18 agosto 2015

Bancos buscam saída organizada para empreiteiras da Lava-Jato

O Valor Econômico de hoje noticia a existência de um possível acordo tácito entre grandes bancos para encontrar uma saída organizada para a crise envolvendo os grupos Odebrecht e Andrade Gutierrez, além de outras companhias investigadas na Operação Lava-Jato. O que uniria as instituições seria o propósito de evitar um calote generalizado, que poderia trazer riscos ao próprio sistema financeiro, dada a magnitude da dívida de alguns desses grupos.

Conceder crédito novo, conforme o jornal,  segue fora do radar, mas a ideia é evitar soluções drásticas que impliquem o vencimento antecipado das dívidas -- bilionárias, em muito casos -- dessas empresas com os bancos.

Nas instituições financeiras, o entendimento é de  que, se alguém esticar demais a corda, pode acabar ampliando as dificuldades das companhias e deflagrar um calote generalizado. O cenário considerado ideal, na visão do setor, é que os grupos mantenham um mínimo de liquidez enquanto se reorganizam, de forma que as perdas sejam limitadas. "Vejo um grande risco para o setor bancário, mas acredito ser possível contorná-lo", diz um experiente banqueiro.

É dado como certo que as construtoras terão de encolher para sobreviver. Para isso, as companhias precisarão vender ativos, desistir de novos projetos e até devolver concessões que ainda não haviam obtido financiamento, afirma um graduado executivo de banco.

Um sinal disso foi visto semana passada, quando cinco empresas -- Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Techint -- desistiram do contrato de montagem eletromecânica da usina de Angra 3, alegando atrasos da Eletronuclear nos pagamentos.

Projetos que já estavam com financiamento contratado ou em fase de estruturação continuam sendo tocados, mas com muito mais rigor. Segundo um executivo de um banco estrangeiro, os limites de crédito disponíveis anteriormente não foram revistos, mas a liberação dos recursos tornou-se muito mais lenta e criteriosa.

A análise tanto da diretoria de crédito quanto do compliance (área que assegura o cumprimento de normas) dos bancos foi aprofundada. A tomada de decisões também foi desconcentrada e agora passa por um número maior de pessoas numa tentativa de tornar mais fácil a identificação de eventuais problemas, afirma esse executivo. Reuniões de comitês responsáveis por análise de crédito corporativo também estão mais frequentes, conta um outro banqueiro.

Escritórios de advocacia relataram ao Valor que algumas operações recentes foram aprovadas com cláusulas que preveem a possibilidade de vencimento antecipado caso a empresa seja condenada por corrupção. Embora falte clareza sobre como isso funcionaria na prática, há nos bancos a percepção de que a regra ajuda a aliviar pressões sobre as áreas de controladoria para liberar crédito a empresas envolvidas na Lava-Jato.

Segundo um advogado diretamente envolvido na reestruturação das empreiteiras, os bancos estão engajados na busca de soluções e "não viraram as costas" para as companhias. Como exemplo, cita a renovação de alguns acordos de "standstill", período em que os credores deixam de cobrar as empresas, que estavam próximos de acabar. Em contrapartida, nas operações em que é possível, houve um esforço generalizado para se acrescentar novas garantias, que vão desde bens e avais dos sócios das empresas. "Os credores têm pedido tudo o que podem."

É sob esse maior escrutínio que se encontra o financiamento de duas operações importantes para a Odebrecht. Uma delas é um empréstimo sindicalizado de US$ 1,5 bilhão para as obras da linha 2 do metrô do Panamá, negociado com os bancos Citi, Deutsche Bank, Mizuho e Tokio Mistsubishi UFJ. A outra é um contrato de US$ 4,2 bilhões para o consórcio responsável pela construção de um gasoduto no Peru - do qual a empresa brasileira tem 75%.

Em ambos os casos, os bancos não retiraram dinheiro já acenado, mas colocaram o pé no freio para fazer uma análise mais cautelosa. Quando Marcelo Odebrecht, presidente da empreiteira, foi preso, há dois meses, o financiamento ao metrô panamenho estava nos últimos acertos. Até agora, porém, o dinheiro não saiu.

Por outro lado, a Odebrecht Óleo e Gás obteve, no mês passado, US$ 804 milhões junto a um grupo de bancos estrangeiros para financiar a construção de plataforma para a Petrobras e outros sócios no Campo de Libra. Fonte de um banco que participou da operação afirma que os recursos só saíram por se tratar de um financiamento de projeto, no qual o risco dos credores está blindado pela plataforma. "Não estamos correndo o risco do grupo." (do Valor Econômico) Leia mais em cnf 18/08/2015
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Bancos avaliam situação de empresas

Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa são os três grupos considerados mais bem preparados para enfrentar as turbulências trazidas pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Essa é a avaliação de executivos de bancos ouvidos pelo Valor. As companhias com negócios menos diversificados e mais dependentes de obras públicas terão mais dificuldades para se recuperar, afirmam.

Em geral, as dívidas corporativas, incluindo emissões de bônus, não têm garantias cruzadas nem cláusulas que deflagrem o vencimento antecipado em outras empresas do grupo se uma delas inadimplir. É por isso que, mesmo tendo endividamento bruto de R$ 88,4 bilhões para caixa de R$ 24 bilhões, a Odebrecht vem sendo considerada risco “administrável” pelos bancos. Segundo fontes, a companhia vai precisar encolher para atravessar a crise, mas tem como trunfo a gestão financeira, comandada pela vice-presidente Marcela Drehmer, tida como muito eficiente.

Os pontos fracos, na avaliação de banqueiros, são o fato de que o grupo não tem ativos tão óbvios para vender com rapidez e a Odebrecht Agroindustrial, empresa de açúcar e álcool e cujas dívidas são empréstimos tradicionais e não financiamentos a projetos. Um dos ativos mais valiosos do grupo é a Braskem, mas a petroquímica também entrou nas investigações.

No caso da Odebrecht, conforme já noticiado pelo Valor, cerca de um terço da dívida total do grupo tem um perfil de financiamento de projeto (“project finance”, em inglês), o que limita riscos de calotes, uma vez que o próprio empreendimento é a garantia. Outro fator positivo é que o prazo médio dos compromissos é de 12 anos.

Também é considerada contornável a situação de Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. A primeira tinha R$ 11,3 bilhões em dívidas em 2013 (não há dados mais recentes). As participações em Oi, Cemig e CCR podem ajudar a gerar liquidez.

A Camargo Corrêa não abre dados consolidados. A construtora tinha dívida de R$ 339 milhões, sem considerar suas controladas, e a holding do grupo, de R$ 2,4 bilhões no fim de 2014. As participações na CPFL Energia -j á à venda -, no setor imobiliário e, em menor escala, na Alpargatas são consideradas valiosas para levantar recursos. O grupo também agradou os credores ao mudar a estrutura de comando, após a prisão de Dalton Avancini, até então presidente. Em junho, contratou Artur Coutinho, que fez carreira na Embraer, e criou diretoria de governança corporativa. “A resposta levou a companhia a ser olhada de forma diferenciada”, diz fonte de um banco estrangeiro.

Fonte: Valor Econômico – Talita Moreira, colaborou Fernando Torres | Leia mais em sinaval 18/08/2015

18 agosto 2015



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