05 abril 2016

Dívida é herança da crise que abalou resultados de 2015

O endividamento elevado será a "herança maldita" de 2015 para as companhias brasileiras de capital aberto. Num ano em que o lucro das empresas com ações negociadas na bolsa encolheu 29%, a dívida financeira líquida das companhias cresceu 24%, em relação a 2014, superando a cifra do meio trilhão de reais, aos R$ 539 bilhões.

A amostra não considera os dados de Petrobras, Vale e Eletrobras, que pelo gigantismo, distorcem a análise. Com as três companhias, incluindo a petroleira, que é a segunda empresa mais endividada do mundo, a dívida líquida das empresas atingiu R$ 1,1 trilhão, 30% acima dos R$ 822 bilhões no ano anterior.

Apesar de 2016 ter começado com um arrefecimento do dólar, como resultado do agravamento da crise política interna e da indicação dos Estados Unidos de uma alta de juros mais gradual, e com aumento do preços das commodities, a dívida elevada em 2015 deverá ser carregada pelas empresas neste ano. A inadimplência tende a seguir alta, num momento que as empresas contam com menos alternativas de refinanciamento e reduzido fluxo de caixa.

Considerando as duas estatais e a mineradora, a alavancagem total das empresas de capital aberto, medida pela relação entre dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), chegou a 5,1 vezes ao fim de 2015, contra 4 vezes em 2014. Sem as três gigantes, o indicador atingiu 2,6 vezes, alta de 0,4 ponto na base anual.

"Setores com alavancagem maior tiveram impactos mais severos. Tiveram um Ebtida menor para pagar dívida mais cara", observa o estrategista do banco Votorantim, André Parize.

A relação entre dívida e patrimônio líquido das empresas atingiu 90,3% e 72,3%, nas duas bases, em patamares bem acima dos históricos. Em 2010, o indicador estava em cerca de 40%.

O patrimônio líquido das empresas foi afetado em 2015 pela queda no lucro, por conta da redução da atividade econômica, pelo aumento do endividamento, devido à desvalorização do real em relação ao dólar e por baixas contábeis por redução ao valor recuperável dos ativos, o chamado "impairment".

A Petrobras, por exemplo, viu sua dívida líquida em reais atingir R$ 392 bilhões ao fim de 2015, num aumento de 39% em relação a 2014, devido principalmente à valorização do dólar de 47% no ano. A alavancagem (dívida sobre Ebitda) da petroleira chegou a 5,21 vezes, contra 4,77 vezes ao fim do ano anterior.

"Isso ilustra bem o quanto a Petrobras precisa que os preços das commodities voltem para níveis mais altos", afirmaram os analistas do BTG Pactual, em relatório posterior ao balanço.

A Vale anunciou, junto aos resultados anuais, medidas abrangentes para reduzir seu endividamento, dos US$ 25,2 bilhões ao fim de 2015, para US$ 15 bilhões em 18 meses. "Estamos ativamente explorando opções mais agressivas para desalavancagem, incluindo a venda de ativos 'core' [essenciais]", anunciou o presidente da Vale, Murilo Ferreira.

Segundo o BTG Pactual, uma dívida na casa de US$ 15 bilhões reduziria a alavancagem da Vale abaixo de 3 vezes, considerando que o preço do minério fique acima de US$ 40 a tonelada.

Nesse cenário de deterioração do perfil de liquidez, e com o aumento do risco Brasil, após a perda do grau de investimento, as companhias terão em 2016 que renegociar dívidas num ambiente de escassez de crédito.

"Os segmentos corporativo e de pequenas e médias empresas (PMEs) enfrentam menor geração de caixa e aumento do custo de captação, tanto no mercado doméstico como no exterior e poderão ter maiores dificuldades de financiamento", escreveu a Fitch Ratings, em relatório recente.

A agência de classificação de risco estima que o crescimento do crédito no Brasil deve permanecer baixo em 2016, "devido às severas condições econômicas, à modesta demanda por crédito e ao baixo apetite por risco dos bancos", conforme o relatório.

Diante dessa realidade, as altamente endividadas Oi e Gol anunciaram a contratação da consultoria americana PJT Partners para assessorar na reestruturação financeira das empresas.

Com estrutura de capital considerada "insustentável" pela agência Moody's, a companhia aérea de Constantino de Oliveira Jr. tenta evitar a recuperação judicial, reduzindo operações e renegociando dívidas - que totalizavam R$ 9,3 bilhões ao fim de dezembro. A Gol descartou a injeção de recursos por acionistas, apesar de ter fechado 2015 com patrimônio negativo em R$ 4,3 bilhões e relação dívida sobre Ebitda acima de 11 vezes.

Já a operadora de telefonia, em apuros financeiros agravados depois da frustrada tentativa de fusão com a TIM, faz parte do time de empresas que descumpriram cláusulas de dívidas, tendo que negociar acordo com credores para evitar o vencimento antecipado de títulos. Usiminas, JHSF e Copasa também estão no grupo dos que tiveram que obter o perdão de seus credores.

Para conceder o "waiver", porém, os credores estão cobrando prêmios cada vez maiores, frente à maior percepção de risco. Junto com o prêmio, também têm exigido garantias adicionais para a manutenção das dívidas.

"A rolagem de dívida nesse ambiente em que estamos é cada vez mais cara", diz o estrategista do Itaú BBA, Lucas Tambellini.

Último recurso das empresas, a recuperação judicial tem se tornado cada vez mais frequente. No primeiro bimestre deste ano, os pedidos de proteção legal contra credores mais do que dobraram, em alta de 116%, de acordo com dados da Serasa Experian.

Em outubro do ano passado, a gestora de investimentos em empresas tecnologia Ideiasnet anunciou a entrada em recuperação judicial da Officer, maior distribuidora de produtos de informática do país. Valor Econômico - Leia mais em abinee 04/04/2016

05 abril 2016



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