08 fevereiro 2012

Número de empresas estreantes na Bolsa deve triplicar este ano

Especialistas esperam que, ao menos, 35 companhias ofertem ações contra 11 de 2011

O efeito Facebook já começa a contagiar empresas que adiaram seus planos de estrear na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), no ano passado, quando a crise europeia se aprofundou. Estimuladas pela notícia da abertura de capital da rede social no mercado americano, que pode captar até US$ 5 bilhões em maio, e por uma valorização de 11,1% do Ibovespa em janeiro, as companhias já começam a se mexer para buscar capital na Bolsa. Em três grandes escritórios de advocacia que trabalham em operações deste tipo, consultados pelo GLOBO, há pelo menos 35 IPOs (do inglês Initial Public Offering, oferta pública inicial) em gestação.

O diretor-presidente da Bovespa, Edemir Pinto, disse que existem entre 40 e 45 empresas com planos de abertura de capital represados e esperam uma “janela de oportunidade”. Se isso se confirmar, será o maior movimento de estreantes na Bolsa desde 2007, ano em que 64 empresas foram, pela primeira vez, vender ações no pregão brasileiro, captando R$ 55 bilhões. Logo depois, em 2008, veio a crise dos bancos nos Estados Unidos, que desencadeou a crise global e reduziu o ritmo dessas operações. No ano passado, com o foco dos problemas na Europa, a Bovespa registrou apenas 11 IPOs, com captação de pouco mais de R$ 7,1 bilhões, queda de 35% em relação a 2010. Outras 11 empresas que lançariam ações no pregão adiaram as operações.

— Esperamos a retomada desse mercado em 2012, em face das soluções que os europeus estão encontrando. O potencial é muito grande — afirma Edemir Pinto.

Na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão do mercado de capitais onde as companhias são obrigadas registrar a operação, existem até agora três pedidos formais de oferta pública de ações para este ano. Eles são da Brasil Travel Turismo e Participações, Seabras Serviços de Petróleo e da Isolux Infrastructure. São empresas que oficializaram seus IPOs ano passado e que já estão na reta final do processo. A Seabras, por exemplo, que planejava a operação para o início deste ano, acabou adiando o IPO para abril para revisar sua estrutura corporativa. A expectativa da empresa é captar até R$ 1,7 bilhão na Bovespa.

— No melhor cenário, se a crise europeia caminhar para uma solução, os IPOs de empresas que se interessaram pela operação neste início de ano devem ser realizados entre maio e junho. As companhias estão animadas com o capital estrangeiro que está vindo para a Bovespa. Temos pelo menos 20 operações em estoque, entre empresas novas e outras que já tinham começado o processo ano passado, mas adiaram — diz Eliana Chimenti, sócia do escritório Machado, Meyer e uma especialista em mercado de capitais.

O advogado Robert Ellison, do escritório americano Shearman & Sterling, que auxilia empresas brasileiras a fazer IPOs no mercado americano, além de emissão de títulos no mercado de dívida, avalia que a abertura de capital do Facebook é uma espécie de sinalizador para o mercado.

— O anúncio da abertura de capital do Facebook sinaliza que os Estados Unidos têm mercado para novos IPOs e também significa a volta das ofertas de ações de empresas de internet. É difícil avaliar o que vai acontecer, mas a decisão do Facebook é um indicador de que há dinheiro buscando novas oportunidades de ganhos — afirma Ellison, que trabalha com cerca de 15 empresas brasileiras neste momento, entre IPOs e emissão de bônus.

Saldo de capital estrangeiro em janeiro na Bovespa foi o maior desde a implantação do Plano Real

Em janeiro deste ano, na Bolsa de Valores, o saldo de capital estrangeiro ficou positivo em R$ 7 bilhões, o maior valor desde a implantação do Plano Real. E na primeira semana de fevereiro, o saldo já está positivo em R$ 1 bilhão.

A advogada Eliana Chimenti diz que a maioria das operações envolve empresas dos setores de varejo e infraestrutura, que se beneficiam com o aquecimento do mercado interno.

— Como o governo brasileiro anunciou que está “perseguindo” um crescimento econômico este ano entre 4% e 5%, e deve reduzir juro e estimular crédito para atingir este objetivo, isso encoraja muitas empresas voltadas ao mercado interno a ir buscar capital na Bolsa — diz o vice-presidente de Tesouraria do banco WestLB, Ures Folchini.

O advogado Jean Arakawa, do escritório Mattos Filho, lembra também que há empresas que já estão listadas em Bolsa e preparam uma segunda oferta de ações, aproveitando a abertura da “janela de oportunidade”:

— Neste momento, existe o sentimento de que o problema na Europa é grave, mas não se tornará uma crise aguda.

Arakawa, cujo escritório trabalha em pelo menos 11 operações de lançamento de ações, cinco delas de empresas “novas”, que procuraram auxílio jurídico este ano. O escritório trabalha inclusive no IPO da Isolux, uma empresa de origem espanhola, que opera com transmissão de energia em 15 países, geração de energia solar e já tem concessão de uma rodovia na Bahia.

Um levantamento feito pela corretora Cruzeiro do Sul mostra que pelo menos 230 IPOs podem acontecer no mercado americano este ano, o que demonstra a confiança das companhias na recuperação da economia dos EUA.

O economista da corretora Souza Barros, Clodoir Vieira, avalia que mesmo que na crise europeia não piore e os Estados Unidos mantenham o ritmo de crescimento econômico, ainda que lento, o mercado atual não é comparável ao de 2007.

— É preciso levar em conta que os investidores não devem pagar o valor máximo calculado para as ações de novas empresas que entrarem na Bolsa. De qualquer forma, a Bovespa tornou-se uma das maiores do mundo. Com a decisão do Banco Central americano de manter a taxa de juro entre zero e 0,25% até 2014, o capital estrangeiro está procurando boas oportunidades de ganho. E o Brasil está na mira — afirma o economista.

Para o pequeno investidor que se interessar pelas novas ofertas de ações, vale o mesmo raciocínio do economista Clodoir Vieira. O cenário atual ainda é de cautela, diferente do período 2004/2007, quando tinha-se a impressão de que um ganho de pelo menos 10% nos primeiros dias após o IPO era garantido. Hoje, os investidores estão mais seletivos e criteriosos, portanto, cautela é a palavra de ordem. A crise ainda sem solução na Europa também deixa mais evidentes os riscos de investir no mercado de renda variável e, especialmente, nos IPOs. Por João Sorima Neto
Fonte:OGlobo08/02/2012

08 fevereiro 2012



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