23 agosto 2016

Private banking' pode crescer até 16% neste ano

O segmento de "private banking", que reúne as grandes fortunas das famílias brasileiras sob o guarda-chuva dos bancos, deve crescer entre 14% e 16% neste ano, segundo a revisão de projeções da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). No primeiro trimestre, a expectativa era de uma evolução na casa dos 20%. O patrimônio do setor cresceu 7,04%, para R$ 762,6 bilhões até junho em relação a dezembro, ante 6,72% da Selic no período. Na comparação com o primeiro semestre de 2015, houve um incremento de 9,9%.

Sem grandes eventos de geração de riqueza, como fusões e aquisições e aberturas de capital, e com as empresas privilegiando caixa à distribuição de dividendos ao longo do primeiro semestre, a estimativa teve de ser redimensionada.

Segundo o presidente do comitê de private banking da Anbima, João Albino Winkelmann, o segundo semestre já traz perspectivas mais favoráveis para o segmento, com uma sensível melhora no humor do empresariado e a possibilidade de o programa de anistia de ativos não declarados no exterior trazer algum fluxo de repatriação para o Brasil. O prazo para adesão termina em 31 de outubro, mas não há obrigatoriedade do contribuinte trazer o dinheiro de volta para o país. Até aqui, o ingresso de recursos decorrente da anistia assegurada pela Lei nº 13.254 tem sido irrisório, conforme relatos de executivos à frente dos private banking brasileiros.

"A regularização pode dar fôlego para a indústria e dados como desemprego pararam de piorar, a confiança dá sinais de retomada", diz. "Se [o setor] crescer 16% num ano que pode ter 3% de PIB negativo e 12% de Selic média, será muito bom para a indústria." Em meio a expectativas de corte da Selic, a taxa básica da economia, a tendência, diz Albino, é que haja uma maior distribuição do patrimônio em multimercados, fundos cambiais, de investimento imobiliário e bolsa. Por ora, a renda fixa lidera a alocação das famílias mais abastadas.

Em junho, 35% dos recursos estavam em ativos dessa natureza, com R$ 267,3 bilhões, sendo R$ 19,1 bilhões em títulos públicos e R$ 248,2 bilhões em papéis com risco de crédito privado.

"Os investimentos em renda fixa, de fato, roubaram a cena, pois reúnem um tripé imbatível: alta rentabilidade, baixo risco e, muitas vezes, sem carência", diz Albino. "Não tem seguro melhor do que você comprar uma NTN-B [nota atrelada à inflação] que paga IPCA mais 6% ou 6,5%, ainda há bons produtos para quem quer proteger parte do portfólio." Conforme lembra, foi a ampla emissão de títulos isentos de imposto de renda para a pessoa física, como letras de crédito imobiliário e do agronegócio (LCI e LCA), nos últimos anos que fez crescer esse bolo. Só mais recentemente, esses papéis passaram a ter carência de 90 dias.

Agora, com a menor oferta de lastro para esses ativos, paulatinamente os recursos vêm também sendo distribuídos para papéis incentivados com prazos maiores, como certificados de recebíveis imobiliários e do agronegócio (CRI e CRA), com vencimentos entre três e sete anos. Segundo Albino, o aplicador já lida melhor com a falta de liquidez aparente desses ativos, pois os próprios bancos têm dado saída a quem precisa do dinheiro no meio do caminho por haver ainda demanda reprimida a ser suprida entre os seus clientes do private.

A previdência aberta, com R$ 68,1 bilhões, segue ganhando participação no conjunto de investimentos das famílias endinheiradas, com quase 9% em junho, em comparação a uma fatia de 2% em 2009. A despeito das discussões em torno da possível cobrança do Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) em planos PGBL e VGBL, esses veículos ainda são a melhor forma de fazer planejamento tributário e sucessório no Brasil, cita Albino.

Já a parcela em renda variável, que hoje representa 12% do patrimônio, ou R$ 89,6 bilhões, tende a permanecer como uma fatia menor dos ativos dos clientes de private banking, considera Albino, mesmo após o Ibovespa ter subido mais de 35% neste ano.

"A [alta da] bolsa é uma antecipação da melhora do cenário. Mas o cliente private, o mandato que ele nos dá, é de preservação de valor, de não correr muito risco porque, muitos deles, já correm risco colossal no dia a dia em seus respectivos negócios", diz. "Com juros a 14,25%, por que induzir a buscar mais risco na renda variável?"

A fatia tomada em crédito pelo público do topo da pirâmide nos bancos também refletiu o baque na economia, saindo de R$ 29 bilhões no primeiro semestre de 2015 para R$ 27,6 bilhões na fotografia de junho último. Os juros prolongadamente elevados e a atividade mais fraca, cita Albino, têm inibido a contratação de operações como fiança ou capital de giro, com o investidor preferindo resgatar parte da aplicação para fazer frente à participação em um leilão ou uma aquisição de imóvel, por exemplo. O caso mais típico de uso de crédito pelo cliente private é quando ele tem recursos num fundo exclusivo, no qual não incide o come-cotas, o imposto semestral dos fundos abertos. Para não perder o benefício fiscal, o investidor tem que se programar, porém, para apenas um resgate por ano. 23/08/2016 - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 23/08/2016

23 agosto 2016



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