19 fevereiro 2016

Crescimento adiado para 2018

A primeira recessão do país nos últimos seis anos é mais profunda e deve durar mais tempo do que o imaginado até pelos mais pessimistas. Dois indicadores divulgados ontem mostram que a recuperação da economia brasileira está mais distante. A Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) previu queda de 4% no Produto Interno Bruto ( PIB) este ano, 2,8 pontos percentuais maior do que o tombo de 1,2% da projeção anterior, feita em novembro.

Foi o piora mais intensa de estimativa entre os países acompanhados pela entidade. Para 2017, a expectativa da OCDE é de estagnação da economia, ante previsão de crescimento de 1,8%, feita três meses antes. No mesmo dia, o Banco Central informou que o encolhimento do PIB brasileiro em 2015 chegou a 4,1%, segundo o IBC- Br, considerado uma espécie de prévia do PIB oficial, calculado pelo IBGE. Com isso, alguns economistas já esperam nova contração da economia no ano que vem, adiando para 2018 qualquer expectativa de volta do crescimento.

Destinada a repetir neste ano o desempenho negativo de 2015, a economia brasileira terá ainda de lidar com um agravante da crise: a piora da situação das famílias, que sofrerão mais com alta do desemprego, queda da renda e corte no consumo. Essa constante deterioração, segundo economistas, é causada pela incapacidade de reação do governo para estancar a crise econômica e também pela queda brusca da confiança de consumidores e empresários.

— O quadro é muito ruim, e a gente não vê alternativa. O governo foca em CPMF, que resolve só o seu problema fiscal, e não soluciona o problema da economia — ressaltou o economista- chefe da corretora NGO, Sidney Nehme. — Não me lembro de ter visto uma situação dessa nem mesmo nos anos 80, quando o Brasil ficou insolvente (deu calote).

‘SAUDADES DA CRISE DE 2009’
Nehme lembra que o BC já trabalha — nos bastidores — com uma previsão de retração de 3% neste ano. E que, normalmente, essa estimativa é mais conservadora e revista ao longo do ano. Por isso, ele diz acreditar num novo tombo de 4% da atividade neste ano.

No mercado, os analistas preveem uma queda de 3,33% neste ano e de 3,8% em 2015, de acordo com as estimativas do Boletim Focus, pesquisa realizada BC. Mas, ontem, após a divulgação do IBC- Br, alguns redesenharam o cenário para pior. Foi o caso de Alex Agostini, economista- chefe da Austin Rating. Sua expectativa de recessão no ano passado saltou de 3,5% para 3,8%. Para este ano, ele está um pouco mais otimista que os colegas, mas também piorou a aposta: de queda de 2,6% para - 2,9%.

— A cada tempo que passa sem medidas concretas do governo, a situação piora. O governo, apesar de ter os instrumentos na mão, não tem condições políticas. Quem diria que teríamos saudade da crise de 2009? — questiona o economista.

Há sete anos, no auge da crise financeira internacional, o governo agiu rapidamente para evitar o contágio das turbulências globais. Agora, os instrumentos de estímulo à economia — como a oferta de crédito — estão esgotados e não surtem mais efeitos. De acordo com os analistas, isso acontece porque as reformas importantes para o aumento da credibilidade e da competitividade não foram feitas.

E isso se refletiu no IBC- Br, que influencia muito as projeções porque é considerado um indicador antecedente do dado oficial do PIB. Apesar das diferenças metodológicas, o IBC- Br traduz o que os números setoriais têm revelado nos últimos meses: a crise é mais profunda do que o esperado. O número foi o pior desde o início da série histórica, há 13 anos. Em dezembro, a atividade econômica recuou 0,52% e ficou no terreno negativo pelo décimo mês seguido — o maior período de retração desde a criação do indicador.

— Agora, vamos ter de trabalhar com a retomada do crescimento apenas em 2018.

Isso se algo for feito até lá — previu Nehme.

José Marcio Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC- Rio, também está entre os que veem risco de mais um ano de retração. Para ele, a recessão em 2016 já está contratada. Só o carregamento estatístico — espécie de “herança” do resultado do ano passado — já está negativo em 3%. Em 2017, estima, o desempenho da atividade econômica deve ficar entre a estabilidade e retração de 1%. O cenário, afirma o especialista, ainda é nebuloso:

— O Brasil não vai acabar. Em algum momento para de cair. A pergunta é quando volta a crescer.

Para Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/ FGV), o maior problema é conciliar o equilíbrio fiscal com o estímulo da economia. Ela também prevê queda em 2017, de 0,4%. Com as contas públicas desarrumadas e despesas difíceis de cortar, a saída do governo tem sido aumentar impelo postos. Mas o efeito disso na inflação faz com que o BC tenha de ser mais rígido na política monetária. Ou seja, não pode cortar juros. O crédito apertado, por sua vez, estrangula famílias e empresas.

— Temos um elefante fiscal na sala, e ninguém pode se mexer.

Rodolfo Margato, economista do Santander, ainda traça cenário positivo para 2017 — alta de 1,2% —, mas admite que a projeção pode mudar.

— A gente reconhece os riscos sobre essa projeção. Trabalhamos com comprometimento mínimo de ajuste fiscal e alguma acomodação do ambiente político. É claro que, na ausência desses elementos, a percepção de risco sobe, e a melhora de investimento é interrompida.

Em um ano marcado pelo pessimismo, as boas notícias devem vir da indústria, afirma Antonio Corrêa de Lacerda, professor de Economia da PUC- SP. Embalado pelo dólar mais alto, o setor pode ter um ano menos negativo.

— O resultado total da indústria ainda será negativo entre 3%e 4%, mas, de qualquer forma, já mostra uma melhora do ritmo de queda ( frente à perda de 8,3% do ano passado).  O Globo -  Leia mais em abinee19/02/2016

19 fevereiro 2016



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