O real tende a se desvalorizar inicialmente em reação a uma alta dos juros americanos em dezembro, mas num segundo momento é possível que os investidores vejam o país como uma opção interessante, diz Marc Chandler, chefe de estratégia de câmbio do banco Brown Brothers Harrimam (BBH). Para ele, o país pode ter apelo a "muita gente" porque a moeda já se depreciou muito e os juros são muito elevados.
Em conversa recente com clientes na Ásia, Chandler diz que muitos sugeriram que olham o "Brasil de perto como uma nova oportunidade". Ele destaca, porém, as dificuldades políticas do país, que podem "exacerbar" os problemas econômicos internacionais.
A aposta numa alta dos juros em dezembro cresceu mais depois da divulgação na sexta-feira dos números do mercado de trabalho de outubro, que mostraram a criação de 271 mil empregos. Chandler considera a elevação no mês que vem como bastante provável, mas não como inevitável. Ele via espaço para o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) aumentar os juros em junho e setembro, e a instituição adiou o aperto. Para o analista, a situação dos EUA não justifica mais juros no chão, fixados num quadro emergencial.
Chandler afirma que moedas emergentes e empresas desses países com dívida em dólar podem ficar pressionadas com a alta de juros pelo Fed, pelo menos num primeiro momento. "Muitas empresas ainda estão vulneráveis", diz ele, lembrando que muitas crises nessas economias nos últimos 30 a 40 anos começaram depois do início do aperto monetário nos EUA.
Uma boa notícia é que a elevação dos juros americanos tende a ser muito gradual. Além disso, outros bancos centrais como o da zona do euro e do Japão adotam políticas monetárias expansionistas, contribuindo para manter elevada a liquidez global, diz ele. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Valor: Janet Yellen disse que uma alta dos juros em dezembro é uma "possibilidade real" e os números do mercado de trabalho em outubro foram muito fortes. Uma elevação em dezembro é inevitável?
Marc Chandler: Ainda há um bom tempo até a nova reunião do Fed. Achei que o Fed elevaria os juros em junho e em setembro, e eles não aumentaram. Mas eu de fato acredito que o Fed vai elevar os juros em dezembro, e eu pensava isso antes dos números do mercado de trabalho. Esses dados são um passo muito importante. Quem tem exposição cambial e está receoso quanto a juros mais altos tem um bom motivo para se preocupar.
Valor: Quais os principais impactos de uma alta dos juros em dezembro para os mercados globais?
Chandler: Uma alta dos juros nos EUA é boa para o dólar, e moedas de mercados emergentes tendem a se enfraquecer. O problema é que muitos países e empresas emergentes tomaram dólares emprestados quando a divisa americana estava barata e os juros estavam baixos. Muitos países ainda têm um descasamento de moedas. Isso significa que muitas empresas ainda estão vulneráveis. Várias das crises dos mercados emergentes nos últimos 30 a 40 anos ocorreram depois de o Fed começar a aumentar os juros. Muitos de nossos clientes dizem que ainda têm disposição de carregar o risco de crédito dos emergentes, mas não querem o risco cambial. Com isso, mudam de títulos em moeda local para títulos em dólar.
Valor: O Brasil e outros emergentes vão ser afetados principalmente pela desvalorização do câmbio e pelo efeito da moeda mais fraca sobre empresas endividadas em dólar?
Chandler: Sim, esse é um canal importante. Há um outro ponto. O que é bom para os mercados emergentes? Quando a economia americana está fraca e o Fed tem que baixar os juros? Ou é melhor quando a economia americana mostra alguma resistência? Nós criamos em outubro mais empregos do que em qualquer outro mês. Essas coisas nem sempre funcionam de um modo linear. Há fatores negativos quando o Fed eleva os juros. De outro lado, uma economia americana forte, robusta e vibrante é boa para os emergentes em geral e também para o mundo.
Valor: É apropriado o Fed aumentar dos juros em dezembro? O dólar está valorizado e a demanda global está fraca, afetando o setor manufatureiro nos EUA.
