13 maio 2020

Análise: Equipe econômica sobe o tom e desenha cenário mais sombrio

Secretários falam em onda de falências, disparada no desemprego e trançam cenário de recuperação para o nível pré-crise apenas para 2022

O Ministério da Economia não apenas apresentou um número mais sombrio para o desempenho da atividade econômica neste ano. Subiu também o tom da dramaticidade com que enxerga a situação do país nos próximos meses e mesmo para os próximos anos ... Leia mais em valoreconomico 13/05/2020

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Uma Análise da Crise gerada pela Covid-19 e a Reação de Política Econômica
quarta-feira, 13 de maio de 2020

1- Introdução

A crise gerada pela pandemia do novo coronavirus (Covid-19) é única na história recente. Na Idade Moderna, excetuando-se guerras, a crise só encontra paralelo na gripe espanhola de 1918. A magnitude e a multiplicidade de choques negativos decorrentes da pandemia, pelo lado da oferta e pelo lado da demanda, nos leva a considera-la um dos maiores desafios de política econômica já enfrentados pela sociedade brasileira.
Do ponto de vista econômico, a sucessão de efeitos do coronavírus sobre a economia brasileira podem ser descritos em três períodos:

• Período (1), em que a economia recebeu os primeiros choques (a partir de fevereiro até o final de março);

• Período (2), iniciado em abril, marcado por choques secundários e crise sobre o emprego, a renda e as empresas; e

• Período (3), que se sucederá ao abrandamento ou fim das medidas sanitárias de contenção, em que se dará a retomada econômica

Período 1 (fevereiro-março):

No período 1, os primeiros choques adversos nas perspectivas de crescimento do país estiveram associados à deterioração do quadro externo. Inicialmente, ocorreu a desaceleração do crescimento na China, onde teve início a epidemia. Por concentrar quase um quinto do PIB mundial e ser destino de parcela substancial das exportações de vários países, inclusive do Brasil, a China vinha sendo o principal motor da economia mundial nos últimos anos, de modo que a súbita redução em sua taxa de crescimento necessariamente implicaria efeitos adversos para os demais países. Subsequentemente, a rápida disseminação do vírus em outros países, notadamente na Europa, levou a uma deterioração ainda mais forte no cenário econômico internacional – e, assim, também nas perspectivas de crescimento do PIB brasileiro.

Tal deterioração pôde ser sentida na deterioração dos termos de troca, no preço das commodities, nas quedas nas bolsas e nos preços dos ativos financeiros, e em prováveis quebras na cadeia produtiva. Tais efeitos por si só já teriam um impacto adverso relevante no crescimento de 2020.

Em um segundo momento, a economia passou a ser impactada também por choques adversos internos. De fato, as medidas necessárias para proteger a população do vírus, desacelerando a taxa de contaminação e evitando o colapso do sistema de saúde, implicavam inevitavelmente forte desaceleração das atividades econômicas. Essas medidas envolviam, por exemplo, reduzir interações sociais, manter trabalhadores em casa e fechar temporariamente estabelecimentos comerciais e industriais. No meio de março, diversos estados e municípios decretaram algum tipo de restrição ao deslocamento de pessoas e à abertura de empresas, o que magnificou o choque negativo sobre o mercado de trabalho.

A incerteza decorrente da pandemia de Covid-19, aliada ao fechamento de diversos estabelecimentos comerciais decretada pelos governos, gerou dois outros choques negativos, mas dessa vez pelo lado da demanda: 
a) investimentos foram postergados; e 
b) o consumo de diversos bens e serviços passou a ser menos procurado pela população, que buscava proteger-se de um possível contágio, ou tornou-se impossível pelas restrições aplicadas ao funcionamento de determinados setores de atividade econômica.

Todos os países do mundo foram afetados, em maior ou menor escala, pela pandemia do Covid-19. Em especial, vários importantes parceiros comerciais brasileiros (como Estados Unidos, China, Argentina, e Comunidade Europeia) tiveram expressiva redução em sua atividade econômica. Essa contração internacional gerou mais um choque negativo pelo lado da demanda sobre a economia brasileira: como o resto do mundo ficou mais pobre, o volume e o preço das exportações brasileiras para o resto do mundo foram reduzidos.

Por fim, a redução das vendas esperadas e a perspectiva de um alto número de falências geraram efeito riqueza negativo. 
Os ativos dos detentores de capital perderam valor, o que afeta negativamente sua capacidade de obter crédito. A elevação da percepção de risco fez com que bancos retraíssem a oferta de crédito. 
Assim, o efeito riqueza negativo gerou um choque negativo na oferta de crédito privado.

