09 julho 2019

As estrelas podem se alinhar para o Brasil’, diz ex-diretor de Política Monetária do Banco Central

Confira entrevista com Rodrigo Azevedo, sócio da Ibiúna Investimentos, que faz a gestão de mais de R$ 6 bilhões

A rápida mudança nas perspectivas de juros dos Estados Unidos - de alta para queda - poderá representar uma janela de oportunidade para o Brasil retomar a trajetória de crescimento, avalia o ex-diretor de Política Monetária do Banco Central Rodrigo Azevedo.
Ele explica que, se os juros americanos forem reduzidos, pode haver aumento da liquidez mundial no segundo semestre e o Brasil deve se beneficiar desse cenário, se já tiver aprovada a reforma da Previdência e sinalizar com uma nova agenda pró-ambiente de negócios.
"As estrelas podem voltar a se alinhar para o governo brasileiro." Depois que deixou o BC, em 2007, Azevedo se tornou sócio da Ibiúna Investimentos, que faz a gestão de mais de R$ 6 bilhões.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

O ano começou com expectativa de crescimento da economia de 2,5%. O cenário mudou e hoje a previsão está abaixo de 1%. Como vocês veem esse novo quadro?

Até 2014 e 2015, tínhamos uma presença muito grande do Estado, seja por meio dos gastos diretos - que cresciam a uma taxa média real de 6% nos últimos 15 anos - ou pela expansão do crédito subsidiado. Nesse ambiente, o crescimento dependia muito do Estado e, numa economia de pleno emprego, o setor privado estava mais retraído. Com a crise de 2015 e o ajuste das contas públicas, houve redução desse impulso vindo do Estado. Essa força que empurrava a economia foi retirada, o que abriu espaço para o setor privado entrar.

Mas há ambiente para o setor privado investir?
Essa é a questão. Para o setor privado ocupar esse espaço, é preciso ter confiança. Há algum tempo, as perspectivas estão sendo frustradas. Quando Joaquim Levy entrou no governo (Dilma Rousseff), e (Henrique) Meirelles e Ilan (Goldfajn), no governo de Michel Temer, o mercado ficou animado. Mas o ímpeto foi frustrado. Quando passou o período eleitoral, houve um surto de confiança com a nova agenda do governo, mais favorável ao ambiente de negócio, ao crescimento econômico e à reforma da Previdência. Mas, por uma série de razões associadas à maneira como a política econômica vem sendo implementada e a dependência do Executivo ao Legislativo e ao Judiciário, essa confiança retrocedeu.

É possível recuperar essa confiança?
Hoje há um ceticismo grande sobre a capacidade de o governo entregar uma agenda que é construtiva e muito positiva. O governo vai ter de entregar uma série de medidas para conseguir dar nova perspectiva de menos incerteza no médio prazo. Isso é crucial para o País voltar a crescer.

Este ano está perdido em termos de crescimento?
É possível lançar neste ano as bases de um crescimento expressivo em 2020. Se o governo conseguir aprovar a reforma da Previdência e, em seguida, lançar uma agenda pró-ambiente de negócios, podemos terminar 2019 numa vertente maior de crescimento e entrar em 2020 com uma perspectiva positiva. Se isso for feito, 2019 não será um ano perdido.

Em março, a ideia era que, passando a reforma, viria uma enxurrada de dinheiro para o Brasil. Na sua visão, isso vai ocorrer?
Acho que vem uma parte dos recursos, mas menos do que viria em março. Nesse ponto, há outros fatores importantes.
O mundo está mudando muito rápido e é provável que tenha muito mais liquidez buscando oportunidade de investimento no segundo semestre do que tinha na virada de 2018 para 2019.
No ano passado, o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), que manda na liquidez mundial, falava em subir os juros. Nesse cenário, os investidores vendem tudo e compram dólar. Havia um processo de drenagem de liquidez. Mas houve uma guinada de 180 graus do Fed num prazo muito rápido, não usual. Agora, apenas seis meses depois, estamos discutindo se o Fed vai cortar 0,25 ponto porcentual ou 0,5 ponto na reunião deste mês. É uma mudança muito grande.

Qual é a implicação disso para o Brasil?
Pode sobrar muito dinheiro para o resto do mundo. Mas vai depender da evolução da guerra comercial. Se for uma guerra comercial mais branda e o crescimento global se estabilizar com a ajuda dos bancos centrais, aí podemos ter muita liquidez. Às vezes, ter sorte ajuda. E talvez Paulo Guedes (ministro da Economia) tenha sorte de contar com um mundo que lhe seja menos hostil. Com a reforma da Previdência aprovada, uma nova agenda anunciada em seguida e esse cenário externo, talvez o País seja capaz de reengatilhar o crescimento mais rápido e a gente passe a virada de 2019 para 2020 numa trajetória de crescimento bem mais promissora para o ano que vem. Então, o cenário externo é muito importante. O timing dessa virada é importante.

Mas há a possibilidade de o mundo entrar em recessão?
Sim. Se entrar em recessão, os bancos centrais vão cortar muito mais os juros e, nesse cenário, todo mundo quer dólar. Aí não vai ter dinheiro para o Brasil. Mas se tiver uma guerra comercial branda e o crescimento estabilizar, daí vai haver muita liquidez, que vai buscar oportunidade de investimento. E o Brasil pode se beneficiar. Pode dar errado se o mundo entrar em recessão. Mas as estrelas podem voltar a se alinhar para o governo brasileiro. E aquela oportunidade que foi perdida em março pode ser retomada se a reforma da Previdência for aprovada e o governo for rápido no anúncio e implementação do resto da agenda. .. Leia mais em epocanegocios 09/07/2019

09 julho 2019



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