12 fevereiro 2012

Startup brasileira atrai capital estrangeiro

País é visto como a bola da vez no Vale do Silício, segundo empreendedor que recebeu aporte de fundo daquela região

Para Florian Otto, que preside o Groupon no Brasil, fundos americanos estão atrás de empresas daqui

Juliano Ipólito abriu o portal de artesanato Elo7 no quarto de seu apartamento em Campinas, em 2008. "Eu mesmo fiz o site." Formado em computação pela Universidade Federal de São Carlos, sua vocação é internet. "Gosto muito, sei fazer bem."

Em outubro, após resistir meio ano, aceitou um aporte de "venture capital" (capital semente) do fundo Accel, do Vale do Silício, e do brasileiro Monashees. "Foram eles que chegaram na gente. Foi surpresa. O Brasil é considerado a bola da vez no Vale do Silício."

Agora com 65 mil lojas (artesãos) e 6 milhões de visitantes por mês, diz que segue ouvindo propostas "praticamente todo dia" e vê "um boom de startups" (empresas iniciantes) no país.

Também o alemão Florian Otto, que preside o Groupon no Brasil e é investidor individual de capital semente, diz receber "ligações quase todo dia de algum investidor que quer startups no Brasil". Em dezembro, Otto entrou com o mesmo Accel no Kekanto, site de avaliação de serviços.

"O Brasil é um dos mercados de startups que mais crescem no mundo", diz ele.

"Muitos outros, na verdade todos os maiores fundos americanos" estão atrás de startups no país. Lista Redpoint, BB Capital, Tiger Global, General Atlantic e Decima Capital. Ele próprio tem mais duas em vista. "Mas não estou divulgando nomes."

Adalberto Brandão, executivo-chefe de operações (COO) do GVcepe, o Centro de Pesquisas em Private Equity e Venture Capital da FGV, que realiza uma pesquisa sobre o setor, também vê um boom de startups, "sem dúvida".

Em 2011, "vários gestores vieram para o país", estabelecendo-se "diretamente" ou através de joint ventures, "caso do Ted Rogers com o [fundo brasileiro] Arpex".

"Para você ter uma ideia, 11 aceleradoras surgiram em 2011", diz ele, sobre os investidores chamados de anjos.

"São executivos bem-sucedidos, com experiência, que pegam uma empresa nascente bem no início e dão assistência, até espaço, fazendo com que se desenvolvam em meses para começar a operacionalização com boa noção de produto, gestão dos processos, comercial."

DINHEIRO NÃO FALTA

A startup com maior atenção externa, tema de reportagens no "New York Times" e no "Wall Street Journal" nas últimas semanas, é o Peixe Urbano, criado em 2010.

Em janeiro, anunciou nova capitalização, agora com recursos de Morgan Stanley e T. Rowe Price, fundos de "private equity" (participação em empresas), que fazem aportes maiores do que os fundos de capital semente.

"Dinheiro externo não falta", diz Júlio Vasconcellos, presidente-executivo da startup. "O pessoal lá quer muito investir no Brasil e só está esperando as empresas certas serem montadas. Quando a gente começou, havia poucas. Era coisa nova. Hoje são dezenas de boas startups."

O novo aporte é para "acelerar pesquisa, desenvolvimento de software" e "evoluir, aliar outras coisas" ao modelo de compras.

A revista "Economist" programou para maio, no Rio, o evento "Brazil Innovation: A revolution for the 21st century" (Inovação Brasil: Uma revolução para o século 21).

Com participantes como Emerson Andrade, do mesmo Peixe Urbano, e Eric Archer, do Monashees, vai focar startups estimuladas por capital privado.

Robert Bender, gestor do Criatec, fundo de R$ 100 milhões de capital semente do BNDES, e membro do comitê de inovação da ABVCAP (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital), diz que "a melhor evidência de que está havendo muita atividade na área é exatamente a nossa carteira", com 36 investimentos em startups em quatro anos, "todas com inovações em tecnologia". Por NELSON DE SÁ ARTICULISTA DA FOLHA

Nascida em Foz, Bedy, 33, se destaca nos EUA

Na virada do ano, o site TechCrunch alertou para que "o ecossistema de startups no Brasil começava a se transformar" e que Bedy Yang estava "no coração desse esforço".

Bedy, 33, nasceu em Foz do Iguaçu, filha de pais taiwaneses, estudou na FGV-SP e na Universidade da Pensilvânia, passou duas temporadas na China e há dois anos se estabeleceu no Vale do Silício.

"Quando entrei nesse mundo não havia muitos brasileiros. No último ano e meio, o trabalho foi muito forte em cima da formação de redes e dos inovadores, sua capacitação."

Ela identifica 2011 como "o ano em que os grandes VCs [fundos de venture capital] começaram a realmente testar o mercado brasileiro".

Os primeiros investimentos, em startups como Peixe Urbano e Baby, mostraram "um movimento real entre EUA e Brasil" -e agora fundos como Accel, Redpoint e Bessemer "estão estabelecendo operações locais".

"A própria 500 Startups, onde trabalho, fez quatro investimentos no Brasil em 2011", diz Bedy, "e planeja fazer 15 em 2012". Criada pelo investidor Dave McClure, a 500 Startups é uma incubadora. Entra não só com recursos, mas também serviços de apoio.

Bedy vê dois motivos principais para a atração do capital do Vale do Silício pelo Brasil: "a classe média crescendo significativamente" e os "gaps de serviço".

A área de maior atenção hoje é e-commerce, "mas tem uma série" de outras em "educação, sustentabilidade, crédito".

Bedy também já identifica mais ação nas universidades, citando Unicamp, USP e ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), que busca "se aproximar do movimento startup".DO ARTICULISTA DA FOLHA
Fonte:FolhadeSP12/02/2012

12 fevereiro 2012



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