28 agosto 2018

Empresas automotivas precisam buscar novas fontes de receita

Regis Nieto, do BCG, alerta que as atuais fórmulas estão perto de se esgotar

Em poucos anos as tradicionais fórmulas da indústria automotiva deixarão de funcionar e gerar faturamento. “Hoje as receitas vêm da venda de carros, do financiamento, da oferta de peças e do mercado de reposição. Isso tudo está se estagnando e, em breve, as fontes serão outras”, avisa Regis Nieto, sócio-diretor do BCG. O consultor participou do Workshop Planejamento Automotivo 2019, realizado por Automotive Business na segunda-feira, 27, em São Paulo.

O especialista indica que, com a evolução do carro conectado, elétrico, autônomo e compartilhado, o faturamento das empresas que atuam no segmento de mobilidade virá da produção de novos componentes e tecnologias para os veículos, da venda de dados gerados pelo uso de automóveis conectados, de serviços de transporte sob demanda e ainda de soluções de infraestrutura de mobilidade, “como um sistema inteligente de gestão de vagas ou os postos de recarga”, exemplifica.

“Nos próximos anos o dinheiro virá de novos lugares. As empresas que não estão se reposicionando agora vão passar por dificuldade. O setor automotivo vai se transformar mais em dez anos do que nos últimos 100”, alerta.

Ele cita o exemplo da Tesla, que tem valor de mercado próximo ao das maiores montadoras do mundo, mas vende volume equivalente a um centésimo do realizado pelas três maiores empresas do segmento e queima caixa, ainda longe do equilíbrio financeiro. Por outro lado, lembra, a empresa do Vale do Silício trabalha alinhada aos novos modelos de mobilidade, com o olhar voltado às tecnologias do futuro e é aí que está o valor percebido pelos investidores.

PRECISA-SE DE SOLUÇÕES LOCAIS

“Uma das coisas que mais ouço dos profissionais no Brasil é que não dá para desenvolver nenhuma dessas soluções localmente, que as respostas virão da matriz. Isso não é verdade”, assegura Nieto. Segundo ele, há vários desafios que precisarão ser resolvidos localmente, respostas que nenhuma matriz dará. Entre eles está a construção de plataformas de mobilidade com modelos para monetizar os dados gerados e o desenho da infraestrutura para carros elétricos, por exemplo. “Acima de tudo, o consumidor é local e, portanto, precisamos desenhar as soluções certas para ele”, diz o consultor. O cliente, aliás, é visto por Nieto como uma grande oportunidade para as empresas locais.

“As pessoas são muitos conectatas aqui. O Brasil é o segundo maior mercado da Uber e São Paulo, a cidade com mais usuários do Waze no mundo. Se as empresas automotivas não desenharem soluções para esse consumidor, correrão o risco de ficar distantes dele, favorecendo intermediários”
Nieto considera que muitos processos deveriam ser revistos. Entre eles está o modelo atual de concessionárias. Com os clientes tão conectados, é normal que a escolha do carro que vão comprar seja feita em casa, on-line, e a visita a uma loja para fechar o negócio aconteça só depois, para fechar negócio. “Será que não conseguimos melhorar essa experiência? Fazer revendas menores, mais interessantes e oferecer veículos que vão até o cliente para oferecer manutenções mais simples, por exemplo. Não podemos seguir acreditando que são as concessionárias que geram vendas.”

O principal conselho do executivo é, portanto, combinar a agenda global com uma estratégia local. O importante é fazer movimentações no curto prazo. “A transformação está em curso. As coisas já mudaram em muitos aspectos.” GIOVANNA RIATO, AB Leia mais em automotivebusiness 27/08/2018

28 agosto 2018



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