07 fevereiro 2012

Ágio surpreende especialistas, mas preço é considerado justo

Governo correu risco com lance mínimo baixo, mas estimulou a concorrência

O elevado ágio de 348% do leilão de concessão dos aeroportos de Brasília, Guarulhos e Viracopos surpreendeu os especialistas, mas o valor pago foi considerado justo. O governo esperava arrecadar R$ 5,477 bilhões com os lances mínimos, mas conseguiu R$ 24,5 bilhões, quase cinco vezes mais. Alguns analistas acreditam que o ágio e resultado do estímulo à concorrência, mas há quem questione se houve falha do governo ao exigir um lance mínimo muito pequeno, correndo o risco de dilapidar patrimônio.

José Matias-Pereira, professor de administração pública da Universidade de Brasília (UnB), disse que o lance inicial baixo deixou claro que o governo queria transferir os aeroportos para a iniciativa privada. Essa estratégia, afirmou, foi acertada no final.

- O governo assumiu o risco de vender aeroportos por um valor abaixo do real e, em contrapartida, despertou interesse do mercado. A estratégia acabou dando certo.

Para o economista Júlio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o leilão de ontem foi "um golaço":

- Tenho convicção de que as empresas que ganharam analisaram friamente o tema. Algumas delas foram muito bem assessoradas, de maneira que o que comandou esse processo foi um lado técnico relevante.

- As empresas envolvidas pagaram o valor que assumiram porque têm clara noção do retorno que esses aeroportos podem dar a médio e longo prazos - reforçou Matias-Pereira, da UnB.

Para a economista Elena Landau, ex-diretora do programa de desestatização do BNDES no governo Fernando Henrique Cardoso, o valor mínimo pode ter sido subestimado.

- A precificação pode ter sido equivocada, mas a forma como o leilão foi produzido mostrou que o modelo acabou funcionando, porque houve lances bastante elevados - avalia Elena, hoje consultora em regulação do setor elétrico do escritório Sérgio Bermudes.

O diretor de consultoria de transportes e logística da Macroplan, Alessandro Mattos, que esperava um ágio de 150%, avalia que o preço pago foi "justo", mas que pode haver excesso de otimismo:

- Me parece um preço justo. Esse tipo de negócio é muito atrativo para esses fundos, mas pode ser que alguém esteja super otimista.

Em dezembro, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que os valores mínimos de outorga fossem aumentados para que o processo avançasse. Para o ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Wagner Bittencourt, o ágio foi uma "sinalização muito positiva", e mostra que o país é seguro :

- De novo, o Brasil deu uma demonstração de que é um ambiente seguro de investimentos, não só para empresas brasileiras mas também para estrangeiros. Ter um certame com tanta disputa mostra isso.

O diretor presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Marcelo Guaranys, disse que o ágio é resultado ainda da falta de experiência do governo com as privatizações:

- Os resultados mostram que os números privados são muito melhores que os nossos.Por Eliane Oliveira, Daniel Haidar e Bruno Rosa
Fonte:OGlobo07/02/2012

07 fevereiro 2012



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