05 janeiro 2012

GP reduz porte dos investimentos e foca em companhias em crise

A GP Investimentos, que já foi líder disparada do segmento de private equity do país, ainda lambe as feridas abertas pela crise de 2008 em seu portfólio de investimentos. Se antes não saía dos holofotes ao fechar aquisições importantes ou abrir o capital de companhias de sua carteira, hoje a gestora é bem menos comentada do que suas concorrentes.

Nos últimos três anos, a GP reduziu drasticamente o valor médio das operações fechadas em relação ao período pré-crise e parece ter recuperado uma de suas vocações originais: unir-se a companhias em dificuldades em setores com potencial de consolidação.

O anúncio, na semana passada, de que a GP participará da reestruturação da Lupatech, empresa da qual já foi acionista e que hoje encontra-se em grandes dificuldades financeiras, foi visto como um símbolo dessa espécie de "volta às origens". Além de entrar com R$ 50 milhões em dinheiro no aumento de capital de até R$ 700 milhões na fornecedora da cadeia de óleo e gás, a GP entregará os ativos brasileiros da San Antonio, companhia de perfuração de poços de petróleo em terra controlada por ela, que serão incorporados pela Lupatech. Ao final, a GP ficará com 10% a 17% do capital da Lupatech, calcula o Barclays, dependendo da adesão dos investidores ao aumento de capital.


A compra da San Antonio, então chamada Pride, em 2007, foi justamente um dos estopins da fase negativa da GP. O outro foi a compra da Magnesita. Ambos os negócios foram fechados num espaço de apenas quatro dias, em agosto daquele ano, por cifras bilionárias e de forma alavancada, ou seja, com endividamento das próprias empresas para pagar a compra. Isso tudo num cenário em que o crédito internacional já começava a dar sinais de deterioração. Depois disso, as duas empresas ainda ampliaram sua dívida para financiar aquisições.

Se ao atingir o que parecia seu ápice a GP fazia aquisições de bilhão uma trás da outra, agora os negócios exibem cifras mais modestas. Em março do ano passado, por exemplo, a GP fechou a compra da Sascar, empresa de rastreamento de veículos, por US$ 99 milhões, menos de 10% do valor pago por San Antonio.

Ao diminuir o tamanho de suas transações nos últimos anos, a GP perdeu espaço para outras empresas de private equity, como Gávea, Vinci e Pátria, que se juntaram ao seleto clube de gestores de fundos bilionários em 2011, sem contar as firmas internacionais que chegaram ao país ou ampliaram sua atuação local nos dois últimos anos, como Carlyle.

Enquanto 2011 foi um ano de forte captação para muitas das gestoras acima, a GP ainda está sentada em um caixa de US$ 620 milhões em seu fundo V, cuja primeira rodada de captação foi concluída em 2008. O fundo, que captou um total de US$ 1,1 bilhão e investiu em San Antonio, deixou gosto amargo para seus investidores. O gestor de um grande fundo estrangeiro diz que já perdeu a esperança de obter retorno com o investimento. "Acho que a GP teria dificuldades para captar dinheiro novamente com os cotistas do fundo V", chega a afirmar.

O portfólio total da gestora atualmente é avaliado em US$ 1,095 bilhão, 25,6% abaixo do investimento realizado - isso inclui negócios feitos com o caixa da empresa e pelos os fundos geridos.

A gestora também tem levado um tempo maior para anunciar novas transações. O fundo IV precisou de pouco mais de um ano para ter seu US$ 1,3 bilhão totalmente aplicado. O fundo V até o momento só realizou três investimentos em três anos. Um deles na empresa de implantes dentários Imbra, que já deixou o portfólio após a GP vendê-la pelo valor simbólico de US$ 1 e reconhecer uma perda de US$ 165,8 milhões.

A mesma crise, por outro lado, contribuiu para que a GP usasse empresas de seu portfólio para tentar consolidar concorrentes com problemas. Além de San Antonio e Lupatech, no ano passado, a GP assumiu o controle dos ativos da Laep - detentora da marca Parmalat -, que enfrentava dificuldades para operar as fábricas, e posteriormente formou a Lácteos Brasil, ao fazer uma fusão com a Laticínios Bom Gosto. A operação teve o apoio do BNDES, que agora também é sócio da GP em Lupatech. Em 2009, havia sido a vez da LA Hotels, da GP, comprar a Invest Tur, formando a Brazil Hospitality Group (BHG).

Alguns analistas, que preferem se manter anônimos, acreditam que esses movimentos podem levar a uma recuperação. Dentro da gestora, a avaliação é que os movimentos realizados nos anos pré-crise é que foram um ponto fora da curva, e não o contrário. A estratégia atual não seria, portanto, muito diferente daquela adotada pela gestora desde a criação, em 1993.

A GP também se vê naturalmente mais exposta do que as concorrentes por ser uma empresa de capital aberto e pelo longo histórico no mercado. O julgamento trimestral ao qual é submetida, com a divulgação obrigatória dos resultados, é apontado como outro equívoco, na visão da gestora, uma vez que o negócio de private equity se pressupõe de longo prazo. Resta saber quão longo será esse prazo no ciclo atual da GP. Por Vinícius Pinheiro - Vanessa Adachi
Fonte:valor05-01-2012

05 janeiro 2012



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