Resistência à crise tona o setor atrativo no Brasil, que deve sentir também efeitos de operações em nível global
Especialistas em fusões e aquisições avaliam que o agronegócio tem espaço para consolidação no Brasil em alguns segmentos. O setor tem sido mais resistente à instabilidade econômica e política no país e deve ser atrativo para investimentos.
“A gente vem acompanhando e o que estamos vendo é que já tem muitos fundos de investimentos olhando para o setor agropecuário”, diz Renato Soriano, sócio da Rosenberg Partners, empresa que atua em áreas como consultoria de investimentos e reestruturação corporativa.
Recentemente, a companhia intermediou no segmento de saúde animal a compra da Valée pela Merck, por meio da MSD. A operação envolve a transferência de 93% do capital e será analisada por autoridades de defesa da concorrência. O negócio foi avaliado em US$ 400 milhões. Após a conclusão, a MSD deve assumir um portfólio de mais de 100 produtos e fortalecer sua presença no mercado latino-americano.
Renato Soriano reconhece que o cenário político e econômico do Brasil ainda é pouco estimulante para investimentos. A atração de capital ainda depende de mudanças na política fiscal e reformas fundamentais. Mas ele acredita em uma perspectiva mais otimista com a eventual efetivação de Michel Temer na Presidência da República.
“Se começarem a vir as reformas, há uma expectativa de redução da taxa de juros, o que é importante. Mas se não acontecer, perde a credibilidade”, alerta o executivo da Rosenberg.
Em meio a essa incerteza, a resistência à crise demonstrada pelo agronegócio brasileiro, diz ele, é só um dos fatores que tornam o setor atrativo. Outro é a taxa de câmbio, favorável para um país que tem as commodities agrícolas entre os principais itens de sua pauta de exportações.
“Claro que, quando a taxa de câmbio vai para 3,80 e cai para 3,30, 3,20, todo mundo reclama. Mas tem que pensar que um ano atrás estava 2,20”, lembra.
Reestruturação de cadeias produtivas
Fusões e aquisições podem ocorrer, por exemplo, quando há a necessidade de reestruturação de empresas de uma cadeia produtiva que passa por problemas. No entanto, elas são mais comuns em situações favoráveis, pondera o head de corporate finance da KPMG, Luis Motta.
Uniões de empresas, diz ele, são investimentos de longo prazo para ganhar competitividade. Redução de custos, ampliação de escala, integração de produtos e serviços e maior poder de barganha com clientes e fornecedores estão entre as consequências desse tipo de negócio.
Motta também acredita que o agronegócio no Brasil mostra um ambiente interessante para consolidação. Menciona, por exemplo, o que chama de nichos como alimentação saudável e café gourmet. “Alguns fundos internacionais que já fizeram negócios relevantes no Brasil tem olhado para o mercado de alimentos saudáveis e prospectado oportunidades”, afirma o executivo, sem fornecer mais detalhes.
O setor aqui no país deve também sentir os efeitos de consolidações em escala global, como a que vêm ocorrendo na indústria de agroquímicos. Gigantes do setor vêm anunciando um movimento de concentração que passará pelo crivo de autoridades de defesa da concorrência em diversas partes do mundo e que já mexe com os mercados agrícola e financeiro.
No dia 11 de dezembro de 2015, Dow Chemical e DuPont anunciaram fusão. A operação foi aprovada no final de julho deste ano pelos acionistas das duas companhias, que esperam a conclusão do negócio ainda neste semestre. Autoridades europeias investigam a operação que pode gerar uma empresa com capital avaliado em US$ 122 bilhões.
Em outro movimento significativo, a estatal chinesa ChemChina anunciou ter feito uma proposta de aquisição da multinacional Syngenta, com sede na Suíça. A operação foi avaliada em US$ 43 bilhões e já foi aprovada por autoridades dos Estados Unidos. O negócio representou um revés para a norte-americana Monsanto, que chegou a oferecer US$ 46 bilhões pela Syngenta.
Posteriormente, a própria Monsanto, que detém algumas das mais utilizadas tecnologias de sementes transgênicas, passou de atirador a alvo do mercado. A multinacional sediada em Saint Louis, no estado do Missouri (EUA), recebeu duas propostas de aquisição pela alemã Bayer, de US$ 122 e US$ 125 por ação. Ambas foram recusadas, consideradas “financeiramente inadequadas”.
“As empresas são internacionais e tomam suas decisões em nível global. O Brasil não é o principal, mas é parte”, explica Motta, da KPMG. POR RAPHAEL SALOMÃO Leia mais em revistagloborural 25/08/2016
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sexta-feira, agosto 26, 2016
Alimentos, Compra de empresa, Consolidação, Investimentos, Plano de Negócio, Tese Investimento, Transações MA, Venda de Empresa
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Ruy Moura
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