Chandler: O problema é que os juros básicos foram fixados entre zero e 0,25% ao ano numa emergência. Não acho que a situação dos EUA, e nem a economia global, exige que a política monetária americana esteja num quadro emergencial. Um dos perigos é que, se algo ruim ocorrer e a economia americana se enfraquecer, o Fed não terá ferramentas tradicionais de política monetária à sua disposição. O Fed não teria espaço para cortar os juros.
Valor: Seria necessária uma quarta rodada de compra de ativos, um QE4, por exemplo?
Chandler: Exatamente. Acho que é melhor para o mundo que os EUA possam começar a responder usando ferramentas convencionais de novo.
Você apontou que o setor manufatureiro americano está enfraquecendo. Há hoje uma distância expressiva entre o índice de atividade no setor de serviços e no manufatureiro. Mas a indústria manufatureira é uma parte relativamente modesta da economia.
Valor: Qual é a trajetória que o sr. espera para os juros depois da primeira alta?
Chandler: Algumas instituições esperam quatro aumento dos juros no ano que vem, uma elevação a cada duas reuniões do Fed. Acho que isso é muito agressivo. O Fed tem uma ferramenta neste ciclo que ele não tinha no último.
Há cerca de US$ 220 bilhões de títulos do Tesouro que vão vencer no ano que vem em posse do Fed. Parte do aperto monetário em 2016, eu suspeito, não vai se dever apenas à elevação do preço do dinheiro, mas porque o balanço do Fed vai encolher um pouco. Além disso, a fraqueza dos preços do petróleo vai manter baixa a inflação cheia, mas também fará com que o núcleo fique modesto. Eu acredito em duas altas no ano que vem, podendo haver uma terceira.
Valor: Ao mesmo tempo que o Fed vai aumentar os juros, outros bancos centrais têm políticas monetárias mais expansionistas. Em que medida isso pode compensar o impacto da alta nos EUA? Chandler: Além da ação expansionista do Banco Central Europeu e do Banco do Japão, acho que há espaço para o Banco do Povo da China cortar os juros de novo, e BCs de outros grandes países também podem reduzir as taxas. Acho que o aumento gradual dos juros nos EUA e a continuidade do relaxamento em outros países ainda vão propiciar um clima de investimentos bastante líquido.
Valor: Para um país como o Brasil, o que significa essa combinação de aumento gradual dos juros nos EUA e expansionismo monetário em outros países?
Chandler: O que faz a situação do Brasil mais delicada é que, além dos desafios econômicos, como os preços das commodities em baixa e uma China mais fraca, há desafios políticos. Isso pode exacerbar os problemas econômicos, se houver um impeachment da presidente Dilma Rousseff ou se o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sair do governo. O Brasil está numa posição difícil, com inflação alta e uma economia em contração.
Valor: O Brasil será visto como um dos emergentes mais frágeis?
Chandler: A moeda brasileira já enfraqueceu bastante. Opções de "high yield" [de maior risco, mas que oferecem maior rendimento] vão atrair as pessoas, mas será necessário passar a primeira alta dos juros americanos. Os investidores vão procurar um piso para os mercados emergentes. Eu suspeito que ainda seja muito cedo, mas acho que o Brasil, por causa da forte desvalorização da moeda e dos juros elevados, poderá interessar a muita gente. Eu estive por duas semanas na Ásia, falando com clientes, no Japão, em Hong Kong e na China. Muitos deles sugeriram que estão olhando o Brasil de perto como uma nova oportunidade.
Valor: O senhor espera que o real se desvalorize mais depois da alta dos juros americanos? Chandler: Pelo menos inicialmente, acho que deve se desvalorizar.
Investidores de longo prazo não vão se sentir seguros até depois da metade de dezembro, o que na verdade significa até o começo do ano que vem. Pode haver alguém que tente escolher um piso neste ano, mas o dinheiro grande vai esperar até o ano que vem, ver como os mercados respondem a uma eventual alta dos juros nos EUA em meados de dezembro, e daí fazer algo no começo de 2016. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 11/09/2015
09 novembro 2015
Investidores olham Brasil como opção
segunda-feira, novembro 09, 2015
Compra de empresa, crise, Desinvestimento, Investimentos, Oportunidades, Tese Investimento, Transações MA, Venda de Empresa
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Ruy Moura
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