26 janeiro 2012

Oferta pela Illumina fortalece plano de renovação da Roche

A Roche tentou fortalecer sua posição em medicina personalizada com uma oferta hostil de US$ 5,7 bilhões, apresentada ontem, pela compra da Illumina, dos Estados Unidos, sinalizando a persistência do apetite do setor de saúde por aquisições dirigidas.

A pretendida tomada de controle reflete o desejo do laboratório farmacêutico suíço de desenvolver tratamentos em combinação com os respectivos diagnósticos, que assegurem que seus medicamentos de alto preço sejam entregues apenas aos pacientes em que sua ação é mais eficaz.

Para Severin Schwan, o advogado transformado em principal executivo da Roche, a aquisição reflete sua decisão, tomada na função anterior como diretor do braço de diagnóstico da empresa, de lançar uma aquisição semelhante, inicialmente hostil e demorada, da Ventana, dos Estados Unidos, em 2007.

O negócio da Illumina marca a determinação da Roche em oferecer medicamentos com alta relação custo-benefício

Juntamente com Frans Humer, o principal executivo na época e atualmente presidente do conselho de administração da Roche, ele coordenou em 2009 uma tensa compra de ações junto a investidores minoritários da Genentech, dos Estados Unidos, que movimentou US$ 47 bilhões e que dotou o grupo de muitos de seus medicamentos mais vendidos.

O negócio da Genentech, associado às "megafusões" constituídas no mesmo ano pela compra da Wyeth pela Pfizer, por US$ 68 bilhões, e da Schering-Plough pela Merck, por US$ 41 bilhões, foi um grande divisor de águas dos negócios no setor.

Dados reunidos pela Dealogic a pedido do "Financial Times" mostram que, embora o volume de negócios tenha continuado a ser significativo, a área de saúde caiu de 12% do total de aquisições de 2009 para menos de 8%, percentual mais compatível com a média dos últimos dez anos.

Embora a magnitude da aquisição da Genentech seja grande, o negócio refletiu o foco da Roche em medicamentos comercializados sob apresentação de receita médica, notadamente para o tratamento do câncer, que desencadeou uma tendência em favor da diversificação vivida também por outras empresas, como a Pfizer, a Merck e a Novartis, sua vizinha na Basileia, que pagou US$ 28 bilhões pela divisão oftalmológica Alcon em 2010.

Os dirigentes dos bancos sustentam que as megafusões têm potencial para gerar valor. Mas um coro de executivos e investidores do setor acham que elas simplesmente adiaram o sofrimento gerado pelas crescentes expirações de patentes e dispersaram a atenção dos esforços destinados a impulsionar a inovação.

A maioria dos negócios que se seguiram foram mais direcionados para determinados produtos ou regiões, como a compra da Genzyme, especializada em "doenças órfãs", pela Sanofi em 2011; a compra da Synthes, de aparelhos médicos, pela Johnson & Johnson; e a aquisição da Nycomed pela Takeda, para se expandir para a área de medicamentos genéricos já desprovidos de patentes e de mercados emergentes.

Ainda há potencial, com grandes grupos farmacêuticos interessados em gerar fontes novas e mais confiáveis de lucros. Muitas empresas estão bem-providas de recursos, frequentemente com dinheiro no exterior que é mais eficientemente utilizado em aquisições externas. Mas boa parte da movimentação se concentrou em alienações, como os desmembramentos realizados pela Pfizer depois de sua compra da Wyeth e pela GlaxoSmithKline de alguns produtos de consumo. Entre os negócios de grande escala, as empresas de pesquisa e desenvolvimento "puros", encabeçadas pela AstraZeneca e pela Eli Lilly, figuram entre as mais vulneráveis.

Fintan Walton, diretor da PharmaVentures, uma assessoria em biociências, diz: "O setor enfrenta esse enorme dilema sobre a inovação. As aquisições são parte de sua solução. Mas, toda vez que fazem um grande negócio, há muitas críticas e o custo é alto. O futuro são esses negócios especializados."

O negócio da Illumina marca uma determinação renovada da parte da Roche em oferecer medicamentos capazes de demonstrar alta relação custo-benefício e segurança junto aos pacientes. A necessidade foi reforçada pela preocupação dos investidores depois da decisão da Food and Drug Administration (FDA, o órgão regulador dos alimentos e medicamentos nos EUA) de retirar do mercado o medicamento Avastin, da Roche, para câncer de mama, em 2010, na ausência de qualquer "biomarcador" claro para direcionar melhor seu uso.

Com base na experiência da Ventana, os analistas previam uma longa batalha. Um deles argumentou que a oferta de compra apresentada pela Roche tende a afugentar possíveis ofertas da Abbott e da Johnson & Johnson, mas o preço relativamente alto pelo qual alguns investidores compraram ações da Illumina permitia concluir que uma oferta de compra bem-sucedida exigiria uma oferta mais elevada.

O valor final do acordo é menos certo. Em nota, Bernstein advertiu para um "persistente excesso de otimismo" na área de genômica, o setor de excelência da Illumina, que se mostrou de uso limitado em muitas doenças comuns geneticamente complexas. Mas a Illumina encarou o interesse da Roche como uma "opção" em seu sucesso, considerando que o grupo está "provavelmente em melhor posição do que a maioria para avaliar as tendências do mercado e agir com base nisso". Por Andrew Jack, Haig Simonian, Anousha Sakoui e Helen Thomas | Financial Times, de Londres
Fonte:ValorEconômico26/01/2012

26 janeiro 2012



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