01 abril 2016

Fusões e aquisições: o que falta, mesmo, é dinheiro para novos negócios

Esqueça a desconfiança gerada pela recessão e pela crise política; o que trava as transações é o sumiço do crédito

Onde está o dinheiro? Falta de confiança não é o principal motivo da escassez de negócios

O Brasil vive um clima perfeito para afugentar fusões e aquisições, não? Pense de novo: em janeiro, a norte-americana UnitedHealth, dona da Amil, aceitou pagar R$ 1,3 bilhão pelo Hospital Samaritano; e a Reckitt Benckiser comprou a unidade de preservativos da Hypermarcas por R$ 675 milhões. No mês passado, a paulista JSL anunciou a compra da goiana Quick Logística por R$ 130 milhões. Loucura? Nem de longe. Acredite: muitos outros negócios seriam fechados agora, se não fosse a falta de dinheiro.

“O mercado de fusões e aquisições estaria muito mais dinâmico se houvesse mais crédito”, afirma Carolina Lacerda, diretora da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). O primeiro motivo é que as empresas estão sem dinheiro. Com a crise econômica, as vendas caíram, as margens encolheram, as dívidas cresceram e a prioridade da maioria dos empreendedores, hoje, é se salvar. “As empresas estão focando em reestruturações”, diz Rogério Gollo, sócio da PwC no Brasil para a área de fusões e aquisições.

Outro motivo é que uma característica dos negócios fechados no Brasil é a preferência dos vendedores de receber em dinheiro em vez de outros meios, como a troca de ações. É aqui que as transações esbarram em um problema que assombra os bancos: o calote, consumado ou possível, dos clientes. No ano passado, as instituições financeiras registraram um aumento da inadimplência, inclusive no segmento corporativo, o que as obrigou a elevar suas provisões para devedores duvidosos. Para evitar mais dor de cabeça, os bancos fizeram o óbvio: fecharam a torneira do crédito.

Retorno nas alturas

É verdade que esse raciocínio vale, sobretudo, para empresas que desejam adquirir concorrentes, a fim de ampliar seu mercado, ganhar escala e explorar sinergias. Mas a vida também anda difícil para alguns tipos de vendedores. Um exemplo são os private equities estrangeiros. Muitos deles chegaram ao Brasil na época em que o dólar estava ao redor de R$ 2,50. Agora, com o câmbio a R$ 4, é muito mais difícil se desfazer de um investimento por aqui com a margem de lucro desejável. “Seria preciso um retorno de 150% só para compensar o câmbio”, estima Carolina, da Anbima.

Por outro lado, o dólar alto é uma oportunidade para os estrangeiros que querem entrar no Brasil agora – e eles existem. “Quem pensa no longo prazo está decidido a investir aqui”, afirma Gollo, da PwC. “É apenas uma questão de encontrar o momento certo.” Vários já encontraram. Os estrangeiros responderam por 49 negócios concluídos em janeiro e fevereiro, ante 38 tocados por brasileiros. No mesmo período de 2015, os números foram 58 e 45, respectivamente.

Para Gollo, esse recuo no número de transações não deve preocupar ninguém. Mesmo que reflita, em parte, o rebaixamento do Brasil ao grau especulativo, o sócio da PwC afirma que “não é uma oscilação forte”. Entre as áreas que mais atraem os estrangeiros, neste momento, estão a saúde, agronegócio e empresas no meio de cadeias produtivas (conhecidas como “business-to-business” ou B2B). O que torna o B2B atraente é o fato de que, com a crise, muitas empresas terceirizam suas atividades, o que amplia o mercado de fornecedores e prestadores de serviços. Leia mais em ofinancista 01/04/2016

01 abril 2016



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