Em entrevista ao NeoFeed, Gabriel Ferreira, o CEO do BV, fala sobre o cancelamento do IPO por conta do coronavírus, analisa o mercado, como está se preparando para a inadimplência e afirma que enxerga oportunidades para investir em startups com modelo de negócio comprovado
O executivo Gabriel Ferreira, 43 anos, tinha sido alçado ao posto de CEO do Banco Votorantim, em setembro do ano passado, com a missão de preparar a instituição financeira para os novos tempos e para uma abertura de capital.
Aos poucos, ele vinha cumprindo a meta. Em dezembro, liderou a mudança da marca para BV e, em março deste ano, já estava em conversas avançadas com investidores que participariam da abertura de capital.
Mas a Covid-19 chegou, paralisou o mercado e, a duas semanas da listagem, o IPO foi cancelado. “Tenho brincado que, no meu caso específico, são seis anos em seis meses”, diz Ferreira ao NeoFeed sobre o tempo em que está à frente do BV.
O banco, que anotou um lucro líquido de R$ 1,4 bilhão, em 2019, e de R$ 221 milhões no primeiro trimestre de 2020, tem dois terços de sua carteira de crédito de R$ 68 bilhões focados em financiamento de veículos – o que gera preocupação com inadimplência.
Mas, desde 2017, a companhia tem focado suas atenções para o mercado digital, de olho em fintechs, startups e também no open banking, que abrirá ainda mais espaço para oferecer seus serviços para outras empresas.
O BV, com ativos de R$ 107,4 bilhões, conta com um fundo de corporate venture com capital de R$ 400 milhões e investimentos em empresas como a fintech Neon, a Weel, a Olivia, entre outras. E, segundo Ferreira, deve intensificar esses investimentos.
“Há uma janela interessante no mercado. Tem startups com modelo de negócios comprovados que vão ser impactadas por ausência de funding, de caixa, e estão muito expostas”, diz o executivo. E prossegue. “O BV está conversando com várias delas para viabilizar parcerias.”
Na entrevista que segue, Ferreira fala sobre a transformação do banco, que doou R$ 30 milhões ao combate do coronavírus e criou uma linha de crédito de R$ 50 milhões, a preço de custo, para empresas hospitalares que estão na batalha contra a Covid-19.
Ele fala também sobre inadimplência, o impacto do novo coronavírus no mercado, o cancelamento temporário do IPO, a emissão de green bond, entre outros assuntos. Acompanhe:
O BV estava se preparando para abrir capital. No meio do caminho, surgiu o coronavírus e atrapalhou os planos do banco. Como fica agora?
Tenho brincado que, no meu caso específico, são seis anos em seis meses. Assumi como CEO do banco em setembro do ano passado já com a missão de preparar a companhia para o potencial IPO. Depois, divulgamos o melhor resultado da história da companhia, com R$ 1,4 bilhão de lucro. No primeiro trimestre, até a eclosão da Covid, estava focado em conversar com os potenciais investidores para o IPO. Estávamos a algumas semanas de concluir o processo de listagem da companhia e estourou toda a crise do coronavírus. Então, para um CEO marinheiro de primeira viagem, esses seis meses foram bastante intensos.
Mas o que significou esse balde de água fria?
O IPO era para o banco uma espécie de atestado de maturidade. Uma companhia ao redor dos seus 30 anos de vida que já tinha passado por processos de turnaround no passado e que agora vinha numa trajetória de crescimento de resultados dando uma janela de liquidez para os dois acionistas (a holding Votorantim e o Banco do Brasil). O desenho era 80% da oferta secundária e 20% primária. O banco que tem hoje uma carteira de crédito da ordem de R$ 68 bilhões, falávamos de uma primária no range entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões, a depender do valuation e do tamanho final da oferta. Não era um funding operacional.
O dinheiro seria usado no quê?
Diferente de outras companhias em estágio mais embrionário, o BV não precisa desse dinheiro para rodar a operação. A gente via muito mais como um reforço na estrutura de caixa e de capital para acelerar o crescimento orgânico e inorgânico. O banco tem uma história de conexão com startups, então tinha também uma lógica de fazer eventuais aquisições que fizessem sentido. Então, o BV vive sem essa primária. Mas muda tudo.
De que forma?
A nossa e as outras 32 ofertas que estavam olhando a janela do segundo trimestre foram canceladas mais ou menos na segunda semana depois do carnaval. O que sabemos de história de mercado financeiro é que, quando você tem uma crise desse tamanho e a janela de IPO fecha, ela demora entre um ano e um ano e meio para reabrir. Então não foi um plano que foi jogado fora. Preparamos a companhia internamente e fomos até o estágio em que expusemos a companhia para os 50 primeiros potenciais investidores que têm, ainda sem os números finais da oferta, uma primeira interação com a companhia. E os feedbacks foram muito bons. Esse trabalho de se conectar aos investidores não se perde, a semente está plantada para o futuro. Agora, quando essa janela abre de novo, é difícil de prever.
“A semente está plantada para o futuro. Agora, quando essa janela (de IPOs) abre de novo, é difícil de prever”
Mas a única opção seria o IPO? O BV estaria aberto a outro tipo de investidor?
O desenho que fizemos com os acionistas não seria uma mudança de controle. O desenho era Votorantim e BB continuariam no controle da companhia e seriam diluídos no IPO e em potenciais follow ons se viessem a fazer sentido no futuro. Esse desenho não muda. Outros formatos podem vir para a mesa? Podem, mas acho que dentro do espírito de trazer investidores que acreditem na estratégia do BV de um lado, que tenham fit com o bloco de controle e que se encaixem dentro da governança que a .. Leia mais em neofeed 25/05/2020
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Ruy Moura
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