22 abril 2016

Brasil fica mais caro para banco estrangeiro após rebaixamento

A perda do selo de bom pagador do Brasil encareceu a operação de bancos estrangeiros no país. Após as três principais agências de classificação de risco - Moody's, Fitch Ratings e Standard & Poor's - retirarem o status de "grau de investimento" da nota de crédito brasileira, entre setembro do ano passado e feverereiro de 2016, essas instituições financeiras se viram obrigadas, nos balanços de suas matrizes, a aumentar o capital necessário para fazer frente às operações locais.

A lógica é que, como o Brasil ficou mais arriscado, ter ativos no país exige das matrizes uma reserva maior de recursos para compensar esse risco.

Esse custo pode aumentar ainda mais, na medida em que as agências de classificação sinalizaram que novos rebaixamentos da classificação soberana podem vir pela frente. Nas três, a nota brasileira está em perspectiva negativa.

A situação dos bancos estrangeiros só não é pior porque o aumento do risco foi parcialmente compensado pela forte desvalorização da moeda brasileira no ano passado, o que ajuda a encolher o tamanho dos ativos do país no balanço global desses bancos.

O encarecimento vem em má hora. No mundo todo, reguladores têm pressionado os bancos a adotar regras mais rígidas de capital, no rastro dos problemas que o sistema financeiro internacional enfrentou em 2008.

Os balanços das matrizes de alguns bancos estrangeiros explicitam o tamanho desse impacto. É o caso do HSBC, que espera o aval do Cade, órgão regulador da concorrência, para transferir sua operação local para o Bradesco. Em um comentário curto nas demonstrações financeiras, o banco afirma que o rebaixamento do Brasil fez aumentar em US$ 3,7 bilhões seu estoque de ativos ponderados pelo risco em 2015, usados para o cálculo de exigência de capital, o que acabou sendo compensado por melhorias no risco de outras regiões onde atua.

O banco francês BNP Paribas dá uma ideia do tamanho desse efeito.

Segundo a presidente do banco no país, Sandrine Ferdane, uma operação com as mesmas características e mesmo valor (em moeda estrangeira) feita no mercado brasileiro passou a consumir entre 50% a 70% mais capital após o rebaixamento. "A perda de grau de investimento é o que mais pesa nesse aumento do custo, então nos próximos rebaixamentos o aumento deve ser menor", diz.

Além de o câmbio desvalorizado ajudar a mitigar esse efeito, o BNP adotou outras medidas compensatórias. Entre elas, a executiva cita o aumento da exigência de colaterais em operações com empresas no país, o que diminui o risco da operação. Houve ainda, de acordo com Sandrine, um forte movimento de aumento de margens nas operações, de modo a reequilibrar o capital mais caro. Ela também lembra que as empresas brasileiras que têm boa parte de suas receitas no exterior contam com exigência menor de capital.

A leitura de analistas é que o rebaixamento da nota soberana acabou por intensificar um processo já em curso de reavaliação das operações de bancos estrangeiros têm no país. "Com reguladores internacionais mais rígidos, há uma restrição de capital entre os bancos globais. Com o rebaixamento do Brasil e a necessidade de alocar mais capital que isso traz, o apetite por risco no país diminui", afirma o diretor da Fitch, Eduardo Ribas.

Mesmo com um cenário turbulento no país, os bancos estrangeiros dificilmente vão fechar totalmente as portas no Brasil, como já se observou em crises anteriores. "Algumas operações estão encolhendo e são pequenas em relação às matrizes, então é mais fácil de suportar", diz Claudio Gallina, diretor sênior da Fitch. Na visão dele, embora o país tenha ficado mais caro para operar, alguns bancos estrangeiros ainda veem necessidade de apoiar os negócios das filiais de seus clientes no Brasil num momento em que outras fontes de crédito secaram.

"O país também mudou de patamar nos últimos anos e não há como ser um banco global sem presença no Brasil", afirma o analista, lembrando que muitas instituições estrangeiras que operam no país têm interesse em especial nas áreas de agronegócios e "commodities".

Outro fator que deve impedir a saída completa de bancos estrangeiros é a burocracia para voltar. O caso mais comumente lembrado é do UBS, que, depois de ter deixado o país em 2009, amargou um bom tempo à espera de autorização do Banco Central para voltar a operar por aqui.

Em 2016, o estoque de operações de crédito dos bancos estrangeiros no país começou a encolher, depois de mostrar um crescimento modesto no ano passado. No acumulado dos dois primeiros meses, o saldo de operações do grupo diminuiu 2,5%, para R$ 460 bilhões. Nesse mesmo intervalo de tempo, o sistema financeiro como um todo registrou queda de 1,1%.

Em termos de participação no crédito, os bancos estrangeiros vêm diminuindo a relevância desde a crise de 2008. Na época, tais instituições chegaram a responder por cerca de 21% do total de crédito na economia.

Hoje, a fatia se resume a 14,4%. O forte crescimento dos bancos públicos nesse período também ajuda a explicar essa perda de espaço.

Maior banco estrangeiro no Brasil, o Santander não concedeu entrevista sobre o tema. O balanço global do banco, porém, mostra que a instituição financeira conseguiu mitigar de duas formas, em seu balanço, a piora da avaliação do Brasil: melhorando a qualidade de seus ativos no país, com mais garantias, e com a obtenção de aprovação do Banco Central Europeu (BCE) para usar uma metodologia alternativa para avaliar o risco dos ativos brasileiros. Com isso, os ativos ponderados pelo risco do banco no cálculo de capital recuarão € 7,84 bilhões. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 22/04/2016

22 abril 2016



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