A união entre Oi e Portugal Telecom, a compra da rede de farmácias Extrafarma pelo grupo Ultra e o investimento do fundo soberano de Cingapura na holding de saneamento Aegea - todos anunciados na semana passada - deram uma injeção de ânimo no mercado de fusões e aquisições em um ano até agora fraco para essa atividade.
A movimentação dos últimos dias sinaliza a retomada de um fluxo de negócios que ficou represado no primeiro semestre em meio às incertezas no ambiente econômico. Os anúncios confirmam a percepção de banqueiros de investimentos de que as perspectivas para a segunda metade do ano são mais animadoras, tomando como base os negócios que estão em fase de preparativos nos bancos.
"As coisas se acalmaram um pouco. A não ser que venha uma surpresa muito ruim na economia, a tendência é aumentar [o fluxo de operações]", afirma Hans Lin, corresponsável pelo banco de investimentos do Bank of America Merrill Lynch no Brasil.
Se essa trajetória de recuperação for mantida, poderá salvar o setor de um ano muito ruim - ou ao menos minimizar o estrago.
Do começo do ano até a primeira semana de outubro, foram anunciados 514 acordos de fusões e aquisições no país, somando US$ 35,4 bilhões em negócios - o valor no mesmo período do ano passado foi de US$ 52,5 bilhões. O número de operações caiu 32,6%, segundo a Dealogic, empresa que compila dados de mercado.
Não entra na conta a união entre as operadoras de telefonia Oi e Portugal Telecom, que vai movimentar entre R$ 13,1 bilhões e R$ 14,1 bilhões. Pela metodologia da Dealogic, o negócio é contabilizado nas fusões e aquisições de Portugal e não do Brasil.
Critérios à parte, o acordo das teles é o maior negócio envolvendo uma companhia brasileira neste ano. Os atuais acionistas da Portugal Telecom representarão cerca de 38% do capital da empresa resultante, mas no desenho final a operadora terá capital pulverizado, sem bloco de controle.
A fusão das operadoras de telefonia segue a nova onda de consolidação que se vê no setor no mundo todo, mas também é pautada pelo pesado endividamento da Oi e da PT.
Nesse sentido, também está em linha com a tônica que tem sido visível em algumas das maiores transações anunciadas no mercado brasileiro em 2013: a reestruturação de capital.
O movimento de fusões e aquisições sentiu o baque da desaceleração econômica brasileira e isso se traduziu não só no volume, mas também no perfil das operações. Embora consolidação e crescimento ainda sejam o mote preponderante, alguns dos maiores negócios anunciados até agora neste ano têm um viés de reestruturação.
Os exemplos mais evidentes são as várias operações envolvendo companhias do grupo EBX, de Eike Batista. Mas elas não são as únicas. A venda da Seara e da Zenda pelo frigorífico Marfrig, da Alphaville pela Gafisa e de ativos da gestora de recursos do Santander são outros casos influenciados pela necessidade dos vendedores de melhorar sua estrutura de capital.
"Temos visto várias operações com o mote de desalavancagem", observa Renato Ejnisman, chefe do banco de investimentos do Bradesco BBI.
Em momentos de incerteza, é mais difícil fechar operações. Oscilações no dólar, condições mais restritivas de financiamento e dúvidas quanto ao cenário econômico tornam mais complicada a tarefa de vendedor e comprador chegarem a um acordo quanto ao preço dos ativos.
Num ambiente como esse, a não ser que a empresa já tenha negociações avançadas ou se depare com uma oportunidade imperdível, só faz operações quem realmente precisa. "São casos em que a decisão leva menos em conta o ambiente macroeconômico e mais as necessidades da própria empresa", diz Ubiratan Machado, coordenador do subcomitê de fusões e aquisições da Anbima, associação das instituições que atuam no mercado de capitais.
Portanto, os negócios envolvendo reestruturação de capital devem ser olhados como um fenômeno momentâneo e não uma tendência de longo prazo.
"O ano teve um pouco esse viés porque são operações com muita visibilidade. Mas várias transações anunciadas não se basearam nisso [em reestruturação]", afirma Fernando Iunes, diretor de banco de investimentos do Itaú BBA.
Operações que visam crescimento e consolidação - especialmente em setores como varejo e educação, ainda muito fragmentados - continuam sendo o grande apelo do mercado. Foi esse o caso da associação entre as redes de ensino Anhanguera Educacional e Kroton, que movimentou R$ 5,6 bilhões.
Ainda que os investidores estejam mais cautelosos e a economia esteja crescendo menos, o interesse no país não diminuiu, segundo Fábio Mourão, chefe de fusões e aquisições do Credit Suisse: "O Brasil real, que se vê nas ruas, mudou muito pouco. O investidor olha mais para a frente, e não para o crescimento só de um ano".
Além de setores ligados ao consumo, infraestrutura é outro segmento com grande potencial de negócios nos próximos anos, segundo banqueiros. Os leilões de aeroportos e rodovias podem ajudar a aquecer os negócios.
Nem todas as concessões planejadas pelo governo vão entrar na conta de fusões e aquisições, já muitas delas que representam projetos novos e não a compra de ativos existentes. Mesmo assim, podem contribuir para movimentar as atividades ao atrair a atenção dos investidores para esses setores, diz Iunes, do Itaú BBA.
Para os banqueiros, é cedo para dizer se as operações em fase de preparativos serão suficientes para ao menos empatar com o ano passado. A área de fusões e aquisições oferece pouca previsibilidade porque os negócios variam muito em quantidade e tamanho. Às vezes, uma única transação garante um volume maior de um ano para outro, mas não significa que o fluxo de negócios tenha sido mais ativo.
Mourão, do Credit Suisse, diz que "a gente ficou mal acostumada" com o alto volume de operações envolvendo empresas brasileiras nos últimos anos. Por isso, a desaceleração de 2013 chama a atenção. "Mas a volatilidade já diminuiu, as coisas estão se normalizando e o próximo ano também deve ser melhor", afirma.
Jornalista: Talita Moreira
Valor Econômico
Fonte: abradilan 09/10/2013
09 outubro 2013
Companhias voltam às compras.
quarta-feira, outubro 09, 2013
Compra de empresa, Fusões, Plano de Negócio, Private Equity, Tese Investimento, Transações MA, Venda de Empresa
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Ruy Moura
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