24 agosto 2016

No meio das dívidas

O balanço das empresas na bolsa mostra que o endividamento das companhias mais do que dobrou desde 2010. Elas passam por um período de ajuste, o que dificulta os investimentos e as contratações.
 A boa notícia é que, entre as famílias, os dados do Banco Central indicam que as dívidas recuaram ao menor patamar desde junho de 2012. Isso pode estimular novamente o consumo e ajudar na recuperação.

Desde o pior momento, o endividamento total das famílias brasileiras, em relação à renda de um ano, caiu de 46,39%, em abril do ano passado, para 43,38%, em maio deste ano (vejam o gráfico). Isso mostra que os brasileiros estão conseguindo reequilibrar suas finanças, apesar do desemprego e da inflação. O consumo está em queda, mas a renda disponível está sendo usada para a redução do endividamento. Se a conta for feita sem a dívida imobiliária, o ajuste é maior: caiu para 24,83% da renda, patamar mais baixo desde outubro de 2007.

Na bolsa, também houve queda no endividamento das empresas de capital aberto nos últimos meses, principalmente por causa da valorização do real. Mas os dados continuam altos, segundo levantamento feito pela consultoria Sabe. O total das dívidas de 316 empresas não financeiras na bolsa brasileira saltou de R$ 527 bilhões, no quarto trimestre de 2010, para R$ 1,57 trilhão no quarto trimestre do ano passado, o pior momento. No segundo trimestre deste ano, houve redução para R$ 1,45 trilhão, ainda b
astante elevado.

— Quando a gente olha para o total das dívidas sobre a geração de caixa de um ano, o número salta de 2,59 para 10,59 desde o quarto trimestre de 2010. Isso quer dizer que antes as empresas precisavam de dois anos e meio de geração de caixa para pagar as dívidas e agora elas precisam de mais de 10 anos — explicou Luiz Guilherme Dias, sócio e diretor da Sabe.

Na avaliação da consultoria, esse nível elevado de endividamento levará a um processo de fusões e aquisições, com as empresas em dificuldades sendo absorvidas pelas companhias que estão em melhor condição financeira. Mas isso somente depois que a incerteza política diminuir e a economia se estabilizar.

— Cada setor tem uma empresa líder. Então sempre há uma que está indo bem, mesmo na crise. Essas poderão comprar e incorporar as menores, que estão em dificuldade. Os estrangeiros também virão comprar ativos que estão baratos no Brasil — completou Carlos Antônio Magalhães, sócio e diretor na Sabe.

Os números dos balanços mostram que a recessão está tendo um impacto muito forte sobre as companhias, com redução de margens operacionais e baixo retorno para os acionistas, que foi de apenas 7,5%, anualizado, no primeiro semestre. Para se ter uma ideia, quem aplica em títulos do Tesouro tem rentabilidade associada à taxa Selic, que está em 14,25%. As receitas tiveram crescimento nominal de apenas 3,94%, com queda real, ou seja, quando descontada a inflação. Os bancos também estão sentindo a crise. O crescimento das receitas foi de apenas 5%.

Apesar do mau resultado das empresas no primeiro semestre, o Ibovespa acumula alta de 56% desde o pior momento do ano, em janeiro. Saiu de 37 mil pontos para 58 mil. Isso porque o mercado financeiro vem apostando que o pior momento da recessão ficou para trás e que o governo Temer conseguirá aprovar o ajuste fiscal. As estimativas feitas pelo Banco Central com bancos e consultorias também vêm mostrando aumento das projeções para o PIB do ano que vem, que saíram de 0,2%, em abril, para 1,2%, esta semana. Míriam Leitão - miriamleitao@oglobo.com.br / Com Alvaro Gribel (DE SÃO PAULO) Leia mais em cliptvnews 24/08/2016


24 agosto 2016



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