12 outubro 2013

Vender ou crescer?

Antes de decidir, é preciso tentar entender por que, afinal, a família cogitaria a possibilidade de vender sua empresa

 Como decidir o futuro de uma empresa familiar em um cenário de desentendimento?
– Você não vai para a reunião, Mauricinho?
– Vou. Mas, antes, tenho de passar em casa e pegar minhas armas. Afinal, na empresa, quem fala mais grosso leva vantagem!

contexto acima, um tanto exagerado, é claro, representa o sentimento nas reuniões de acionistas de muitas empresas familiares. São desentendimentos sobre a melhor maneira de conduzir os caminhos da organização, sobretudo quando há o afastamento de seus fundadores. Todos querem a herança que vem de seus pais, mas poucos querem continuar o legado que eles deixaram. Aí ficam no dilema de vender a empresa, e cada um seguir a sua vida, ou profissionalizar a gestão e crescer com os negócios.

 É muito importante analisar alguns pontos antes de tomar essa decisão. Vender uma empresa é um processo desgastante, decepcionante, que requer fôlego e disposição de todos os envolvidos.

 Quando o assunto é venda de uma empresa, algumas considerações são necessárias. O comprador não valoriza o legado que foi construído com esforço, dedicação e renúncias. Ele apenas analisa os números e a capacidade de geração de receita e de caixa. Ou seja: ele tem em mente atingir os seus próprios objetivos – que, certamente, não são os mesmos daqueles que estão vendendo o negócio.

 E por que as famílias querem se desfazer das suas empresas? São raras as vezes que encontramos famílias que querem se desfazer da empresa porque o negócio é ruim. Na grande maioria das vezes, a dificuldade de gestão é o maior empecilho. Ora, se a grande dificuldade é a gestão da empresa, se a família (ou parte dela) depende e sobrevive do negócio, certamente o foco não deve ser se a venda da empresa, e sim o acerto e a estruturação de sua gestão.

 A principal saída é a profissionalização da gestão. Que, se bem conduzida, leva dez em cada dez empresas ao sucesso e à conquista dos seus objetivos.

 Há alguns dias, ouvi de um acionista que conseguir isso era um sonho que parecia impossível na empresa dele. Eu lhe respondi que esse espetáculo maravilhoso, o de fazer a empresa crescer, desenvolver-se, modernizar-se e se fortalecer era plenamente factível. Para isso, porém, alguns cuidados precisam ser tomados. Primeiro, é preciso definir claramente aonde a empresa pode e quer chegar – nada que um bom e correto plano de negócios não mostre com clareza. Além disso, os sócios precisam abandonar as vaidades e os estrelismos. Na profissionalização da gestão, cada sócio deve se preparar para trabalhar muito. Não mais dentro da empresa, obrigatoriamente, mas como conselheiro e orientador, mostrando aos profissionais o que se espera deles. No final das contas, se a decisão for mesmo vender, é preciso preparar a empresa para a transição. Será preciso ter profissionalismo, foco, decisão e competência.

 Arrumar a casa, atualizar balanços e estoques, ter informações confiáveis sobre dívidas, compromissos e passivos, bem como aspectos positivos (tais como perspectivas de crescimento), são detalhes que demonstram ao comprador que a empresa é organizada. Mais do que isso, mostram que ela está pronta para continuar funcionando e que a opção pela venda é apenas uma alternativa estratégica da família – e não representa um desespero inadiável.

 Agindo dessa forma, seja qual for a decisão, com certeza o Mauricinho não precisará de suas armas para as reuniões de sua empresa. Afinal, a vida é muito bela e linda para desperdiçarmos com brigas e grosserias. Por Marco Andrade | Conselheiro de empresas, formado pelo IBGC e especialista em governança corporativa. É diretor-presidente da Prodeg, com 23 anos de atividades
Fonte: amanha 11/10/2013

12 outubro 2013



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