O aumento das incertezas internas e externas consolidou a avaliação de que o investimento terá uma alta moderada em 2018, na casa de 3,5% a 4%, contribuindo para que a economia tenha uma expansão bastante modesta, próxima a 1,5% ou menos. No começo do ano, havia uma expectativa de que a formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação) poderia avançar a um ritmo de cerca de 6%, depois de quatro anos de retração. As estimativas hoje são de que, no segundo trimestre, o investimento tenha recuado algo como 1% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal.
O quadro incerto para o investimento piorou depois da greve dos caminhoneiros, que afetou fortemente a confiança de empresários. E, com a indefinição a respeito das eleições de outubro, a expectativa é que as companhias vão esperar para investir, ainda mais num cenário de grande ociosidade. Para completar, a alta dos juros de prazos mais longos e a desvalorização expressiva do câmbio afeta as decisões de investimento, como diz o economista Igor Velecico, do Bradesco. No cenário externo, as dúvidas quanto ao ritmo de aumento dos juros americanos e as tensões comerciais entre EUA e China e União Europeia (EUA) pressionaram as moedas emergentes como o Brasil.
Na sexta-feira, o Bradesco reduziu a projeção de crescimento do PIB em 2018 de 1,5% para 1,1%. Uma das revisões mais importantes foi a do investimento, de 4% para 3,5%. No começo de 2018, o Bradesco chegou a projetar uma alta de 6% para a FBCF neste ano. Mesmo um crescimento dessa magnitude não seria dos mais fortes, uma vez que o investimento encolheu quase 30% entre o quarto trimestre de 2013 e o primeiro trimestre de 2017.
"Houve um aperto nas condições financeiras da economia", afirma Velecico, ao destacar o comportamento da curva de juros e o real mais desvalorizado. O juro real privado de um ano, medido pela comparação do swap de 360 dias e a inflação projetada para os próximos de 12 meses, está na casa de 3,6% ao ano. É um nível consideravelmente mais elevado que os pouco menos de 2,2% observados no fim de abril.
Além disso, o dólar, que chegou a ser negociado a R$ 3,15 em janeiro, está na casa de R$ 3,70 a R$ 3,75, tendo superado R$ 3,90 em alguns momentos deste ano. Isso encarece a importação de bens de capital, impactando "na veia" o investimento, diz Velecico.
Nas contas do Bradesco, a formação bruta de capital fixo encolheu no segundo trimestre 1% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal, a mesma projeção da Tendências Consultoria Integrada. No primeiro trimestre, a FBCF cresceu 0,6% sobre os três meses anteriores.
Para a A.C. Pastore & Associados, o investimento deverá retirar "pontos do PIB" no segundo trimestre. "Nossa estimativa mensal é de que a FBCF cresceu 11,4% em junho [em relação maio], mas isso é insuficiente para alterar o segundo trimestre, que deve ter queda de pouco menos de 1% [em relação ao trimestre anterior]", aponta relatório divulgado ontem. A projeção exata é de um recuo de 0,7% sobre os três primeiros meses do ano, segundo o economista Marcelo Gazzano, da A.C. Pastore. Um dos motivos para a lenta retomada da economia está justamente "no efeito depressor sobre os investimentos em capital fixo vindo das incertezas relativas à disposição de um próximo governo atacar de frente a consolidação fiscal, começando pela aprovação de uma robusta reforma da Previdência".
Na avaliação da consultoria do ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore, passada a greve dos caminhoneiros, a tendência para a atividade é de "continuidade de uma lenta recuperação, sem perspectivas de uma aceleração mais intensa".
A consultoria nota que os principais fatores a influenciar influenciar negativamente a expectativa dos empresários são a lenta retomada da economia e questões como a incerteza política e a falta de confiança no governo. Isso restringe o aumento da formação bruta de capital fixo, avalia a A. C. Pastore, ressaltando que esses aspectos deverão continuar a pesar sobre a confiança dos empresários.
Segundo Gazzano, a consultoria projeta um crescimento de 3,8% para a formação bruta de capital fixo no ano e de 1% para o PIB em 2018. No momento de maior otimismo, chegou a prever uma alta de 5,5% para a FBCF e de 3% para o PIB. Gazzano e Velecico esperam que a economia tenha ficado estável no segundo trimestre em relação ao primeiro.
Estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou uma alta forte do investimento em junho, de 9,4% em relação a maio de 2018, feito o ajuste sazonal, após recuo de 10,4% no mês anterior. O forte crescimento devolveu grande parte das perdas registradas em maio como resultado da greve dos caminhoneiros.
Ainda assim, o indicador encerrou o segundo trimestre em baixa de 0,9% sobre o trimestre anterior. O consumo aparente de máquinas e equipamentos (a soma da produção doméstica com as importações, excluídas as exportações) aumentou 2,3% no período, mas a construção civil recuou 3,4% Já os chamados outros ativos fixos (como propriedade intelectual, lavouras permanentes e gado de reprodução) cresceram 1,3% no trimestre. (Colaborou Thais Carrança). Jornalista: Sergio Lamucci
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Ruy Moura
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