

Especificamente no setor de Saúde, algumas transações chamaram a atenção. Mesmo que vultosas, as operações de M&A no setor ainda são, infelizmente, de volume menor. Sinal de desinteresse na área? Ao contrário: há clara indicação de que tais acertos tendem a crescer fortemente dentro de pouco tempo, inclusive por que esse setor está na mira dos endinheirados e atentos fundos de private equity. 

Quem deseja ser incorporado ou espera fundir-se com outra empresa ou ter acesso aos recursos de um fundo de investimento deve ter em mente que algumas condições são elementares na tomada de decisão dos chamados “consolidadores”, aquelas organizações posicionadas no lado da aquisição. Claro que cada negócio envolve particularidades e critérios muito específicos para definição de preço e de acertos entre as partes envolvidas, o que não impede, porém, que as operações do setor apresentem algumas características recorrentes.

 Uma delas é que os consolidadores tendem a procurar empresas em mercados onde há maior competição. Um hospital que esteja em uma área concentrada nas mãos de um único operador, por exemplo, se torna um negócio de risco. Afinal, contar com a disponibilidade de diversos planos de saúde reduz, naturalmente, a exposição do prestador às intempéries de uma fonte exclusiva de pagamento.

 Outro item importante está na qualidade do ativo disponível. Não é por ter uma gestão ruim que uma empresa deixará de estar no foco de compra. O princípio é outro: se os ativos (instalações físicas, maquinário, equipes profissionais e localização, por exemplo) são bons, mas a gestão é deficiente, há grande potencial para ampliação da produtividade. O parceiro potencial olha para isso.

 O potencial parceiro ou comprador também avalia o grau de conhecimento do negócio pela parte vendedora. Quanto maior a experiência dos envolvidos na gestão da organização e de como ela atua na região onde está instalada, naturalmente mais atraente tende a se tornar a empresa.

 Um aparte: com alguma frequência, proprietários de hospitais e laboratórios, por exemplo, tendem a desejar “sair” da operação depois da venda, pelos mais distintos motivos. Permanecer e assegurar uma transição sem sobressaltos, seja via Conselho de Administração ou, até mesmo, mantendo-se como administrador remunerado, torna a operação mais interessante e de maior valor. Isso também tem lá sua contrapartida, por vezes dolorosa, pois o gestor poderá ver sua antiga organização passar por profundas transformações, até com uma ruptura dos preceitos estabelecidos por ele próprio. Quem compra manda, é bom lembrar.

 Muitos bons negócios, por sinal, não são concluídos depois de longas negociações porque o lado vendedor tenta embutir o valor da “paixão” na precificação. Atratividade e preço não são a mesma coisa, ainda que pareçam. Por mais atraente que seja, toda empresa tem seu valor baseado em critérios muito claros e estabelecidos mutuamente entre os envolvidos. É importante, portanto, que o controlador disposto à venda separe seu patrimônio pessoal do da empresa, para não haver confusão, e entenda que sentimento não entra no preço, infelizmente.

 No caso do setor de Saúde, é bom sempre lembrar: pessoas têm peso e marcas reconhecidas e cultuadas pelos usuários de uma região, estabelecidas com base na percepção de qualidade do atendimento, despertam enorme interesse nos compradores e, naturalmente, elevam o valor da operação.

 É recomendável, também, não se pautar por conceitos muito disseminados, mas que nem sempre se confirmam. Exemplo disso é imaginar que toda operação de M&A significa um ganho de escala para quem adquire o ativo e gera maior produtividade. Um hospital que tenha oito salas de consulta já atendendo 24 horas por dia não terá, obviamente, como aumentar sua escala. Portanto, ganho de escala é um aspecto a ser analisado com cautela, pois o aumento de produtividade poderá ou não se confirmar no futuro.

 O momento do Brasil é ímpar e raros mercados oferecem tantas oportunidades de ganhos. Saber o que esperar das tratativas e entender o que o outro lado deseja pode ser o diferencial para a realização de um grande negócio por meio de fusão e aquisição, especialmente no setor de Saúde. Por Carlos Suslik, diretor da PwC Brasil e especialista em consultoria em gestão no setor de Saúde
Fonte: saudeweb 24/09/2012

24 setembro 2012



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