29 outubro 2013

Euforia no setor de tecnologia lembra bolha, mas há diferenças

O Twitter Inc. está planejando abrir seu capital numa operação que dá à empresa de microblogs um valor de mercado de US$ 11 bilhões, sem ainda ter gerado lucro. Investidores de capital de risco acabam de atribuir um valor de US$ 4 bilhões à Pinterest Inc., que não produz receita, e a Snapchat Inc., firma ainda mais jovem que não fatura nada, está sendo içada a um valor semelhante.

 Não se trata de 1999, quando empresas pontocom sem fontes de receita abriam o capital e triplicavam de valor em seus primeiros dias no mercado. Quando a bolha estourou em 2000, dezenas faliram, e milhões de pequenos investidores sofreram perdas.

 Agora, as ações de empresas de internet voltam a subir e sinais da exuberância pré-2000 podem ser vistos no Vale do Silício e redondezas. Os preços dos imóveis em San Francisco e arredores subiram mais de 15% desde o ano passado, e o aluguel de escritórios está 23% acima do pico atingido em 2008. 

Para Daniel Cole, gerente de portfólio na Manulife Asset Management que tem investido nas aberturas de capital mais atraentes, incluindo a da firma californiana de publicidade on-line Rocket Fuel Inc., que estreou na bolsa no mês passado, vendendo ações a US$ 29 cada, o impulso não tem muita substância. Ontem, a ação fechou em US$ 58,84, o que dá à empresa, que nunca gerou lucro, um valor de mercado próximo a US$ 2 bilhões.

 Veteranos da tecnologia e finanças dizem que hoje é tudo diferente — e é verdade. As empresas que abrem o capital estão mais maduras, as equipes de liderança mais treinadas, e os modelos de negócio mais testados. Redes sociais como Twitter e Pinterest navegam no sucesso do Facebook Inc., que ostenta um valor de mercado de US$ 126,5 bilhões, ou cerca de 70 vezes o lucro previsto para 2014.

 O atual impulso, no entanto, tem sido acelerado por alguns fatores pouco observados. As grandes empresas, por exemplo, não têm crescido muito e os juros continuam próximos a zero nos Estados Unidos, o que aumenta a ânsia de investir em empresas com um potencial maior de crescimento. Além disso, uma nova lei federal americana permitirá que empresas novatas arrecadem dinheiro de investidores menores, abrindo uma enorme fonte potencial de financiamento.


"As pessoas estão buscando crescimento", diz Kenneth Turek, gestor de uma carteira de US$ 850 milhões no fundo de investimentos em empresas de médio porte da Neuberger Berman que preferiu ficar de fora das aberturas de capital de tecnologia deste ano.

 Mesmo alguns executivos que se beneficiam do impulso questionam suas bases. O diretor-presidente da Tesla Motors Inc., Elon Musk, disse recentemente que o preço das ações da montadora de carros elétricos, que quintuplicou esse ano, "é mais do que merecemos por direito". A Tesla, que registrou lucro em apenas um trimestre desde que abriu seu capital em 2010, está avaliada em US$ 20,6 bilhões, sete vezes o valor das vendas esperadas em 2014, segundo a S&P Capital IQ.

 O diretor-presidente da Netflix Inc., Reed Hastings, disse numa carta a investidores este mês que a firma de aluguel de vídeos está se beneficiando de uma "euforia" de investidores empolgados com o impulso atual. A cotação da ação da Netflix triplicou este ano.

 De qualquer maneira, a obcessão por ações de tecnologia de hoje não se compara com a loucura da era das pontocom. Muitas das empresas abrindo capital contam com receitas substanciais. Quando a Pets.com Inc. completou sua abertura de capital no início de 2000, ela tinha uma receita acumulada de cerca de US$ 6 milhões em toda sua história. Menos de 11 meses mais tarde, a empresa se dissolveu.

 As ações de empresas de tecnologia que abriram seus capitais recentemente estão sendo avaliadas a uma proporção de 5,6 vezes suas vendas, segundo estimativas de Jay Ritter, professor da Universidade da Flórida que acompanha aberturas de capitais. É uma média muito menor que a de 26,5 vezes as vendas vista em 1999. As ações das aberturas de capital das empresas de tecnologia deste ano aumentaram em média 26% no primeiro dia no mercado. Em 1999, a média era de 87%.

 "A grande diferença agora é que firmas como LinkedIn, Twitter e Facebook demonstram capacidade de gerar vendas e, com exceção do Twitter, lucro", diz Ritter. Na era das pontocom, "havia todo o tipo de empresa essencialmente iniciante abrindo o capital".

 Mas investidores também mostram entusiasmo por empresas jovens e de sucesso ainda não comprovado. O Pinterest, serviço para compartilhar imagens e conteúdo on-line que começou a testar anúncios este mês, informou que captou US$ 225 milhões de firmas de capital de risco. O novo investimento dá à empresa de três anos de idade um valor de mercado de US$ 3,8 bilhões, um salto de 52% em oito meses. A Snapchat, um app de mensagens, espera captar até US$ 200 milhões, o que lhe dá um valor superior a US$ 3 bilhões, segundo fontes. E dezenas de outras firmas jovens também estudam abrir o capital para aproveitar o fervor dos investidores. Por ROLFE WINKLER e MATT JARZENSKY

29 outubro 2013



0 comentários: