02 março 2015

Orange confirma interesse na aquisição da TIM na Itália

A companhia de telecom francesa Orange está discutindo uma fusão ou aquisição da Telecom Italia Mobile (TIM), o que daria origem a um gigante pan-europeu do setor. A aproximação foi confirmada pelo diretor-presidente da Orange, Stéphane Richard, que ponderou no entanto que um acordo ainda está distante.

O eventual negócio tem implicações diretas para o Brasil porque, caso evolua, a filial brasileira do grupo TIM poderia ser vendida, uma forma de desonerar a matriz, que tem 30 bilhões de euros em dívidas.

As discussões foram reveladas pelo Journal du Dimanche (JDD), que obteve a confirmação de parte de Richard. O objetivo seria criar uma megaempresa pronta a concorrer em todo o mercado europeu com a britânica Vodafone e em vantagem em relação à alemã Deutsche Telekom.

"Não há negociações, apenas trocas de pontos de vista com os dirigentes (da TIM). Mas esta poderia ser uma bela oportunidade de consolidação europeia", afirmou Richard. "Não é um concorrente e nossas estratégias europeias podem ser complementares."

Falando à agência Reuters às margens do Mobile World Congress, em Barcelona, o diretor-financeiro de Orange, Ramon Fernandez, já havia confirmado que discussões nesse sentido existem, sem se referir à TIM.

Comentando a inevitável consolidação do mercado europeu, com aquisições e fusões entre companhias nacionais - um mercado em si, avaliado em € 130 bilhões -, Fernandez afirmou que o reagrupamento de empresas de diferentes países precisa ser analisado, mas em um segundo momento. "Os mercados nacionais serão racionalizados, e depois se colocará a questão das operações transnacionais ou não. Mas antes disso é preciso ver se há realmente valor a criar por este tipo de operações", disse.

A aproximação entre Orange e TIM é parte do que os analistas europeus vêm chamando de "big-bang das telecoms", o momento de fusões entre grandes empresas já líderes em mercados nacionais. É o caso das operadoras da França e da Itália, absolutas em seus dois mercados, que na eventualidade de serem unidas em uma única companhia dariam origem ao co-líder do mercado na Europa, ao lado da britânica Vodafone.

Em 2013, Orange chegou a cogitar uma aproximação com a alemã Deutsche Telekom, mas a ideia não evoluiu por condições econômicas e políticas complexas. Com a TIM a situação seria inversa. O governo da França, acionista da Orange com 25% das ações, é favorável à aproximação, segundo o JDD. Já o governo da Itália, que não tem ativos da companhia, tem um poder de veto porque a empresa é considerada estratégica, e a posição de Roma ainda é desconhecida.

Por outro lado, os acionistas privados italianos, Generali e Mediobanca, poderiam ver o negócio com bons olhos. A TIM tem alto endividamento - da ordem de 30 bilhões de euros -, comparado a uma capitalização em bolsa de cerca de 14 bilhões d euros.

Uma das alternativas da TIM para se valorizar à espera da negociação com a Orange seria a entrada em bolsa da subsidiária responsável pelas antenas utilizadas pela companhia. A mais importante alternativa, porém, seria a de revender a filial brasileira da TIM, a TIM Participações, empresa que se localiza fora do eixo de atuação da Orange.

O valor de mercado da companhia brasileira seria de cerca de R$ 28,5 bilhões no final de 2014 - o equivalente a 8,8 bilhões de euros -, mas o JDD evoca avaliações de 20 bilhões.

Esse valor seria muito superior aos R$ 31,5 bilhões que as concorrentes da TIM Participações no Brasil, Vivo, Claro e Oi, estariam dispostas a desembolsar para fatiar os ativos da empresa.
Bolsa

As especulações sobre o futuro da TIM na Europa fizeram com que as ações da empresa ganhassem 3% até o meio dia desta segunda-feira, fechando com 1,31% de alta após o desmentido da matriz, em Roma, de que haja negociações em curso.

A onda de consolidações no mercado de telecomunicações da Europa é acompanhado com grande interesse pela Comissão Europeia, que pressiona por melhorias no serviço - em especial pelo fim do roaming internacional, já com data marcada para terminar -, por reguladores nacionais e por analistas do setor, que veem com preocupação a eventual concorrência de gigantes da internet, como Google.

Mas a sinergia entre empresas telecom de diferentes países ainda é incerta. Análise da consultoria BESI Research pôs em dúvida os benefícios do eventual negócio. "Regulamentações diferentes e sobretudo dinâmicas de mercado diferentes tornariam a aproximação da Orange e TIM ineficaz a nosso ver", afirmam os autores.Por Andrei Netto, correpondente | Estadão Leia mais em Yahoo 03/02/2015

02 março 2015



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