30 julho 2015

Empresas põem à venda ativos avaliados em US$ 22 bilhões

Está aberta a temporada de vendas das empresas ligadas a commodities – registra O Globo de hoje. Com preços de petróleo, minério de ferro e metais despencando no mercado internacional, as companhias vêm apertando o passo de seus planos de desinvestimento, com o objetivo de fazer caixa para atravessar o período de vacas magras e, assim, tocar projetos essenciais.

Estão nessa onda gigantes como Petrobras, Vale e CSN. A expectativa de analistas e das próprias empresas é que as vendas e parcerias somem ao menos US$ 22 bilhões neste e no próximo ano. O montante equivale a pouco mais de duas hidrelétricas de Belo Monte, uma das usinas mais caras já construídas no Brasil.

São dois os principais fatores que influenciam as cotações das commodities. No aspecto da chamada economia real, pesa a relação entre procura e oferta do produto. Mas há ainda um componente financeiro na determinação dos preços. Elas funcionam como investimento, para as quais muitos especuladores correm quando os juros americanos e de outros países estão baixos.

“Desde meados dos anos 2000, o crescimento chinês inflou os preços das matérias-primas ao promover um salto na demanda por esses produtos. Com a crise de 2008, os Estados Unidos injetaram dinheiro na economia e reduziram os juros, levando muitos a investirem em commodities, o que contribuiu ainda mais para a alta dos preços”, explica o economista Fábio Silveira, da GO Associados.

Travessia do deserto. Nos tempos de bonança, petrolíferas, mineradoras e siderúrgicas se verticalizaram — passaram a atuar em todas as etapas da cadeia produtiva — e diversificaram seu portfólio, entrando em segmentos em que não tinham tradição de atuar. Esse ciclo de alta das commodities chegou ao fim no ano passado, com a desaceleração da China e a expectativa de alta de juros nos EUA. Com preços em baixa, muitas empresas revisaram investimentos e estão colocando ativos na prateleira.

“Elas surfaram na onda das commodities. Agora, têm que fazer a travessia do deserto”, diz Silveira.

O nível de endividamento das companhias é o que vem ditando o ritmo das negociações. Na avaliação de analistas, a Petrobras é a que mais tem pressa. A estatal planeja vender US$ 15 bilhões em ativos até o ano que vem. Para isso, estuda se desfazer de até 49% da BR Distribuidora, além de ativos na Argentina e no pré-sal, como 10% da área de Libra. Subsidiárias como Gaspetro e TAG, de gasodutos, também devem entrar na lista de vendas.

A empresa corre contra o tempo na tentativa de reduzir seu endividamento, que era de R$ 332,5 bilhões em março. A relação entre a dívida líquida (dívida total menos o que a empresa tem em caixa) e a geração de caixa operacional medida pelo Ebitda era de 3,86 vezes no fim do primeiro trimestre. Ou seja, a empresa precisava de 3,86 anos para zerar sua dívida apenas com as receitas oriundas de sua operação. Qualquer número acima de três faz acender a luz amarela na cabeça de analistas e investidores.

“Vender esses ativos é um desafio, ainda mais em um momento de queda no preço do petróleo no mercado internacional, que passou de US$ 110 para US$ 50 por barril em um ano. Hoje, todas as petroleiras estão cancelando seus projetos. E a Petrobras precisa se desfazer de ativos para fortalecer seu caixa nesse momento” — afirma Haroldo Lima, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Os desafios da Petrobras, no entanto, vão além. Em meio a uma crise de confiança, devido ao esquema de corrupção revelado pela Operação Lava-Jato da Polícia Federal, a estatal procura parceiros para alguns projetos importantes, como o Comperj, que está com as obras paradas e sem previsão de conclusão.

“A ordem na Petrobras é vender o que for possível. Na Argentina, por exemplo, é para zerar a posição. Até no pré-sal, onde há mais rentabilidade, a estatal quer vender parte das áreas para ajudar na geração de caixa. A questão principal é que a empresa ainda precisa obter recursos no mercado financeiro para seguir investindo. Em 2015, buscou quase R$ 30 bilhões e essa é a mesma necessidade para 2016”, diz uma fonte do setor.

Em nota, a Petrobras explicou que “não informa sobre hipotéticas negociações ou acordos envolvendo ativos”.

