01 outubro 2011

General Mills e Cargill buscam aquisições no País

Com os ventos desfavoráveis da economia nos Estados Unidos e Europa, a indústria de alimentos americana se volta a países emergentes e mira especialmente o apetite e o bolso do brasileiro.
Em conversa com o 'Estado' em Minneapolis, executivos de duas gigantes do setor disseram ter estratégias parecidas para o Brasil: comprar ativos e acompanhar o crescimento do mercado interno, puxado pela nova classe média.

Tanto a Cargill quanto a General Mills dizem ter no Brasil equipes afiadas analisando oportunidades de aquisição, mas é pouco provável que comecem pelos ativos de R$ 3 bilhões que a BRF - Brasil Foods terá de vender como contrapartida à aprovação da fusão Sadia/Perdigão. 

Quando o assunto é proteína animal, as empresas brasileiras são vistas como muito competitivas nos EUA - onde também têm feito aquisições com apoio do BNDES.
'Não descartamos a possibilidade de entrar no setor de proteína (carne) no Brasil, mas as companhias brasileiras parecem muito fortes nesse setor', diz Thomas Forsythe, vice-presidente de comunicação corporativa da General Mills, companhia mais focada em produtos como cereais e ingredientes.
Mike Fernandez, vice-presidente para assuntos corporativos da Cargill, diz que os ativos da BRF são interessantes, mas admite que grupos como Marfrig e JBS têm mais chances de levá-los. 'A questão não é nosso interesse, que é grande nesse setor, mas a que preço os ativos estão disponíveis', define.
Erro. A Cargill investe pesado em proteína animal nos EUA e na China, mas afastou-se do segmento no Brasil vendendo a Seara para o Marfrig em 2009. A empresa sofria com as barreiras sanitárias da Rússia à carne brasileira e a Seara estava muito dependente da exportação.
'Não foi um erro vender a Seara. Erramos ao não comprar a empresa certa', diz Pat Bowe, vice-presidente da Cargill para a área de ingredientes, que atuou no Brasil na década de 90. Ele se refere à alta dependência da Seara das vendas para a Rússia.
A Cargill viu que tinha poucas chances de reagir num setor onde os produtores brasileiros são competitivos e preferiu vender para reinvestir em outras áreas, como processamento de milho e cana de açúcar. 'A verdade é que não soubemos muito bem como administrar a Seara. Se tivéssemos tido a chance de comprar Perdigão ou Sadia, teríamos feito com melhores resultados.'
Ele não descarta a volta da Cargill ao setor, mas diz que os planos da companhia no Brasil agora, diante do avanço internacional das brasileiras no segmento de carnes, são de acompanhar o crescimento delas como fornecedora de ração. 'Estamos muito interessados em alimentação animal no Brasil, que é um negócio em que somos mais competitivos e temos maior chance de desenvolvimento no longo prazo', afirmou Bowe.
Dona de algumas das marcas de alimentos industrializados mais famosas do mundo, como o sorvete Häagen-Dazs, o iogurte Yoplait e as barras de cereais Nature Valley, a General Mills faturou cerca de US$ 15 bilhões no ano fiscal de 2011, encerrado em maio. Desse total, US$ 2,7 bilhões vieram do exterior, sem contar o resultado de US$ 1,2 bilhão das participações em joint ventures, como a firmada com a Nestlé para a distribuição internacional de cereais.
Para continuar crescendo no exterior, a General Mills elegeu Brasil, Rússia, Índia e China como prioritários, mas com estratégias diferenciadas. Enquanto ergue fábricas para levar produtos à China, o atalho escolhido para mercados maduros, como o do Brasil, é a compra de marcas locais.
'Para oferecer um produto de qualidade, é importante produzir localmente e usar marcas que tenham personalidade. A indústria de alimentos tem um aspecto cultural muito forte. Estamos avaliando várias oportunidades no Brasil. É um mercado de enorme potencial, mas não dá só para começar do zero, apostando em crescimento orgânico, como na China', disse, sem entrar em detalhes.
A General Mills também amargou um fracasso em sua primeira investida de fôlego no País: a compra da tradicional marca de pão de queijo Forno de Minas, em 2001. A multinacional acabou revendendo a empresa aos fundadores, após oito anos de resultados ruins. Forsythe diz que o caso valeu como aprendizado e que, agora, a companhia está mais preparada para dar os passos certos no Brasil.
'Aprendemos muito sobre o mercado brasileiro com aquela experiência. Queríamos uma marca que fosse um diferencial, mas o negócio mudou. O pão de queijo virou uma disputa de preços que não nos interessava. Não gostamos de competir em commodities, mas de construir marcas. Sem entender a cultura do país, não funciona', diz o executivo, de olho no crescimento da classe média brasileira. Por Alexandre Rodrigues
 Fonte:estadao1/10/2011

01 outubro 2011



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