27 agosto 2016

Para presidente da Alvarez & Marsal, linha do BNDES pode ser ‘solução’

A linha de R$ 5 bilhões criada pelo BNDES para a compra de empresas em dificuldade financeira marca uma nova fase no setor de recuperação judicial do Brasil, na avaliação de Marcelo Gomes, presidente da Alvarez & Marsal.

O executivo destaca ainda que a iniciativa do banco de fomento “vai ser importante para viabilizar muitas operações que estão em andamento hoje”. Somente ele está à frente de oito processos de recuperação judicial, como os de Sete Brasil (que faz as sondas de exploração para o pré-sal), Galvão Engenharia, Leader, OAS, GEP (holding do setor de varejo dona de marcas como Gap, Luigi e Bartolli), entre outras. Gomes é responsável ainda por mais de 30 processos de reestruturação e atua em dez casos como administrador judicial.

Como o senhor analisa a nova linha de crédito criada pelo BNDES?

A notícia pegou todo mundo de surpresa. Mas foi uma surpresa positiva. Ver a aquisição de uma empresa em recuperação judicial é algo muito raro e difícil de acontecer no Brasil. A criação dessa linha do BNDES é muito positiva para o mercado de recuperação judicial. Hoje, até existe interesse de companhias em comprar empresas em recuperação judicial, mas o problema é que falta dinheiro. Há uma forte restrição de crédito, pois o banco sempre vai questionar o porquê de se fazer investimento em uma empresa com problemas. É um fato histórico para esse segmento, de fomentar a aquisição. É algo inédito no Brasil e no mundo, pois não há iniciativas desse jeito envolvendo outros bancos de fomento. Só existem fundos de investimentos específicos para comprar empresas em dificuldade.

O valor de R$ 5 bilhões é baixo ou alto?

É um valor alto e vai ser importante para viabilizar muitas operações que estão em andamento hoje. A linha do BNDES vai dar impulso às empresas que estão em processo de recuperação judicial. É uma solução para as empresas que atravessam esse momento atualmente. O foco do governo com essa medida não são as pequenas e médias companhias, e sim as empresas maiores, que empregam muita gente e são grandes geradoras de impostos devido ao tamanho de suas operações, como as envolvidas na Operação Lava-Jato (as maiores construtoras do país), as do setor de agronegócio e as de varejo. Todas têm bons ativos, mas pouco acesso ao crédito.

Nesse caso, haverá uma tendência a comprar apenas ativos ou empresas inteiras em recuperação judicial?

Poderá haver a compra de ativos, de um grupo de ativos ou até mesmo da empresa inteira. A Lei de Recuperação Judicial prevê a criação de Unidades Produtivas Isoladas. Ou seja, as companhias em recuperação judicial podem vender ativos de forma isolada como maneira de gerar caixa e resolver seu nível de endividamento, que é o principal problema. Esses ativos podem ser fábricas, um conjunto de instalações e até a própria marca. E a lei diz que quem comprar esses ativos não carrega os passivos nem as contingências (que são os passivos futuros). E isso cria uma blindagem para quem está comprando. Mas hoje essas operações não ocorrem porque não há crédito.

Que exemplos de negócios podem ocorrer com o uso dessa nova linha?

Podem ocorrer vários tipos de negócios. Um estaleiro, por exemplo, pode vender os contratos para uma outra empresa. Ou então vender uma unidade e, assim, é possível dar continuidade às obras. Uma rede de varejo pode se desfazer de um conjunto de lojas. Ao permitir esse tipo de operação, a empresa em recuperação judicial ou com dificuldade financeira consegue ter um novo panorama. O mercado inteiro vai ganhar, pois vai permitir que grupos saudáveis tenham acesso a bons ativos. Mas é importante ver os detalhes da linha.

Na sua avaliação, essa linha marca uma nova fase na política de empréstimos do BNDES?

É uma iniciativa inteligente porque, se essas empresas não se recuperarem, não vão gerar empregos. Além disso, o BNDES é credor de várias companhias hoje em recuperação judicial. POR BRUNO ROSA Agencia o globo Leia mais fatoonline 26/08/2016

27 agosto 2016



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