04 abril 2016

CTG busca mais aquisições no país

Maior geradora de energia hídrica do mundo, com cerca de 60 mil megawatts (MW) instalados em operação - o equivalente a quase metade de todo o sistema elétrico do Brasil -, 30 mil MW em construção, e faturamento da ordem de US$ 10,2 bilhões (cerca de R$ 36 bilhões), a China Three Gorges (CTG) tem planos de ampliar sua participação no mercado brasileiro. Aqui, em apenas dois anos, tornou-se a segunda maior geradora privada do país, com 6 mil MW, atrás da Tractebel (7 mil MW). A estratégia é crescer via fusões e aquisições - principal caminho adotado até o momento - ou mesmo com projetos de energia nova.

"Continuamos olhando para oportunidades de M&A [sigla em inglês para fusões e aquisições]", afirmou ao Valor o presidente da CTG Brasil, Li Yinsheng, em sua primeira entrevista no país. "Não depende muito de nós, depende das oportunidades. Neste ano, é uma opção [fazer uma nova aquisição], mas não vai acontecer necessariamente", completou o executivo, que comandou a aquisição da concessão das hidrelétricas de Jupiá e Ilha Solteira, devolvidas pela paulista Cesp, em leilão realizado no fim de 2015.

Apesar de a CTG ter concluído seu primeiro negócio no Brasil - a aquisição de 50% em dois projetos hidrelétricos da EDP Energias do Brasil no Amapá em 2014, Li explicou que a empresa estuda o setor elétrico brasileiro há mais de 20 anos. "Começamos a pensar seriamente em investimentos [no Brasil] seis anos atrás. Eventualmente decidimos entrar em 2014. Mas as pessoas deveriam saber que olhamos para o Brasil desde os anos 1990". O parque hidrelétrico brasileiro serviu de referência para a construção de Três Gargantas, maior hidrelétrica do mundo, de 22 mil MW, no rio Yangtzé, na China, principal ativo da companhia.

Segundo Li, dentro da estratégia da CTG para o país, o primeiro passo foi aprender o modelo brasileiro. A etapa seguinte, na qual a empresa se encontra hoje, foi comprar alguns ativos operacionais. E a última fase será o desenvolvimento de projetos greenfields (criados a partir do zero), em leilões de energia nova.

Desde o primeiro acordo, fechado em 2014, a estatal chinesa já investiu R$ 17 bilhões no Brasil. Com relação à concessão de Jupiá e Ilha Solteira, a CTG Brasil desembolsou em janeiro 65% dos R$ 13,8 bilhões de bônus de outorga, dos quais parte com recursos próprios e o restante com um financiamento da China. Para a segunda tranche, a ser quitada em julho, a companhia ainda negocia as condições financeiras, e há a possibilidade de financiamento de bancos do Brasil e dos Estados Unidos, além da China.

Também para julho está prevista a conclusão da transição da operação das duas hidrelétricas da Cesp para a CTG Brasil. A expectativa do grupo chinês é ampliar seu contingente no país dos atuais 120 funcionários para cerca de 400 colaboradores a partir do segundo semestre. "Esperamos que, pelo menos, a maioria deles [dos funcionários das usinas] fique conosco e também esperamos receber novos funcionários. A operação vai continuar como está", explicou Li.

Com relação à parcela de 30% da energia de Jupiá e Ilha Solteira destinada ao mercado livre, da ordem de 800 MW médios, Li disse que parte foi comercializada em um leilão feito pela companhia no início de março. Um segundo volume será ofertado em novo certame, previsto para esta semana.
Questionado sobre quais ativos despertam o interesse da companhia chinesa no Brasil, o executivo não quis citar nomes de empresas e de projetos. Ele, porém, contou que a preferência do grupo continua sendo projetos de grande porte, por fazer parte do "DNA" da companhia.

Perguntado sobre o eventual interesse em adquirir participação na hidrelétrica de Belo Monte, de 11,2 mil MW, o presidente da CTG Brasil disse não poder comentar oportunidades específicas, mas que a usina é um "projeto bom".

Li também afirmou que a companhia avalia o projeto da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós (PA), de cerca de 8 mil MW, mas que ainda não decidiu se a empresa participará de um eventual leilão, ainda sem data marcada.

A respeito do interesse na Renova Energia, Li disse conhecer o negócio, mas que está avaliando "oportunidades diferentes". Ele também descarta as térmicas da Petrobras por não fazerem parte da estratégia do grupo, focado em fontes hidrelétrica, eólica e solar.

Quanto ao cenário de crise política e econômica do país, o executivo disse conhecer as dificuldades atuais, mas contou que a empresa tem uma visão positiva do Brasil no longo prazo. Li também elogiou a Medida Provisória (MP) 688/2015, que tratou da repactuação do risco hidrológico. "A MP 688 foi uma coisa positiva, parcialmente restabeleceu o equilíbrio no segmento [de geração hidrelétrica]. O risco hidrológico foi alocado de forma comercial.
Isso fez o setor ficar mais sustentável". - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 04/04/2016 

04 abril 2016



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