20 janeiro 2012

Crise global torna o Brasil atraente para compras

Com a economia instável no mundo, empresas em países desenvolvidos vêem nos emergentes uma oportunidade para investir

A valorização do real e a queda de bolsas mundo afora, causada principalmente pela crise na Europa, criou uma expectativa generalizada de que as empresas brasileiras poderiam ir às compras -- afinal, o mundo ficou mais barato para quem tem reais no bolso. Pois a temporada de compras começou, mas não somente com as brasileiras comprando estrangeiras.

Cresceu 23% em 2011 o número de transações domésticas envolvendo empresas controladas por capital brasileiro, de acordo com a Pesquisa Fusões e Aquisições, da consultoria KPMG. Foram 410 fusões ou aquisições, ante 333 em 2010. Mas está havendo também um movimento contrário - o que mostra que as companhias estrangeiras também estão olhando para o Brasil. Em 2011, o número de empresas estrangeiras adquirindo brasileiras bateu recorde: cresceu 19% em relação à 2010, de 175 para 208 negócios fechados.

A vinda do capital externo para comprar empresas e partes de empresas no Brasil mostra que as companhias estrangeiras têm caixa, capacidade para expandir os negócios e vontade (ou mesmo necessidade) de ampliar os negócios para fora dos Estados Unidos e da Europa. “A economia desses países [EUA e europeus] não apresenta mais a segurança que apresentava há alguns anos. Agora, está arriscado fazer negócios lá”, diz o economista da KPMG Luíz Motta. “Existe uma perspectiva menor de crescimento nesses países.”

As companhias estrangeiras procuram, neste momento, países com potencial mais forte de crescimento e mercados consumidores em expansão, como os grandes emergentes Brasil, Rússia, Índia e China. No Brasil, o aumento do consumo continuará a ser estimulado por fatores como o baixo índice de desemprego (que deve subir apenas um pouco acima dos 5,2% de novembro passado) e o aumento do salário mínimo (que sobe agora para R$ 622). “Com o Brasil crescendo muito mais que as economias maduras, o Brasil passa a competir apenas com os Brics [Rússia, Índia,China]”, diz o economista Carlos Asciutti, da consultoria Ernst & Young.

Nada disso significa, porém, que o investimento no Brasil esteja garantido no futuro. Se a crise global caminhar para uma solução nos próximos anos, voltarão a ficar em evidência as velhas desvantagens brasileiras, como falta de infraestrutura de transporte, burocracia, regulamentações complicadas, insegurança jurídica, falta de mão de obra e impostos altos e complexos demais.

Quais setores investem mais

Nos últimos meses, houve várias compras de empresas brasileiras (inteiras ou partes) por estrangeiras. Segundo a pesquisa, o setor de tecnologia da informação lidera, desde 2008, as fusões e aquisições. No ano passado, foram 90 transações. O setor de telecomunicações e mídia também bateu recorde em operações, devido às transações feitas por empresas "pontocom". Elas registraram um salto de 110,7%, para 59. O setor imobiliário também está entre os que mais investiram: o número de transações cresceu 12,2% em relação a 2010, para 46. Os setores de alimentos, bebidas, fumo e energia também registraram alta.

Quem comprou quem? Confira aqui algumas empresas que fizeram negócio no Brasil em 2011


Delta Airlines - GOL
A Delta Airlines, segunda maior aérea em valor de mercado das Américas, irá investir US$ 100 milhões em troca de ADSs (American Depositary Shares) lastreados em ações preferenciais da GOL por meio de uma emissão de ações preferenciais com preço médio de R$ 22 por ação.

Ternium - Techint
O grupo Ternium, empresa siderúrgica do conglomerado ítalo-argentino Techint fechou acordo com as companhias brasileiras Votorantim e Camargo Corrêa para compra de suas participações na maior produtora de aços planos do Brasil, a Usiminas. A Ternium vai pagar R$ 36 por ação ordinária da Usiminas e vai financiar a aquisição da participação, de R$ 4,1 bilhões (cerca de US$ 2,2 bilhões) com dinheiro e dívida.

Kirin - Schincariol
A fabricante de bebidas janoposa Kirin adquiriu 100% da Schincariol. A Kirin já controlava mais de 50% da Shincariol, e completou a compra da Jadangil, que detinha 49,54% da fabricante de bebidas brasileira, em uma operação avaliada em cerca de R$ 2,33 bilhões.

Penguin - Cia das Letras
A editora britânica Penguin comprou 45% da brasileira Cia das Letras. A nova companhia, que ainda não tem nome, será uma holding controlada majoritariamente pelas famílias Schwarcz e Moreira Salles.

TransUnion - Crivo Sistemas
A TransUnion, empresa que atua na área de serviços de crédito e informação, adquiriu participação majoritária na Crivo Sistemas em Informática, companhia voltada à área de análise e tomada de decisões. Os detalhes do acordo foram mantidos em sigilo pelas companhias.

Sodexo - Puras
A Sodexo comprou da Puras, segunda maior empresa de refeições coletivas do Brasil. O negócio foi foi fechado por cerca de R$ 1,2 bilhão. Com o negócio, o grupo francês será alçado à condição de líder do segmento, com faturamento anual superior a R$ 2 bilhões e cerca de 40 mil funcionários. Compra da Puras contribuiu para aumento de 8,1% da receita da empresa francesa. Por KEILA CÂNDIDO
Fonte:epoca20/01/2012

20 janeiro 2012



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