24 agosto 2015

Unigel faz reestruturação e pode trazer sócio

O grupo Unigel, segundo maior do setor petroquímico no país, espera ter contornado o baque financeiro que o afetou desde a crise global de 2008/2009. Com uma dívida de US$ 450 milhões, fruto de investimentos de expansão e aquisições no Brasil e no México, teve de pôr em marcha um plano de sobrevivência.

Ao longo de 2014, o grupo fez uma intensa negociação, durante sete meses, de cerca de US$ 400 milhões de suas dívidas financeiras, profissionalizou a gestão e agora se prepara para uma capitalização. Esse processo pode envolver a venda de ativos, a entrada de um novo sócio e até uma oferta inicial de ações.

A família Slezynger, que é dona de 100% do negócio, já admite que pode se desfazer de uma fatia do capital. O banco Rothschild foi contratado para assessorar nesse processo e todas as oportunidades serão avaliadas.

Por ora, a única coisa certa é que o momento não é propício para uma oferta de ações e que participações minoritárias em negócios que não são estratégicos são candidatas à venda. "A empresa está preparada para uma operação de capitalização. Essa é uma fase boa e queremos mantê-la, porque a noiva fica mais bonita", disse ao Valor.

A chegada de Kröger, que já ocupou cargos executivos e de superintendência em empresas como Rhodia e Vicunha Têxtil, veio na esteira da reestruturação da dívida do grupo. A apresentação de um plano de negócios de cinco a sete anos e a saída da família Slezynger do dia a dia da Unigel teriam sido pré-condições para a assinatura do acordo com os bancos, apurou o gValorg.

Por meio da contratação de uma linha de pré-pagamento à exportação, o grupo renegociou seu passivo financeiro com um grupo de oito instituições, 80% das quais com o Santander, Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e HSBC. "Isso tirou a pressão sobre a companhia", observou Kröger.

Com a operação, sacramentada em setembro do ano passado com carência para pagamento do principal até o fim de 2016, transferiu para o longo prazo o vencimento de 82% de seus compromissos financeiros. Antes, cerca de 80% do endividamento vencia no curto prazo.

"A companhia trabalhava para pagar dívida. Agora, sentamos no caixa e vamos reduzir o endividamento e a alavancagem", afirmou Kröger. Em dezembro, a dívida líquida correspondia a 5 vezes o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) em dólar. Até o fim do ano que vem, a meta é chegar a 3 vezes e novos investimentos, ressaltou o executivo, somente serão aprovados se derem retorno em seis meses.

No ano passado, a receita operacional líquida do grupo totalizou R$ 2,88 bilhões, frente a R$ 2,52 bilhões em 2013, mas o prejuízo líquido foi quase três vezes maior - de R$ 148,8 milhões. O aumento das despesas financeiras e de outras despesas operacionais contribuíram para esse resultado. Neste ano, o resultado melhorou bastante.

Além de completar o processo de profissionalização da gestão, neste o foco é a redução de custos. Kröger conta que, ao chegar na Unigel, passou a buscar com lupa gorduras na estrutura do grupo que possam ser cortadas, o que passou até pela renegociação do contrato de locação do escritório do grupo em São Paulo.

Esses esforços, combinados ao momento favorável vivido pela industria petroquímica global, especialmente no segundo trimestre, diante da forte desvalorização dos preços do petróleo - fonte primordial da matéria-prima do setor -, e do câmbio favorável às exportações, permitiram à Unigel registrar lucro líquido nos seis primeiros meses deste ano, de R$ 11,5 milhões.

O grupo iniciou 2014 com mais de R$ 1,56 bilhão em obrigações financeiras com vencimento no curto prazo e um prejuízo líquido de R$ 50,8 milhões do ano anterior, quando contratou a Estáter para encontrar uma solução para a crise financeira. Por vários motivos, esse caminho não avançou.

Naquela época, ganharam força os rumores de que o grupo fundado por Henri Slezynger estaria à venda. O empresário, que assumiu a presidência do conselho de administração com a chegada do novo executivo, garantiu ao gValorg que essa ideia não existiu, mas admite que uma fatia de seu capital ou determinados ativos que não são considerados estratégicos para Unigel podem passar para as mãos de terceiros.

Em 2010, já com o intuito de se concentrar em suas principais áreas de negócio - hoje são quatro: acrílicos, embalagens, estirênicos e fertilizantes -, a Unigel se desfez de sua participação na Latapack, produtora de latas de alumínio para a indústrias de bebidas.

Também com a família Mariani como sócia, o grupo detém 24% da Engepack, de garrafas PET, e é dono de 100% da Polo Films, fabricante gaúcha de filmes de polipropileno. "As duas alternativas estão sendo analisadas, mas não há pressão de venda", contou Slezynger.

Como parte do processo de profissionalização, a Unigel conta hoje com dois conselhos. Para o conselho de administração, presidido por Henri, foram trazidos nomes de peso do setor industrial: Franklin Feder, ex-presidente da Alcoa no Brasil; Pedro Wongtschowski, ex-presidente da Ultrapar e atual conselheiro; e Ricardo Weiss, ex- Anglo American e ex- Coopersucar. O filho Marc Slezynger, que era vice-presidente do grupo, também foi para o conselheiro.

Um segundo conselho, voltado para a família, reúne o patriarca, Marc e outros três filhos do empresário. A consultoria KPMG foi contratada para assessorar a estruturação dos dois conselhos.
Valor Economico Leia mais em datamark 24/08/2015


24 agosto 2015



0 comentários: