29 fevereiro 2012

Brasileiros avançam em gestão de fundos na América Latina

A compra da corretora chilena Celfin Capital pelo BTG Pactual, concluída no mês passado, atesta o grande interesse das instituições financeiras brasileiras pelo mercado latino-americano. Com US$ 490 bilhões de ativos sob gestão em fundos de investimento e de pensão (excluindo o Brasil) e, em muitos casos, limites generosos para aplicação no exterior, os vizinhos da América Latina estão cada vez mais no radar dos bancos brasileiros. Com a retomada do crescimento econômico desses países, a região atrai ainda mais a atenção, abrindo oportunidades principalmente para a distribuição de produtos para clientes de alta renda.

Alguns bancos como o Itaú Unibanco já têm uma presença significativa na região, principalmente após a compra das operações do BankBoston, mas outras instituições como a BB DTVM, do Banco do Brasil, e o Santander do Brasil querem ampliar a atuação no mercado de gestão, de olho no patrimônio dos chamados Administradores de Fundos de Pensão (AFPs).

O Santander está estruturando um fundo de ações "small caps" brasileiras - de empresas de menor capitalização de mercado e liquidez - para ser lançado no Chile, voltado para investidores pessoas físicas.

A BB DTVM também tem um fundo de ações small caps brasileiras no Chile de US$ 18 milhões, lançado no primeiro semestre de 2011, em parceria com a empresa de investimentos americana Principal Financial Group, que detém uma participação de 46% na Brasilprev. "Começamos primeiro com os investidores pessoas físicas para formar um histórico para podermos acessar os fundos de pensão", afirma Carlos Massaru Takahashi, presidente da BB DTVM.

A instituição também lançou um fundo de ações brasileiras com gestão ativa na Colômbia, em parceria com a corretora colombiana InterBolsa, que vai começar a investir diretamente no mercado brasileiro em março.

O Chile é o terceiro maior mercado da América Latina em gestão de recursos, com patrimônio de US$ 168,4 bilhões em fundos, atrás do México, com US$ 204,2 bilhões, e do Brasil, líder na região, com US$ 1,036 trilhão, de acordo com levantamento da consultoria McKinsey. Com patrimônio de US$ 134,9 bilhões, os AFPs no Chile são o grande alvo dos gestores brasileiros.

Para ganhar mercado naquele país, as instituições brasileiras terão que enfrentar a concorrência dos bancos Banchile e Santander, que têm expressiva presença local. "Procuramos oferecer uma alternativa de diversificação de aplicações para esses investidores, que já têm acesso a ações de maior liquidez", afirma Eduardo Castro, superintendente-executivo de fundos de investimento da Santander Asset Management.

O banco, que está entre as cinco maiores instituições financeiras na região, já tem um fundo de ações brasileiras no Chile, distribuído na rede de agências local, que busca seguir o desempenho do Ibovespa. A carteira conta atualmente com patrimônio de US$ 25 milhões.

Já a estratégia da BB DTVM tem sido buscar parcerias com instituições com presença local para distribuição dos produtos.

Com a compra do Banco Patagônia pelo Banco do Brasil, aprovada no ano passado, a BB DTVM pretende distribuir fundos para clientes na Argentina. O Patagônia é o sexto maior banco na Argentina, com cerca de 750 mil clientes. "Também podemos acessar esse investidor por meio de nossas operações no Uruguai", diz Takahashi.

Já na parceria com a Interbolsa, que detém 35% do mercado de corretagem na Colômbia, a intenção do BB é aproveitar a base de clientes da corretora para distribuir seus produtos na Colômbia e no Peru. "Elas já conhecem o mercado e a regulação do país", ressalta Takahashi.

O Bradesco também tem buscado ganhar espaço no mercado chileno por meio de associações com instituição local. Desde 1997, a gestora do Bradesco tem uma parceria com o Banchile, e já lançou três fundos, sendo que apenas um está ativo.

Já outros bancos brasileiros têm optado pela compra de instituições para crescer na região. Com o acordo fechado em agosto com o Munita, Cruzat & Claro (MCC), um dos maiores bancos chilenos, o Itaú se tornou um dos líderes no mercado de gestão de fortunas no Chile. O banco tem US$ 16 bilhões sob gestão na América Latina, com operações no Chile, na Argentina, no Uruguai e no Paraguai.

No esforço para a conquista de clientes na América latina, nenhum investidor é desprezado, nem mesmo aqueles com perfil menos provável para investir, como os indígenas. A gestora do BB possui um fundo exclusivo, domiciliado em Dublin, voltado para gestão dos recursos que uma tribo indígena ganhou de indenização na Bolívia, que somam US$ 15 milhões. O portfólio é um multimercado que busca destinar 80% do patrimônio em renda fixa e 20% em ações. "A iniciativa faz parte do nosso objetivo de fomentar a educação financeira", diz Takahashi.

O principal interesse dos investidores dos países vizinhos, segundo o presidente da BB DTVM, é por aplicações em renda variável, que ofereçam um potencial de retorno mais atrativo. "Produtos de crédito privado voltados para infraestrutura também podem ter demanda."

Como o mercado de capitais no Chile é pequeno em relação à diversidade de ativos, principalmente no segmento de renda variável, os fundos de pensão podem investir até 80% do patrimônio no exterior, mas existem restrições em relação a concentrações por emissor e por fundo, o que limita a oferta de alguns produtos, explica Takahashi.

Na Colômbia, o total sob gestão nas AFPs soma US$ 52,99 bilhões e os fundos podem alocar até 70% em ativos estrangeiros. Em ambos países não há restrições para fundos mútuos aplicarem no exterior, desde que estejam alinhados com a regulação, afirma Maria Novales-Flamarique, sócia da McKinsey no México.

Na Argentina, os fundos de pensão privados, as Administradoras de Fundos de Aposentadorias e Pensões (AFJP), que somavam um patrimônio de US$ 30 bilhões, foram nacionalizados em 2008, havendo uma redução do limite para a aplicação em ativos do Mercosul de 10% para 2%. Por Silvia Rosa
Fonte:ValorEconômico29/02/2012

29 fevereiro 2012



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