20 novembro 2015

Onda de compras torna Alibaba um gigante chinês com muitos tentáculos

O grupo de comércio eletrônico Alibaba, liderado por Jack Ma (centro), gastou US$ 23,9 bilhões em aquisições desde 2014.

O presidente do conselho executivo do Alibaba Group Holding, Jack Ma, gosta de atribuir o sucesso de sua companhia às “mulheres chinesas perdulárias” que adoram fazer compras on-line. Mas o gigante do comércio eletrônico também está passando por uma febre compradora.

Nos últimos dois anos, o Alibaba comprou empresas tão diversas como um time de futebol, um estúdio cinematográfico e uma rede de varejo de eletrônicos. E as somas gastas são altas. Segundo a fornecedora de dados Dealogic, o Alibaba fez 47 aquisições desde 2014 em negócios avaliados em US$ 23,9 bilhões. É quase o montante que a empresa arrecadou quando estreou na bolsa, há pouco mais de um ano. Com a operação, a maior abertura de capital do mundo, o Alibaba levantou US$ 25 bilhões.

Alguns investidores receiam que Ma esteja construindo um império difícil de gerir, o tipo de conglomerado que tem de tudo e que há tempos não agrada Wall Street. Parte do ceticismo pode ser visto na cotação das ações do Alibaba. Embora tenham se recuperado nas últimas semanas, ela ainda está cerca de 35% abaixo do recorde de um ano atrás, devido a preocupações em relação à estratégia da empresa e à desaceleração econômica da China.

Pode ser tentador rejeitar a estratégia de aquisições do Alibaba, alegando falta de clareza e lógica. Mas isso seria prematuro.

Três dos maiores negócios do Alibaba neste ano cumpriram duas missões: protegeram a companhia de concorrentes e ampliaram seu portfólio nos setores de comércio eletrônico, logística e telefonia móvel.

Em fevereiro, o Alibaba fez um investimento de US$ 590 milhões na Meizu Technology, uma das maiores marcas de celulares da China. O acordo deu ao Alibaba maior presença no setor de telefonia móvel e potencial para concorrer com a fabricante de celulares Xiaomi, que é bem-sucedida no mundo do comércio eletrônico.

Em agosto, o Alibaba pagou US$ 4,5 bilhões por uma fatia de quase 20% da varejista de eletrônicos Suning Commerce Group, uma de suas principais concorrentes. Com a aliança, a Suning uniu sua rede de logística à subsidiária de logística do Alibaba, posicionando melhor a empresa para competir com a JD.com, que possui seu próprio serviço de logística.

Em outubro, o Alibaba fez uma oferta para comprar cerca de 80% do site de vídeos Youku Tudou que ainda não possuía. O acordo avaliou o Youku Tudou em US$ 4,6 bilhões. O site, uma espécie de YouTube chinês, tem mais de 500 milhões de visitantes individuais por mês que representam potenciais clientes para as plataformas de comércio eletrônico do Alibaba. Ele ajuda o próprio Alibaba a se competir com a rival Tencent Holdings, que tem uma presença significativa no setor de vídeos on-line.

Qual o maior benefício dessas aquisições? O Alibaba pode criar um amplo perfil de um usuário que compra no Taobao — sua plataforma de varejo para pequenas empresas — , e paga usando o Alipay, sua filial de pagamentos eletrônicos, e assiste a vídeos no Youku Tudou, diz Lin Chen, professora de marketing da faculdade de Administração Internacional China Europa, em Xangai. Os dados de postagens no Weibo, rede social na qual o Alibaba tem uma participação, também ajudam.

O Alibaba pode usar essas informações para determinar se um usuário se qualifica para receber mais empréstimos do Ant Financial Services Group, unidade de serviços financeiros da empresa, diz ela. “Isso só pode acontecer na China, porque as regulações sobre privacidade on-line ainda não são abrangentes.”

Os investimentos do Alibaba no Youku Tudou e no Weibo também fornecem à empresa de comércio eletrônico pontos de acesso de tráfego móvel, algo em que o Alibaba fica aquém em relação ao aplicativo de mensagens e chamadas WeChat, da Tencent, que possui 650 milhões de usuários ativos por mês.

Os rivais do Alibaba também estão em plena ação. Nos últimos dois anos, a Tencent realizou 67 negócios avaliados em US$ 16,9 bilhões, segundo a Dealogic.

“Muitos desses negócios são defensivos, para evitar que a concorrência abocanhe uma boa empresa”, diz Haitao Dong, gerente de portfólio da Everbright Asset Management, em Hong Kong. Segundo Dong, seu fundo atualmente não possui ações do Alibaba.

O Alibaba e outros veem oportunidades em áreas como comércio eletrônico, comunicações, entretenimento e serviços financeiros porque esses setores na China não estão tão estabelecidos quanto nos Estados Unidos.

“A mentalidade deles agora é de conquistar território”, diz Duncan Clark, presidente do conselho da consultoria BDA China. Clark foi consultor do Alibaba e vai lançar um livro sobre a companhia no próximo ano.

O Alibaba e seus concorrentes também estão comprando enquanto podem. As leis antitruste relativamente novas da China têm se concentrado, até o momento, principalmente em empresas estrangeiras, o que não deve durar.

Muitos executivos da área de internet da China questionam se o Alibaba tem mesmo capacidade de absorver tantas novas empresas e novos empregados.

Nas bolsas, o desempenho do Weibo e do Momo — o aplicativo de namoro virtual que representa outro investimento do Alibaba — tem sido desapontador, levando a gestão do Momo a propor que seu capital seja fechado numa aquisição privada. O estúdio de cinema Alibaba Pictures Group, que tem ações negociadas na bolsa de Hong Kong, nunca deu lucro.

Em uma entrevista recente a um jornal de Pequim, Ma citou o navegador para dispositivos móveis UCWeb, que é um condutor da estratégia móvel do Alibaba, e os mapas Gaode, que compete com o serviço de mapas amplamente usado do Baidu, como exemplos de sucesso das aquisições do Alibaba. Mas ele também disse que há muitos casos de fusões e aquisições que fracassaram no mundo corporativo. “Não é possível ter sucesso em todos os casos”, diz ele.

Mas Ma negou que o Alibaba esteja construindo um império.

“Impérios têm que roubar e conquistar”, diz ele. “Eles têm que atacar e lutar muito. Quantos impérios tiveram um bom final?” Por LI YUAN Leia mais em thewallstreetjournal 20/11/2015



20 novembro 2015



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