17 fevereiro 2016

Gestores estrangeiros já buscam opções no Brasil

Menos pessimistas que os locais, os gestores estrangeiros buscam oportunidades de investimento no Brasil com a queda dos preços dos ativos e a expectativa de uma recuperação dos emergentes no médio prazo. Embora não possuam uma visão positiva para o crescimento brasileiro por ora, os analistas internacionais em geral julgam que alguns investimentos, como os títulos de renda fixa do governo, têm preços de entrada interessantes, que compensam os riscos associados ao país.

Isso não quer dizer que os gestores de portfólio estrangeiros estejam otimistas com o momento atual do Brasil, mas alguns vislumbram boas promessas de retorno mais à frente. "Acreditamos que a situação do Brasil ficará pior em 2016 e esperamos que os ativos arriscados tenham um melhor nível de entrada mais para o fim do ano", afirma Brigitte Posch, gestora da Babson Capital Management e chefe de portfólio corporativo de mercados emergentes.

Gabriela Santos, estrategista de mercado global do J.P. Morgan Asset Management, que fica baseada em Nova York, diz que a melhor aposta agora, na visão internacional, são os títulos soberanos brasileiros. "O consenso é que a renda fixa brasileira, especialmente bônus do governo, realmente já estão precificando o pior cenário. Olhando de fora, as taxas que o governo brasileiro paga já estão bem atraentes", diz.

Além disso, Gabriela diz que tem notado interesse dos clientes institucionais por ativos de emergentes em geral, por conta do preço. "Existe essa expectativa de que, em geral, os emergentes consigam um desempenho melhor no ano que vem", diz. "Os clientes estão olhando o Brasil como um exemplo de um país que já ficou um pouco mais barato e talvez seja uma boa oportunidade", afirma.

Para Brigitte, da Babson Capital, os investimentos mais interessantes neste momento são aqueles com prazos menores. "Os instrumentos mais curtos, com vencimentos até meados de 2017, podem ter um desempenho melhor que ativos mais longos no caso de um 'sell­off' generalizado, especialmente se houver outros rebaixamentos do rating soberano no primeiro semestre de 2016", afirma.

Embora o interesse maior seja em renda fixa soberana, alguns gestores destacam haver papéis interessantes na renda variável. A diretora de investimentos da Fidelity International Rebecca McVittie destaca que o nível dos "valuations" de empresas do país está perto das mínimas desde 2000.

"Isso criou oportunidades seletivas para comprar [ativos de] companhias de boa qualidade a valuations atraentes em relação ao preço histórico", diz. "A Ambev, por exemplo, é uma empresa defensiva, de alta qualidade, eficiente e tem um balanço forte e poder superior sobre os preços, dada sua posição de mercado dominante", cita.

Apesar dessa percepção, Rebecca afirma estar cautelosa com a fragilidade da economia brasileira. Ela considera que para o humor do mercado melhorar com os ativos brasileiros em geral é preciso que a incerteza política seja reduzida. "A estabilização política está no topo da lista de desejos dos mercados financeiros. Além disso, um rali nas commodities também certamente seria benéfico para a América Latina", diz, chamando a atenção para outro fator que tem pesado sobre a atratividade dos ativos brasileiros.

Gabriela, do J.P. afirma que os investidores estão de olho em como a situação política vai afetar o câmbio e, consequentemente, os preços dos ativos do país, e não necessariamente veem a incerteza no campo político como fator determinante para o crescimento. "Os clientes estão olhando o Brasil como um exemplo de país que já ficou um pouco mais barato e talvez seja uma boa oportunidade. O que está impactando a visão final do estrangeiro é a moeda", diz.

Segundo gestores, as perspectivas de crescimento do Brasil, inclusive, são bem menos piores na visão dos estrangeiros. A última pesquisa local Focus, do Banco Central, prevê queda de 3,33% do PIB em 2016 e crescimento de 0,59% em 2017. Já o levantamento da agência "Bloomberg", que compila projeções de analistas brasileiros e estrangeiros, era no fim da semana passada de retração de 2,8% em 2016, e crescimento de 1,2% em 2017, segundo fonte de mercado.

"Há uma grande diferença e é uma maneira objetiva de ver que o sentimento doméstico com o Brasil está mais negativo que a visão internacional, embora esta também não seja boa", afirma Gabriela. "No Brasil, a questão política está impactando a visão econômica e para quem está olhando de fora, isso não está impactando tanto assim a perspectiva de crescimento", diz.

A turbulência nos mercados internacionais, contudo, deve manter os investidores bem seletivos em suas aplicações nos emergentes, analisando os fundamentos de cada país e cada tipo de investimento. "O impacto é sobre o nível de confiança, que continua muito baixo", diz Gabriela.

Os ativos do México são frequentemente citados como os mais atraentes na América Latina. "Em comparação com o resto da região, o México apresenta uma quadro melhor de crescimento econômico", diz Rebecca, da Fidelity.

"Apesar da depreciação do peso no ano passado, a inflação está baixa e o desemprego também, o que sustenta a confiança do consumidor", diz.

Gabriela afirma que o México é visto como um dos emergentes mais seguros e há muito interesse em ativos de renda fixa no país. "É um dos países que crescem de maneira moderada mas constante, tendo ajuda do vínculo com os Estados Unidos e exposição limitada a commodities", diz, acrescentando que ativos da Coreia e Taiwan também vêm chamando atenção.  - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 17/02/2016

17 fevereiro 2016



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