10 agosto 2016

Ibovespa pode alcançar 70 mil pontos em 2017, diz Santander

A bolsa de valores brasileira é a principal recomendação de investimentos do Santander para a América Latina. O diretor de equities do banco espanhol, André Rosenblit, está otimista com o mercado de ações e acredita que o Ibovespa, principal indicador da bolsa de valores, pode alcançar 62 mil pontos no fim deste ano e 70 mil pontos no próximo ano.

O executivo considera que a partir deste semestre devem voltar os movimentos de IPO (oferta inicial de ações) e de follow-on (oferta de ações de empresas que já têm capital aberto). Veja abaixo os principais trechos da entrevista.

Valor: O movimento da bolsa tem mais a ver com o ambiente internacional ou há uma mudança de fundamento das empresas?
André Rosenblit: Um pouco dos dois. O pano de fundo é a enorme liquidez global, em que há uma demanda de US$ 190 trilhões por ações, bônus, private equities e outros ativos alternativos. É muito dinheiro. A soma de todas as bolsas corresponde a um volume de cerca de US$ 60 trilhões e de todos os bonds, em torno de US$ 100 trilhões. Esse é o tamanho da liquidez que todo mundo fala. A minha primeira conclusão é que esse colchão de liquidez vai impedir quedas maiores tanto em bônus quanto em equities nos próximos seis meses. Não concordamos com a visão de muitos analistas de que o S&P já está caro e que o potencial de alta é muito baixo. A nossa visão é que o S&P continuará em sua trajetória de alta, batendo recordes sucessivos. Grande parte disso tem a ver com o "earning view". Hoje, você leva de 18 a 20 anos para ter seu retorno de volta investindo em ações. Em juros americanos, você leva 50 anos. Essa é a primeira análise que o investidor faz em sua tomada de decisão. E o Brasil, sem dúvida, passou a estar no primeiro quartil das preferências dos investidores estrangeiros, que ainda estão "underweight" aqui. Desses US$ 190 trilhões, só US$ 1 trilhão vai para emergentes. E somente 2,8% vão para a América Latina. Então, qualquer pequeno aumento de alocação para América Latina gera um fluxo que mexe muito com as bolsas. Esse é um cenário que deve ocorrer no segundo semestre.

Valor: E como é essa conta de "earning view" no caso do Ibovespa?
Rosenblit: Com o índice negociando a 10,5 vezes o lucro, o "earning view" está em 9,5%. Então, você leva em torno de 10 anos para ter seu retorno de volta na bolsa brasileira. Olhando para as NTN-Bs mais longas [que pagam juro perto de 12% ao ano] você levaria algo como oito anos estando na renda fixa. A taxa de juros no Brasil é muito alta. E é por isso que você tem uma alocação extremamente baixa em ações no Brasil. Mas acredito que isso vá mudar considerando que os juros vão cair.

Valor: Além da queda de juros, que outros elementos locais vocês observam como favoráveis para a bolsa?
Rosenblit: A projeção de crescimento do PIB para 2017, de 2%, com base na confiança do consumidor e do empresário. Vemos a Selic em 10% ou 10,5% no fim de 2017 e o dólar pode cair abaixo de R$ 3,00 no curto prazo. Estabilidade da moeda, juros em queda, cenário político mais favorável, analistas revisando para cima estimativas de lucro das empresas e operações de fusões e aquisições são elementos que devem fazer o Brasil performar bem. Temos um modelo que leva em conta "valuation", fluxo, qualidade de empresas e o Brasil hoje se destaca e é nossa principal recomendação de América Latina, seguido da Argentina e depois do Chile. Em relação a mercados emergentes, o Brasil também negocia com desconto em relação a países grandes e líquidos, como África do Sul, México, China, Indonésia, Malásia. Perde apenas para Turquia, Rússia e Argentina, países que têm histórias políticas e qualidades de empresas mais ligadas a commodities.

Valor: No segundo semestre podemos começar a ver um aquecimento na oferta de ações?
Rosenblit: O "pipeline" vem crescendo não só para IPO (oferta inicial de ações de empresas) como de follow-on (ofertas de ações de empresas que já têm capital aberto). Eu acho que essa é uma excelente forma de o investidor estrangeiro investir no Brasil. Dada a liquidez baixa no Brasil, o IPO é uma oportunidade desse investidor montar uma posição rápida. Então, por incrível que pareça, IPOs maiores são mais fáceis de serem colocados do que os menores. Há oportunidades no setor de consumo e elétrico. O setor de consumo deve ser mais movimentado.

Valor: Qual a sua projeção para o Ibovespa?
Rosenblit: Com base no "upside" [potencial de valorização] das empresas, o índice deve estar acima dos 62 mil pontos no fim deste ano e atingir em algum momento de 2017 os 70 mil pontos.

Valor: E qual é o risco desse cenário positivo para a Bovespa?
Rosenblit: O risco de curto prazo são surpresas políticas ou da Lava-Jato. É menos econômico e mais político. A maior probabilidade é que o cenário benigno prevaleça.

Valor: O câmbio valorizado é mais uma boa ou má notícia para bolsa, pensando nos efeitos sobre a dívida e as exportações?
Rosenblit: Vejo a volatilidade como um fator super importante. Um grande medo do investidor estrangeiro é comprar algo com câmbio a R$ 3,20 e ele voltar para R$ 4,00. Então, a estabilização do dólar tem um efeito muito positivo nessa tomada de decisão. A nossa impressão é que está havendo uma antecipação de entrada de fluxos, que estão represados pela indefinição política. Vemos que empresas com passivos em dólar estão desmontando os hedges e essa tendência deve continuar, levando o dólar para baixo de R$ 3,00. Está entrando muito dinheiro para juros, vai entrar para equities e investimentos em empresas. - Valor Econômico  Leia mais em portal.newsnet 10/08/2016

10 agosto 2016



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