27 abril 2016

Fora de regra do BC, Gerador busca comprador

Com suas demonstrações de 2015 ressalvadas pelos auditores por "desvio de prática contábil", o banco pernambucano Gerador se prepara para submeter ao BC uma proposta de venda para outra instituição financeira, até a primeira quinzena de maio. A proposta, segundo o Valor apurou, inclui uma reestruturação societária e operacional da instituição financeira, cujo índice de solvência está desenquadrado há dois anos.

No fim de 2014, diante dos primeiros sinais da recessão econômica, o último banco privado do Nordeste interrompeu a expansão e começou encolher. Os quatro sócios-fundadores Paulo Della Nora, Paulo Sérgio Macedo, Severino Mendonça e Antônio Lavareda - este conhecido pela atuação em marketing político - decidiram não aportar mais capital na instituição e iniciaram a desalavancagem do banco por meio da cessão de carteiras de crédito.

O Gerador começou a sua atuação em 2009, em uma empreitada que partia da premissa de crescimento na região menos bancarizada do país. A instituição, que em 2010 comprou a marca do falido Banorte, atuava na oferta de consignado e capital de giro para pequenas e médias empresas. No balanço do ano passado, a administração descreveu que os dois segmentos sofreram acentuada redução de spreads nos últimos anos, "especialmente pela forte atuação dos grandes bancos".

De acordo com as demonstrações financeiras, o índice de Basileia, que mede a solvência do banco, era negativo em quase 31%, quando o mínimo requerido é de 11%. A situação era pior do que em 2014, quando a instituição encerrou o ano com o Basileia negativo em 12%.

O patrimônio líquido do banco era positivo em R$ 23,24 milhões no fim de 2015, mas o valor foi questionado pelos auditores independentes no seu parecer. Para os auditores, o Gerador praticou desvio de norma contábil ao registrar no seu ativo um crédito tributário de R$ 54 milhões que, possivelmente, não se realizará. Sem a contabilização desse valor, o patrimônio líquido do banco ficaria negativo em R$ 31 milhões.

Segundo a norma contábil adotada no Brasil, o crédito tributário gerado a partir de prejuízos nos exercícios anteriores é realizado no momento em que o a empresa volta a registrar lucro. Parte da premissa, portanto, da continuidade dos negócios e perspectiva de lucro, o que pode não ser o caso do Gerador. A instituição vem reduzindo significativamente o crédito com objetivo de eliminar totalmente a carteira dos produtos atuais, enquanto revê seu modelo de negócios por meio da associação com outro grupo, e vem registrando sucessivos prejuízos. "Essa situação indica que o Banco poderá não ser capaz de realizar seus créditos no curso normal da operações", afirmaram os auditores da PWC.

Os auditores ressalvaram ainda prática do banco de registrar uma receita R$ 1,17 milhão decorrente da baixa de parcelas pendentes a devolver aos cliente.

No ano passado, o Gerador teve prejuízo líquido de R$ 19,7 milhões, perda 32% inferior à de 2014. A receita líquida caiu 28%, para R$ 75,18 milhões. A instituição ressaltou ter uma "confortável" situação de caixa de R$ 63 milhões e que está determinada a continuar com a estratégia de redução de ativos e passivos concomitantemente.

Questionado sobre uma potencial intervenção no Gerador, o BC informou apenas que "não comenta a situação específica de nenhuma instituição financeira".

Em viagem ao exterior, os sócios Dalla Nora e Lavareda não concederam entrevista. Macedo e Mendonça não foram localizados. O presidente do banco, Ademir Cossiello, disse que não está autorizado a comentar a situação financeira do banco por conta do sigilo exigido no memorando de entendimento firmado com outro grupo econômico, que ele não revelou qual era. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 27/04/2016 

27 abril 2016



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