O risco gerado pela indefinição política - ou, posteriormente, por um governo pouco comprometido com uma agenda econômica de reformas estruturais - poderá levar a uma mudança na forma como o investidor estrangeiro enxerga o Brasil, e o quanto está disposto a pagar para administrar um serviço público ou adquirir uma empresa por aqui. "A variável de incerteza (político-econômica) é um dos principais fatores na definição de preços de ativos", diz o advogado Fernando Alves Meira, líder da área empresarial do escritório de advocacia Pinheiro Neto.
Por enquanto, os indicadores mostram que o "susto" dos estrangeiros com o Brasil está mais no capital especulativo do que nos investimentos de longo prazo. Na Bolsa paulista, a B3, deve ocorrer este ano a primeira fuga de capital estrangeiro desde 2011. Até meados de julho, mais de R$ 9 bilhões de dinheiro externo tinham sido retirados do mercado nacional. No setor produtivo, houve uma desaceleração mais contida.
A expectativa para o investimento estrangeiro direto no País, segundo o Banco Central, é atualmente de US$ 70 bilhões, estabilidade em relação a 2017. Em janeiro, a projeção era de US$ 80 bilhões.
Embora esteja no time dos que acreditam que o receio com a eleição não está deixando empresários apavorados nem interrompendo bruscamente processos de fusão ou aquisição já em andamento, Meira ressalta que, muitas vezes, as crises podem criar oportunidades que não estariam disponíveis em um cenário mais tranquilo. Isso vale tanto para a disponibilidade de determinados ativos quanto para o preço cobrado por eles.
Nos últimos anos, acordos "de oportunidade" surgiram no meio empresarial brasileiro. O Grupo J&F, que precisava se capitalizar para pagar um acordo de leniência, cancelado posteriormente, vendeu diversos ativos no ano passado. Um deles - a fabricante de celulose Eldorado - acabou sendo uma oportunidade para o grupo sino-indonésio Paper Excellence, que investiu R$ 15 bilhões no ativo, ganhar relevância no Brasil.
O mesmo raciocínio pode ser aplicado à Braskem, apesar de ser considerada a "joia da coroa" da Odebrecht, que foi colocada à venda por sua controladora. Envolvida na Operação Lava Jato, com problemas em suas outras divisões e pressionada por vencimentos em seus débitos bancários, o Grupo Odebrecht negocia, atualmente, um acordo bilionário com a holandesa LyondellBasell.
Alívio.
O advogado Carlos Mello, do escritório Souza, Mello e Torres, diz acreditar que, independentemente do resultado da eleição, o volume de negócios voltará a crescer. Ou seja: alguma definição é melhor do que a situação atual. "O investidor estrangeiro que está aqui e conhece o País vai buscar oportunidades", diz. Ele ressalva que, dependendo do resultado das urnas, poderá ser mais ou menos difícil para o Brasil atrair capital que ainda não esteja por aqui. "A verdade é que nenhum dos candidatos empolga. Não existe paixão (do setor produtivo) por qualquer um dos presidenciáveis."
No entanto, Álvaro Bandeira, economista do banco Modal, acredita que o resultado da eleição pode ser pior do que a indefinição atual. Segundo ele, não só a intenção do vencedor em fazer as reformas estruturais e resolver a situação das contas do governo, mas sua capacidade política de levar as mudanças adiante influenciará na economia em 2019. "Para este ano, a situação já está mais ou menos definida: o crescimento será fraco de qualquer maneira", diz. O problema, segundo ele, está em 2019: com um cenário internacional também difícil, guerra comercial e alta de juros nos Estados Unidos, dependendo do caminho político que o País escolher, há risco até de recessão. Estadão Conteúdo Publicado por Terra Leia mais em gsnoticias 29/07/2018
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domingo, julho 29, 2018
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Ruy Moura
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