A Vale também vem enfrentando um momento de maré baixa nos preços do minério de ferro. Em 2013, a cotação média nos portos chineses estava em US$ 136 a tonelada do minério. Este ano, a previsão é que fique em torno de US$ 55, caia ainda mais em 2016, para US$ 50, e só comece a ensaiar uma recuperação em 2017, com apostas para uma cotação média de cerca de US$ 60. A combinação de demanda mais fraca da China e maior oferta do produto, com projetos de expansão entrando em operação, explica a queda nos preços.

“A Vale supriu 25% da demanda mundial de minério de ferro no ano passado. Logo, um desaquecimento nessa demanda impacta diretamente a empresa — diz Aldo Moniz, da Um Investimentos.

A expectativa da própria empresa é levantar entre US$ 6 bilhões e US$ 7 bilhões em caixa com desinvestimentos e parcerias este ano. No rol dos ativos que foram para a prateleira estão participações no corredor logístico de Nacala e a mina de carvão em Moçambique. Na conta também estão US$ 900 milhões obtidos com a venda, em março, de 25% do fluxo de ouro da mina de cobre de Salobo (PA).

CSN conversa com bancos. Analistas apostam na venda de uma fatia da MRN, que marcaria a saída da Vale do segmento de alumínio, minas de carvão na Austrália, mais navios e ativos na área de fertilizantes. A avaliação no mercado é que a Vale pode se dar ao luxo de aguardar o melhor momento para vender alguns ativos, pois tem endividamento confortável.

Analistas avaliam, por exemplo, que a companhia deve adiar sua intenção de fazer um IPO (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês) da área de negócios de metais básicos (cobre e níquel). A mineradora diz que a operação “depende das condições de mercado”.

O setor siderúrgico igualmente vive um momento difícil. Além da sobreoferta mundial de aço, a demanda por produtos siderúrgicos vem caindo no Brasil, com a desaceleração econômica. Os segmentos de bens de capital, automóveis e construção civil, que respondem por 80% do consumo de aço no mercado doméstico, estão em crise. As siderúrgicas enfrentam ainda a concorrência da China, que se tornou exportadora de aço.

Com dívida líquida de R$ 20 bilhões no fim do primeiro trimestre, a CSN também está pisando no acelerador para montar uma estratégia de venda de ativos. Segundo fontes, a empresa vem conversando com bancos.

Entre os ativos apontados por analistas que devem entrar na lista estão o terminal de contêineres em Sepetiba (RJ) — avaliado em cerca de R$ 1 bilhão —, sua participação na Usiminas e uma parte da fatia de 27% na MRS, ferrovia que liga Minas Gerais ao Rio de Janeiro. Há rumores ainda de que a empresa esteja buscando um parceiro para seu negócio de mineração. A CSN não comenta.

A relação dívida líquida/Ebtida da CSN era de 4,8 em março. Por isso, qualquer movimento da empresa para reduzir o endividamento é bem visto pelo mercado. Pesa a favor da siderúrgica o perfil de sua dívida: mais de 70% dela têm vencimento a partir de 2018.

“Nos próximos dois anos, a CSN tem relativa folga para negociar os ativos. A Petrobras é a que tem maior urgência em vender. Os ativos da petrolífera são excelentes, mas o problema será o preço. O momento não é dos melhores para isso — avalia Luiz Caetano, analista da corretora Planner.

A pergunta que os analistas se fazem é justamente se haverá compradores para essa montanha de ativos à venda. E se as companhias estão dispostas a vendê-los por preços não tão atraentes.

A Usiminas também planeja focar nos ativos principais e se desfazer de negócios periféricos. A unidade de bens de capital, a Usiminas Mecânica, está na lista de vendas. Mas fontes ligadas à empresa admitem que há dificuldade de encontrar compradores, já que o segmento de máquinas e equipamentos está patinando.

Outras siderúrgicas têm feito vendas pontuais, aproveitando oportunidades para se desfazer de negócios que não são seu o core business (negócios principais). Caso da Gerdau, que vendeu sua fatia de 50% na Gallatin, em Kentucky (EUA). A unidade derrete sucata para a produção de aços laminados planos.

A decisão de venda, anunciada ano passado, “foi feita para que a Gerdau possa se concentrar em seus principais ativos na América do Norte”, ressaltou a companhia. Como resultado, a empresa reforçou seu caixa em R$ 937,8 milhões. (de O Globo) Leiam mais em cnf 27/07/2015

30 julho 2015



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