Em tempos de paz não existem exemplos na literatura de tantos choques negativos de tamanha magnitude, seja pelo lado da oferta seja pelo lado da demanda, afetando tantos países ao mesmo tempo.

Período 2 (abril a julho):

O Período 2 vem sendo de forte crise econômica e de stress sobre o serviço público de saúde. Os choques vindos do Período 1, ampliados pelos choques que vêm ocorrendo no Período 2, irão trazer grandes prejuízos para a vida, o emprego e a renda dos brasileiros.

As restrições impostas por estados e municípios ao funcionamento de diversos estabelecimentos comerciais, no intuito de salvar vidas e conter o avanço da pandemia, terão severas consequências sobre empregos e empresas.

No período 2, a crise econômica se aprofunda. A queda no emprego e na renda dos trabalhadores informais é praticamente imediata. A queda no emprego e na renda dos trabalhadores formais também ocorre, mas com alguma defasagem. Isso ocorre devido aos custos associados à demissão de trabalhadores formais e à interrupção imediata nas contratações de novos trabalhadores. Tentando evitar tais custos, as empresas buscam alternativas antes da demissão do empregado. Contudo, à medida que a crise se aprofundar, os impactos no emprego e renda dos trabalhadores do setor formal serão severos.


Ainda no Período 2 espera-se grande aumento no número de falências de empresas, principalmente das micro e pequenas empresas, que terão severos problemas de caixa, decorrentes das restrições ao comércio de bens e serviços determinadas por estados e municípios, bem como da retração natural da demanda, embora tenham custos fixos mantidos, como pagamentos de aluguéis, juros, salários e impostos.

De maneira geral, no Período 2 a crise se espraiará para quase todos os setores da economia. Contudo, alguns setores serão muito mais afetados que outros: bares e restaurantes, companhias de viagem aéreas e terrestres, transporte público, hotéis e o setor de turismo são alguns exemplos que sofreram os impactos mais severos da crise.

Importante ressaltar que a forte redução da atividade econômica no Período 2 reduzirá fortemente a arrecadação de tributos municipais, estaduais e federais. Essa redução de receitas públicas associada à necessária expansão dos gastos públicos irá fragilizar sobremaneira as finanças de todos os entes da Federação. A consequência direta será maior endividamento do governo e aumento da dívida pública.
Em resumo, ao final do Período 2, as contas públicas estarão deterioradas, o desemprego terá atingido parcela expressiva da população brasileira e teremos redução no número de empresas, decorrente de um grande número de falências e desistências.

Neste contexto, o desafio para as autoridades governamentais em todo o mundo reside em ajudar empresas e pessoas, especialmente aquelas mais vulneráveis à desaceleração do crescimento econômico, a atravessar este momento inicial. Nesse sentido, em linha com a maioria dos países do mundo, o Governo Federal anunciou um conjunto robusto de medidas de estímulo fiscal, creditício e monetário, bem como diversas medidas de reforço à rede de assistência social, visando atenuar a crise econômica e social que se desenha no curto prazo. Não há como evitar o choque recessivo no curto prazo. Espera-se, porém, que essas medidas sejam capazes de pelo menos atenuar a perda de vidas, de produto, renda e emprego no curto prazo, facilitando o processo de retomada econômica.

Período 3 (agosto de 2020 e 2021):

O Período 3 será o de retomada econômica. O começo do Período 3 será caracterizado por contas públicas deficitárias, elevada relação dívida/PIB, desemprego em alta, produção e renda em baixa, e número de estabelecimentos comerciais em queda. Hoje existe um amplo debate sobre a velocidade da recuperação econômica. Nessas circunstâncias, a pergunta relevante é: iremos avançar ou não na agenda de reformas econômicas nesse período? Se avançarmos com as reformas, o Brasil terá ótimas perspectivas para os próximos anos e a recuperação será mais rápida.


Por mais eficientes que tenham sido as medidas econômicas para preservação da estrutura produtiva no Período 2, dada a quantidade e magnitude dos choques negativos, a redução forte na atividade econômica é inevitável. Dessa maneira, no começo do Período 3, teremos que nos confrontar com uma escolha de política: avançar ou não na agenda de reformas. Esse texto é uma defesa da agenda de reformas para a retomada sustentável do crescimento econômico.


2 - A Lógica Econômica das Medidas Econômicas de Combate a Pandemia

 As medidas econômicas implementadas para aliviar os efeitos econômicos da pandemia de Covid-19 têm dois objetivos: a) salvar vidas; e b) preservar empregos e empresas. Em outras palavras, a ideia básica de política econômica é manter a estrutura produtiva funcionando durante o período de crise evitando, assim,.. Leia mais em gov.br/economia 13/05/2020




13 maio 2020



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