17 fevereiro 2016

Investidores começam a sair do setor hoteleiro

Os investidores estão ignorando os melhores fundamentos que o setor de hospedagem já apresentou em vários anos e vendendo ações de redes de hotéis, uma tendência que pode sinalizar uma queda mais ampla no mercado de imóveis comerciais.

O setor hoteleiro é geralmente um dos primeiros a ser afetado por preocupações com o crescimento econômico.

O motivo é que, enquanto proprietários de imóveis comerciais e shopping centers conseguem garantir anos de receita graças a contratos longos de aluguel, as reservas de hotéis e os valores das diárias flutuam e as viagens são um dos primeiros itens que as empresas cortam em momentos de dificuldade.

Os investidores estão apostando que esse cenário vai começar a se materializar em breve. As ações de operadoras e donas de hotéis e de empresas de propriedade compartilhada (o chamado "timeshare") nos Estados Unidos despencaram mais de 22% em 2015, enquanto as bolsas, em geral, mantiveram-se praticamente estáveis no país. As ações dessas empresas acumulam uma queda de 19% neste ano, segundo o banco Goldman Sachs Group Inc., mais que o dobro do recuo do mercado em geral.

As quedas têm sido particularmente acentuadas em alguns dos nomes mais conhecidos do setor: os papéis da Hilton Worldwide Holdings Inc. e da Hyatt Hotels Corp. acumulam ambos queda de cerca de 25% nos últimos seis meses.

A onda de vendas é a indicação mais recente de que, na mente de muitos investidores, o estresse do mercado financeiro global está prevalecendo sobre qualquer sentimento positivo na indústria. Os mercados têm sido derrubados pelos preços baixos do petróleo, a desaceleração do crescimento da China e receios de que a introdução de taxas de juros negativas por alguns bancos centrais está deturpando o setor financeiro.

"Há mais turbulências em termos do que está ocorrendo no mundo", diz o diretor-presidente do Hilton, Christopher Nassetta. "Isso está fazendo os investidores refletirem e gerando certa cautela."

A mudança ocorre à medida que os investidores começam a reavaliar cinco anos de alta em todo o setor de imóveis comerciais. Grandes fundos soberanos, investidores chineses e outros compradores acabaram provocando uma alta dos preços de prédios comerciais, complexos de apartamentos e hotéis para níveis recordes em muitos dos principais mercados nos últimos anos.

Recentemente, o mercado de imóveis começou a arrefecer em meio a receios de que a desaceleração da economia não sustentaria mais esses preços.

Ainda assim, os fundamentos da indústria hoteleira quase nunca foram tão bons. As taxas de ocupação subiram num ritmo constante e no ano passado atingiram a marca histórica de 66% nos EUA, ante uma mínima de 55% em 2009, segundo a STR Inc., que monitora dados do setor. Enquanto isso, as diárias dos quartos continuam a subir. E o faturamento dos hotéis está perto de níveis recorde.

A consultoria PricewaterhouseCoopers LLC prevê que a receita por quarto disponível vai subir 5,5% neste ano. Isso marcaria o sétimo ano seguido de crescimento acima de 5%, a mais longa sequência de alta do setor, de acordo com a STR.

O sucesso, porém, incentivou incorporadoras a começar a construir de novo, após anos de marasmo. A PricewaterhouseCoopers prevê que a oferta vinda de novos hotéis vai crescer 1,9% neste ano, o que estaria em linha com a média de longo prazo da indústria. Em 2017, a oferta deve crescer outros 1,9%, afirma a STR.

"Você compra [ações de hotéis] quando o crescimento da oferta está parado ou muito baixo, e você vende quando a oferta está acelerando", disse Steve Kent, analista do Goldman Sachs para o setor de hospedagem, numa nota de janeiro.

Além disso, a atuação crescente de empresas de compartilhamento de acomodações, como o Airbnb Inc., está contribuindo para o aumento da oferta de uma forma que a indústria ainda não reconheceu completamente, segundo o Goldman. O Airbnb vai responder por 5,4% da oferta total de quartos nos EUA neste ano, de acordo com Goldman, que prevê uma alta deste percentual para mais de 14% até 2020.

O período de vários anos de aumento nos preços dos imóveis no setor hoteleiro também parece estar ameaçado. Isso porque uma grande categoria de compradores, os fundos de investimento imobiliário (Reit), têm vendido imóveis e com frequência usado os recursos para sustentar os preços baixos das suas próprias ações.

O Host Hotels & Resorts Inc., o maior do gênero, anunciou em novembro que tinha concluído um programa de recompra de ações no valor de US$ 500 milhões. O FelCor Lodging Trust Inc. informou recentemente que estava preparando a venda de cinco hotéis para pagar dívidas e recomprar ações.

Fundos de privaty equity e outras firmas de investimento também enfrentam dificuldade para obter empréstimos e financiar aquisições.

Alguns receiam que a queda nos preços do petróleo também levará os fundos soberanos do Oriente Médio a reduzir seu apetite por hotéis e temem até que eles vendam propriedades. Recentemente, um fundo do governo de Dubai vendeu uma fatia minoritária no W Hotel, no centro de Manhattan, diz uma pessoa a par do negócio.

Ainda assim, Nassetta, do Hilton, espera uma melhora no cenário atual. O ano passado foi o melhor para o Hilton em termos de expansão global, com a rede oferecendo mais de 100 mil quartos por meio de acordos e abrindo hotéis com cerca de 50 mil quartos. Ele espera "um ritmo semelhante" em 2016.  - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 17/02/2016

17 fevereiro 2016



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